“Sei que é difícil falar isso, mas se tiverem vendo esse vídeo aqui provavelmente não vou estar mais aqui”. É assim que Raimundo Santos Cabral, o Kim Brown, inicia um vídeo gravado – ao que tudo indica – pouco antes de atirar contra Rafael Torelli e Ricardo Farias da Silva, o “Quaresma”, e em seguida atirar contra a própria cabeça, na última sexta-feira (9), em Marabá.
Acusado de roubo em uma casa de poker que atua por aplicativo, localizada na Avenida 2000, Bairro Novo Horizonte, Núcleo Cidade Nova, ele havia sido desligado da empresa e planejou a vingança que acabou em três mortes. O vídeo foi divulgado na conta da usuária do Facebook Vanessinha Miranda, na noite passada. Ela afirma que este foi o último pedido de ‘Kinzinho’ e que se trata de toda a verdade.
No longo desabafo, em mais de 10 minutos de vídeo, Kim Brown explica ter montado o clube junto de Rafael e, à época, este ofereceu para 25% do lucro para ele. O negócio, entretanto, teria começou a crescer rapidamente e, segundo Kim, ‘muita grana’ começou a ser movimentada. Afirma que em uma semana lucrou R$ 16 mil e nesse momento Rafael pediu para que mantivessem dinheiro em caixa e, portanto, baixassem o salário de Kim para R$ 3 mil fixos por semana.
Leia mais:Kim diz ter questionado, mas aceitado ‘por ser um cara bacana’. A partir disso, afirma, foram montados outros clubes e nada do acordo ser modificado. Para Kim, a única coisa que Rafael fez por ele depois disso foi ajudá-lo a comprar um carro. “Não comprou um carro pra mim. Foi me ajudar a comprar um carro que dei a entrada e ele pagou as parcelas, está pagando, até agora pagou cinco parcelas. Rafael é um cara que sempre tirei o chapéu, mas p negócio foi crescendo e ele foi me deixando para trás”, declara.
Ainda no vídeo, Kim diz que atualmente muita gente vinha ganhando dinheiro com o negócio, inclusive Rafael, e que se o acordo inicial tivesse sido mantido estaria recebendo até R$ 20 mil semanais. Neste ponto da gravação, Kim Brown passa a acusar outras pessoas de ‘meterem a mão’ no dinheiro do clube, inclusive citando uma delas nominalmente. O Correio de Carajás optou por suprimir esses trechos do vídeo enquanto tenta localizar a pessoa citada para que possa se posicionar a respeito das declarações.
VINGANÇA
No desabafo, Kim Brown declara que desde o domingo anterior, dia 11, vinha pensando em se vingar por ter sido desligado sem ter recebido nada e de forma injusta da empresa, conforme a versão apresentada por ele. Declara ter imaginado que Rafael o procuraria para conversar, mas que este ‘acreditou’ nos ‘caras’, citando neste momento a segunda vítima: “Quaresma”, o Ricardo Farias da Silva.
“Um cara que a gente ajudou pra caramba pra entrar lá e é outro que acha que queimando as pessoas vai conseguir ser promovido. O cara é muito comédia, todo mundo ajudando o cara, ele entrou agora e já chega queimando todo mundo, mas assim é a vida e essa frescura acaba daqui a pouco. Mexeram com quem não deveria mexer, sempre fui um cara bacana, sempre fui contra violência, todo mundo sabe disso, mas eu vou pra cima porque não aceito esse tipo de sacanagem que fizeram comigo”, afirma, antecipando que cometeria o ato violento.
DESLIGAMENTO
Pelo que foi apresentado por Kim Brow na gravação, dá a entender que o desentendimento que resultou no desligamento dele se deu por conta de um comprovante no valor de R$ 300 que ele teria compartilhado erradamente.
“E acham que eu tava roubando ele, o que são R$ 300 para os salário que eu ganho? Eu ganho bem, meu salário é muito mais que o salário de um médico, mas fiz por merecer porque comecei isso com ele”, diz, repetindo novamente que o dinheiro que entrava era alto e de forma legalizada.
Em outro trecho diz acreditar que ao descobrir que determinado caixa não era conferido passou a questionar a situação e, por isso, já havia planos de tirá-lo do negócio. “Me tiraram do clube. Rafael me bloqueou. Quaresma começou a falar um bocado de merda pro Rafael (…)”.
Kim Brown encerra o vídeo reforçando mais uma vez que consumaria a vingança planejada. “Sempre fui um cara da paz, mas sempre falava ‘mano, não bate na porta do diabo porque um dia tu vai ser atendido’ e bateram. Vamo pra cima, pai, vamo pra cima que o bagulho vai enlouquecer”, finaliza.
MORTES
Kim Brown e “Quaresma” morreram ainda no local onde os tiros foram efetuados. Rafael, proprietário do estabelecimento, foi socorrido e encaminhado em estado grave para atendimento médico, mas morreu pouco tempo depois em uma clínica particular. Além de empresário, ele era servidor do Tribunal Regional Federal (TRT-8).
“Kim Brown” caiu próximo da arma utilizada no crime, que foi apreendida pela Polícia Militar e entregue ao Departamento de Homicídios da Polícia Civil, que investiga o caso. Procurado na manhã de hoje, quarta-feira (14), o delegado responsável pelo inquérito, Toni Vargas, informou que o conteúdo do vídeo será degravado e será anexado ao procedimento instaurado. Acrescentou ainda não ter inquirido as testemunhas porque estas são envolvidas com as vítimas e ainda não estão em condições emocionais para prestar esclarecimentos. (Luciana Marschall – com informações de Chagas Filho)