A Pastoral da Aids realiza campanha para arrecadar leite em pó para crianças assistidas pelo projeto no Centro de Testagem e Aconselhamento (CTA). Cerca de 30 a 35 crianças recebem tratamento atualmente, com faixa etária de 0 a 11 anos, cada criança recebe cinco latas por mês.
A coordenadora do projeto, Ana Lúcia de Sousa Silva, explica que a Campanha Solidária “Mais Leite, Mais Saúde, Igual a Viver Melhor” é permanente, devido ao número de famílias que não podem comprar o alimento, sendo muitas vezes o único produto com o qual contam para o consumo dos pequenos. As doações podem ser entregues nas Paroquias São Sebastião, São Francisco, Cristo Rei ou na sede do CTA, localizada na Rua P, N° 38.
A coordenadora explica que o leite doado precisa ser da marca Ninho. “Dos leites de prateleira, de supermercado, é o que tem mais nutrientes, porque a criança em tratamento já tem a imunidade mais baixa, porque o vírus vai consumindo as células de defesa, então a criança com HIV pega gripe muito fácil, ela perde peso muito fácil, então se ela não tem uma alimentação adequada adoece muito rapidamente, aí uma gripe pode virar uma pneumonia, e a pneumonia pode matar, então esse leite vem para suprir uma carência de nutrientes que essa criança tem”.
Leia mais:De forma anônima, em depoimento à TV Correio de Carajás, o pai de duas crianças, sendo que uma delas, de 5 anos, tem o vírus da Aids, conta que a descoberta ocorreu no nascimento da criança. “Foi na hora do parto, a hora que a mãe dele entrou em trabalhou de parto e foi fazer o exame deu soropositivo. Para ele (filho) já era tarde demais, porque não tinha feito o tratamento durante o pré-natal”, relatou.
Ele é pai solteiro, cria os filhos após a separação, e conta que teve momentos de não ter nada para comerem. “Nesses anos de vida que ele tem, já chegou mês que só tinha o leite. Desejo o melhor, lutar para que ele possa viver melhor, o vírus diminui muito a imunidade, então é difícil saber se a criança amanhã vai amanhecer doente ou não. A gente luta bastante, faz acompanhamento direto”, diz.
A coordenadora, Ana Lúcia, conta que o exemplo do pai não ser soropositivo e ter o filho com o vírus não é isolado. “Às vezes só o pai ou só a mãe tem, mas há casos que os dois têm (vírus)”. Ana Lúcia conta que é preciso haver o despertar dos pais para fazer os exames em si e, em caso de positivo, realizar nos filhos, para que eles recebam o tratamento adequado.
Ela relata que a maior parte das famílias assistidas ainda prefere manter o segredo em relação aos casos com as pessoas do ciclo de convivência. “Os pais prezam muito pelo sigilo dos filhos, tanto que quando a gente faz o encontro das crianças muita gente quer ir, mas optamos por não, porque os pais ficam com receio”, descreve Ana Lúcia.
Um grupo intitulado de grupo de revelação foi criado para orientar os pais no período de início da adolescência. “Tem crianças que estão entrando na adolescência e que não sabem que têm o vírus, que estão começando a ter o interesse pelo namoro. E ela precisa saber para se precaver e informar o companheiro ou companheira”, destaca Ana Lúcia.
O grupo de voluntários que atua neste sentido, a Pastoral da Aids é um serviço da igreja católica. “A igreja vendo a necessidade de intervir mais firmemente sobre essa questão, devido muitas pessoas estarem vivendo com HIV, de colocar um serviço à disposição da população e ao mesmo tempo fazer um trabalho de prevenção, com isso foi criado em 2002 no Brasil a Pastoral da Aids, com sede em Porto Alegre e foi se estendendo para vários estados, hoje existe em quase 70% dos estados brasileiros”, relembra Ana Lúcia.
Em Parauapebas, o projeto funciona desde 2015 quando a coordenadora foi convidada a um evento da CNBB para falar sobre o assunto em Belém. “Devido já estar trabalhando na área, já voltei da reunião com a missão da igreja de implantar o serviço na Diocese, que tem sede em Marabá, coordenada pelo bispo Dom Vital”.
Ao todo 15 pessoas se uniram ao projeto voluntário, onde atuam em um trabalho também de prevenção junto à população, com formação de rodas de conversas, ações educativas, panfletagem, blitz no carnaval, palestras em escolas e nas empresas.
O início da Campanha em Parauapebas foi em 2017. “Trouxemos esta campanha para dar atenção às crianças que vivem com HIV e ela já existia com os meninos LGBT, um grupo de amigos chamados “Amigos para Sempre” fazia esta campanha, fazia feijoada e o ingresso era uma lata de leite, então eles pegavam este leite e levavam para as crianças (com o vírus). Quando nós nos juntamos aí a campanha cresceu porque nós levamos para a mídia e arrecadamos quase duas mil latas de leite em 2017”, relata a coordenadora.
Neste ano a campanha voltou a ser divulgada pela mídia porquê o estoque de leite diminuiu, o que já surtiu efeito, pois uma empresa da cidade arrecadou mil latas de leite em pó que serão entregues neste sábado ao CTA. (Theíza Cristhine)