Correio de Carajás

Caminhoneiros “confinados” em Marabá temem contrair Covid-19 na base da Raízen

Eles somam mais de uma centena. Todos os dias chegam mais. Vêm de várias partes do País para trazer combustível para um terminal de distribuição regional localizado no Distrito Industrial de Marabá. E, agora, com o anúncio do primeiro caso de coronavírus nesta cidade, eles também estão temerosos e passaram a pressionar a empresa Raízen, responsável pelo Centro de Distribuição de Combustíveis da Shell, para que ofereça condições de higiene adequadas para os condutores.

A Reportagem do CORREIO conversou na tarde desta terça-feira, 24, com vários dos caminhoneiros, que estavam revoltados com vários itens. Um deles é o fato de ter no local apenas um banheiro (masculino), embora haja mulheres motoristas de caminhões também, que acabam sendo obrigadas a usar o local, dividindo espaço com os homens.

Foi o que contou o motorista Carlos Lindemberg, de Divinópolis, Minas Gerais, mas que trouxe carga de gasolina do Tocantins para cá. “Aqui, deveriam colocar álcool gel pra gente. Os banheiros não têm sabão. Quando reclamamos com a gerência local da empresa, não somos ouvidos. Algo precisa ser feito porque os caminhoneiros também são seres humanos, têm famílias e precisam voltar para suas casas com saúde”, desabafou Carlos.

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José Ricardo Macedo, outro que conversou com a Reportagem do CORREIO, disse que sua saúde está em risco e que no local um motorista fica à espera para descarregar entre 6 a 12 dias. “Há mais de 100 caminhões estacionados aqui de uma só vez. Em vários lugares percebemos que há aglomeração de pessoas, principalmente nos banheiros, e isso é perigoso. É preciso que seja realizado um trabalho educativo, mas também devem oferecer produtos para evitar a contaminação dessa doença, que mata”, sugere.

Robson Azevedo, outro motorista ouvido pela Reportagem, avalia que nas próximas semanas o fluxo de caminhões não diminua, já que os pedidos de entrega continuam em ritmo alto e devem se manter assim, ainda que a crise causada pela pandemia se estenda por mais alguns meses. “Estamos apavorados e as pessoas que nos encontram na estrada também. Precisamos de um local seguro para descanso e higiene. Aqui na Raízen de Marabá, a gente não encontra”, sustentou.

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Banheiro só tem sabão se os motoristas levarem. Empresa não disponibiliza, segundo os caminhoneiros. O feminino? Não existe.

A base da Raízen em Marabá opera com uma conexão ferroviária da Estrada de Ferro Carajás, tendo capacidade de movimentação de até 500 milhões de litros por ano dos produtos da marca Shell. O centro de distribuição recebe derivados de São Luís via modal ferroviário da VLI e biocombustíveis das regiões produtoras através do modal rodoviário.

É neste último que entram os caminhoneiros que estão revoltados com a empresa neste momento. Eles chegam e saem daqui pelas rodovias BR-222, BR-230 (Transamazônica) BR-155 e PA-150.

A Reportagem do CORREIO enviou e-mail para a Assessoria de Imprensa da Raízen, que por volta das 22 horas desta terça-feira enviou a seguinte nota:

“A companhia está tomando diversas medidas para que as operações continuem oferecendo segurança aos seus parceiros e funcionários, ao mesmo tempo em que garantem o seu funcionamento. A empresa adota e dissemina as orientações do Ministério da Saúde para evitar o contágio do Coronavírus em todas as operações da companhia, como por exemplo o distanciamento entre as pessoas e evitar aglomerações.

Estamos realizando a medição de temperatura de todas as pessoas que acessam as nossas instalações. Caso a pessoa apresente algum sintoma, ela recebe orientações de saúde para que procure o atendimento de uma equipe médica imediatamente.

Informamos ainda que a limpeza de todos os ambientes, inclusive banheiros, também está sendo feita de maneira ainda mais frequente, além de disponibilizarmos álcool em gel para assepsia. Para as motoristas mulheres, é de praxe oferecemos sempre o banheiro dentro do escritório administrativo para uso. (Ulisses Pompeu)

Atualizada às 22h22 de terça-feira, dia 24 de março de 2020