A delegada Ana Carolina Abreu, titular da Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam), deu mais detalhes nesta sexta-feira (10), sobre as investigações do caso da criança Carla Emanuelly Miranda Correia, que foi estuprada e morta em Parauapebas. Segundo a delegada, que conduz as investigações, a criança vivia uma rotina de terror, sendo espancada diariamente e provavelmente também estuprada pelo padrasto, Deyvyd Renato Oliveira Brito, com o consentimento ou também participação da mãe, Irislene da Silva Miranda.
A polícia agora tenta saber se essa tortura, seguida de violência sexual, fazia parte de ritual satânico praticado pelo padrasto e pela mãe do bebê ou se a prática era só sadismo do casal, definido pela delegada Ana Carolina como psicopata. “Nós ouvimos novas testemunhas e essas testemunhas confirmaram o que a gente já vinha suspeitando, que essa criança era agredida diariamente e provavelmente também violentada sexualmente, porque o laudo médico apontou lesões antigas e recentes no ânus e vagina da criança”, destacou a delegada.
Leia mais:De acordo com Ana Carolina, os vizinhos relataram que todos os dias a criança aparecia com novos ferimentos e hematomas pelo corpo e o casal sempre dava a mesma desculpa, dizendo que a menina tinha caído da cama. “Os vizinhos relataram também que a criança era obrigada a participar dos rituais macabros e, que inclusive, foi vista de madrugada sendo levada por eles para uma mata, junto com uma sacola preta. Esses vizinhos ainda seguiram o casal por um tempo, mas ficaram com medo e voltaram. Os vizinhos disseram que tinham medo do casal”, detalhou.
Ainda de acordo com a delegada, as testemunhas relataram que a criança era muito assustada e tinha pavor do padrasto. “Eles disseram [vizinhos] que toda vez que ele se dirigia a criança, ela se encolhia e ficava introspectiva, demonstrando ter pavor dele”, relata.
Quanto à materialidade do crime, a delegada disse que não há dúvida da participação do casal. “Os laudos de necropsia atestaram que a criança morreu de traumatismo crânio-encefálico, por pancadas que recebeu. Hoje mesmo [sexta-feira] a perita do IML nos relatou que ao fazer a necropsia encontrou novas lesões que não estavam aparentes do corpo dela. Os exames de necropsia também comprovaram que a bebê era estuprada por copula anal e com introdução, provavelmente pelo dedo, na vagina”, descreve.
Ana Carlina observa que agora estão coletando dados para fechar sobre a motivação que levava o casal a espancar a criança diariamente. “Estamos coletando provas para saber se eles ofertavam essa criança nos rituais religiosos que praticavam e por que batiam tanto em um bebê de apenas um ano e oito meses”, frisa a delegada, detalhando que também estão apurando por que a mãe permitia essa agressão e se ela também participava das cenas macabras e de tortura do bebê.
Vida pregressa
A delegada informou que na manhã de ontem recebeu mais detalhes sobre a vida pregressa de Deyvyd em Icoaraci, região Metropolitana de Belém, de onde veio foragido. “A informação é que lá ele também estuprou uma criança dentro do local onde ele realizava rituais religiosos. Irislene ficou sabendo do crime e, ainda assim, fugiu com ele para Parauapebas. Então ela não pode negar que não tinha conhecimento da vida pregressa do companheiro”, enfatizou a titular da Deam, observando que Irislene era a dona dessa casa de rituais religiosos na Vila Sorriso, como é conhecido Icoaraci.
Inclusive hoje será dado cumprimento ao mandado de prisão contra ele, que está custodiado no presídio de Parauapebas, por esse crime de Icoaraci. Depois desse crime, ele e Irislene fugiram para Parauapebas, onde estavam há quatro meses, e seguiram praticando os rituais macabro, com a acusada envolvendo a própria filha.
Crime chocou até mesmo os investigadores
O caso que chocou a sociedade e causou repulsa até na equipe de investigação, pela barbaridade contra uma criança de apenas um ano e oito meses, aconteceu na última terça-feira, 7. A criança foi levada já em estado grave para o Hospital Municipal de Parauapebas pelos próprios acusados e morreu na tarde de quarta-feira, 8.
Para a equipe médica, a mãe disse que a criança tinha caído da cama e batido a cabeça e, depois de algum tempo, passou mal e desfaleceu. Mas essa versão logo caiu por terra, quando o bebê foi examinado por uma enfermeira, na Sala Vermelha, onde são atendidos os casos mais graves.
Ao retirar a fralda da criança, a enfermeira observou que a menina tinha lesões na vagina e ânus, característicos de estupro. A Polícia Militar foi acionada e, diante dos policiais, ela admitiu que a criança tinha sido abusada sexualmente pelo padrasto enquanto ela foi comprar carne em um açougue.
Diante das provas, os dois receberam voz de prisão. Depois, com o início das investigações, o cenário de terror vivido diariamente pela inocente criança foi sendo desvendado. De acordo com a delegada, essa versão dela, que foi no açougue, também é mentirosa.
Vizinhos confirmaram que ela não saiu de casa no horário que falou, assim como as câmeras do circuito interno do açougue onde ela disse que foi mostram que Irislene nunca esteve lá. “Nós analisamos as imagens das câmeras, de 9 às 14h20, que foi o horário que a criança deu entrada no hospital, e não há presença dela no açougue. Isso significa que ela estava presente quando a criança foi espancada e estuprada pelo padrasto, o que torna esse crime ainda mais horrendo”, diz a delegada.
Na coleta de provas feitas na casa, os policiais encontraram no varal uma calcinha da criança suja de sangue recente na região anal, assim como havia marcas de sangue no virol da cama e no colchão. Também na casa havia um local onde eram realizados rituais, que a delegada disse não saber de qual religião.
“Devido a esse fato, temos essa linha de investigação que a criança também era ofertada em rituais religiosos, o que torna esse caso ainda mais escabroso”, ressalta.
Irsilene, que foi indiciada até agora como coautora do feminicídio da própria filha, será transferida hoje para a carceragem feminina de Marabá. Ana Carolina diz que não há dúvidas que ela participou da morte bárbara da filha. Quanto a Dayvyd, as investigações também seguem sobre o caso de Icoaraci.
Na casa onde morava foram encontrados ossos humanos, que ele já deu diversas versões sobre o caso e, também, segundo o que ainda está sendo apurado, teria sido encontrado um crânio humano dentro do frízer.
“Nós estamos seguindo com as investigações aqui e também aguardando mais detalhes sobre o caso de Icoaraci”, informou Ana Carolina, ressaltando que até agora, sobre o caso de Parauapebas, Dayvyd não falou nada.
Criança vivia na “casa do terror”
Na manhã de ontem, a equipe de reportagem do Jornal Correio esteve na casa dos acusados, na Rua Axixá, Bairro Liberdade II, onde registrou o local onde eram realizados os rituais religioso. Há imagens de entidades do candomblé e vasilhas com restos de oferendas dos ritos que o casal realizava.
Um vizinho detalhou os momentos de socorro da criança, dizendo que a mãe parecia aflita, mas o padrasto estava frio e ainda teria relutado em levar a menina, mesmo estando desmaiada, para o hospital. Esse vizinho, também disse que Dayvyd pediu a ele álcool, alegando que era para reanimar a criança, mas ele acredita, após todo o caso macabro vir à tona, que talvez ele tencionasse queimar o corpo da menina.
“Ele me pediu álcool e eu disse que não tinha, aí ele falou que a menina tinha caído da cama e estava desmaiada. Eu fui até a casa e vi a menina em cima da cama. Depois de um tempo os convenci a levar a criança para o hospital”, relata o vizinho, acrescentando que sabia que Dayvyd fazia rituais de macumba na casa, mas não imagina que ele estuprava a enteada.
“Foi um choque para todos nós, vizinhos, saber que ele fazia isso com a criança e que foi o responsável pela morte dela”, frisou o vizinho, dizendo que o casal sempre costuma iniciar seus rituais por volta de 18 horas e que a criança ficava lá com eles, porque ela nunca era vista fora da casa.
(Tina Santos com informações de Ronaldo Modesto)