Correio de Carajás

União para combater a violência

Na próxima quarta-feira (22), no auditório da Secretaria de Assistência Social da Prefeitura (Seasp), acontece um café da manhã, promovido por entidades que atuam na defesa dos direitos da mulher, que vão apresentar para a Imprensa e para a comunidade o fluxograma das ações que serão realizadas a partir do Dia Internacional de Não-Violência contra a mulher, que é lembrado em 25 de novembro. No caso de Marabá, o que falta é uma articulação entre as várias entidades que já trabalham o tema.

A informação foi repassada por uma comissão formada por Júlia Rosa Veloso, presidente do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher (Condim); assistente social Katia Rosa, representante da Associação da Mulher de Marabá (Amma); Socorro Waladares, secretária executiva do Condim; Zípora Rodrigues Pereira, técnica da Seasp; e Claudia Cilene Araújo, conselheira do Condim.

Elas destacaram que é de suam importância discutir estratégias para a não-violência contra a mulher, pois em Marabá, os números de feminicídio têm crescido nos últimos meses, além do índice elevado de outros tipos de violência.

Leia mais:

A comissão observou que vários são os atores que trabalham com o tema, tanto do município, quanto do Estado e existem ainda as ONGs, mas ocorre que, apesar do esforço de cada entidade, as ações não estão em diálogo permanente, de modo que esse trabalho não tem tanto fôlego, justamente por falta dessa integração.

Elas citam como exemplo o fato de que muitas vezes uma mulher dá entrada num hospital da cidade com algum trauma que pode ter sido causado por um companheiro agressor, mas geralmente não existe uma política nas casas de saúde que seja capas de identificar a origem dessa violência. Além disso, a própria vítima acaba não expondo o que fato ocorreu. Isso impede que essa violência seja registrada e se tenha um número mais aproximado do real.

Diante desse quadro, elas entendem que têm dois desafios pela frente: o primeiro e mais urgente é exatamente articular os atores – sejam estatais ou da sociedade civil – que atuam no enfrentamento da violência; e o segundo é fazer com que isso se torne uma política permanente.

Violência gritante

A preocupação delas faz todo o sentido, pois enquanto essa luta está fragmentada, os índices de violência só aumentam e falta uma articulação que seja capaz de dar empoderamento à mulher, de forma estrutural, para que a mulher consiga identificar a violência até mesmo dentro de casa. O último levantamento feito pelo Disque Denúncia revela que na região de Marabá, 85% das denúncias por violência contra a mulher apontam que o crime acontece dentro da residência da vítima e, ainda mais grave, em 100% destes casos é cometido pelo companheiro dela.

Ainda segundo o levantamento, os agressores são maridos, namorados ou parte de relacionamentos já encerrados. Metade das vítimas tem filhos que muitas vezes presenciam as agressões. A comissão de mulher que esteve na redação do Jornal Correio chamou atenção para este fato, pois os filhos que presenciam essa violência toda podem ter sequelas na sua formação.

A maior parte da violência é física (90% dos casos), mas também acontece de forma verbal (50%), por meio de ameaças de morte (15%), por cárcere privado (5%) e até sexual (5%). São casos que tendem a se agravar, até chegar a casos de feminicídio.

Dos Bairros mais denunciados, a Nova Marabá, lidera o ranking com 23% das denúncias. Em seguida aparece um bairro consideravelmente novo, o Cidade Jardim, com 22% do total de chamadas, seguido de São Félix I, Santa Rosa, Murumuru, Km 7 e Bela Vista, cada um com 11%.

Em geral – explicam – as vítimas de violência doméstica são mulheres de baixa renda, pouca instrução e também negras. Por isso, a comissão de mulheres entende que o empoderamento da mulher passa não apenas por se conscientizar sobre seus direitos, mas também por ter uma profissão.

Segundo elas, em muitos casos a mulher engravida muito cedo, perde a adolescência, acaba tendo vários filhos e desenvolvendo uma dependência afetiva e também emocional do parceiro violento. Tudo isso contribui um campo onde a mulher fica presa e dificilmente consegue sair.

Violência no Pará, no Brasil e no mundo

Em 2016, a Central de Atendimento à Mulher, da Secretaria Nacional de Políticas para as Mulheres (SPM), registrou em todo o país mais de um milhão de atendimentos, 1.133.345 ao todo. O número foi 51% superior ao ano anterior, 2015, quando foram registrados quase 750 mil.

A lei de combate à violência doméstica contra a mulher foi batizada com o nome de Maria da Penha por conta do caso de uma farmacêutica que sofreu duas tentativas de homicídio praticadas pelo companheiro e permaneceu paraplégica em decorrência do crime.

As mulheres estão morrendo mais no Estado do Pará. Os dados presentes no 11º Anuário Brasileiro de Segurança Pública, realizado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública e uma das principais fontes de dados do setor no país, divulgado ontem (segunda), apontam crescimento nos índices relativos a elas entre 2015 e 2016. O estado atinge a quarta colocação dentre os que registraram maiores aumentos no país.

No primeiro ano registrou-se, segundo o levantamento, 230 mortes desta natureza, enquanto no ano seguinte foram mais 277. Dentre estes casos, houve aumento também dos casos de feminicídios, uma qualificadora para homicídio motivado por questões de gênero, como violência doméstica, por exemplo. Dentre os assassinatos de mulheres, 24 foram consideradas feminicídios em 2015. No ano seguinte esse número saltou para 43. A proporção de feminicídios em relação aos crimes violentos letais intencionais de mulheres foi de 15,5% em 2016, contra 10,4% no ano anterior.

No Pará há 16 delegacias especializadas no atendimento à mulher e o estudo avaliou também a opinião dos profissionais que atuam nestas unidades. Quando questionados se acreditam que a delegacia na qual trabalham é suficiente ou insuficiente para atender à demanda da população local, a nota foi 4 para suficiente e 8 para insuficiente.

Também se registrou aumento nos casos de estupro consumados. Foram 2.751 em 2015 e 3.002 em 2016, uma variação de 7,8%. As tentativas apresentaram queda, de 177 para 176, apenas 1,7%.

Em termos de Estado, os números também são alarmantes: mais de 3.200 casos de lesão corporal e violência doméstica foram registrados em 2016 pela Polícia Civil, no Pará. Em relação aos feminicídios, foram 37 ocorrências registradas, sendo 9 delas tentativas.

Além disso, desde que a Lei Maria da Penha entrou em vigor, tem crescido, no país, o número de medidas protetivas de urgência às vítimas de violência doméstica. Mas muitas mulheres ainda não têm noção da importância dessa proteção.

A medida protetiva está prevista na Lei Maria da Penha para afastar a mulher do agressor e romper o ciclo de violência. O juiz pode determinar uma distância mínima e proibir o contato até com a família da vítima. Cada vez mais mulheres tem buscado esse tipo de proteção no Brasil: o número cresceu 10% entre 2014 e 2015.

De acordo com o Tribunal de Justiça do Pará, o estado é o terceiro com maior número de medidas protetivas à violência contra a mulher. Com mais de 1.400 medidas que incluem afastamento do lar conjugal, certa distância do companheiro, proibição na convivência com os filhos e até a prisão nos casos mais graves, entre outros. Ainda segundo o TJ, ao todo, 9.920 processos estão na Justiça.

No mundo

De acordo com informações da ONG Action Aid, a violência doméstica é responsável pela morte de cinco mulheres por hora no mundo. A informação é resultado de análise do estudo global de crimes das Nações Unidas e indica um número estimado de 119 mulheres assassinadas diariamente por um parceiro ou parente.

Segundo projeções feitas pela ActionAid, mais de 500 mil mulheres serão mortas por seus parceiros ou familiares até 2030. O documento faz um apelo a governos, doadores e à comunidade internacional para que se unam a fim de dar prioridade a ações que preservem os diretos das mulheres. O estudo considera dados levantados em 70 países e revela que, apesar de diversas campanhas pelo mundo, a violência ou a ameaça dela ainda é uma realidade diária para milhões de mulheres. (Luciana Marschall, com informações da Agência Brasil)

 

Saiba Mais

No dia 25 de novembro de 1960, as irmãs Pátria, Minerva e Maria Teresa, conhecidas como “Las Mariposas”, foram brutalmente assassinadas pelo ditador Rafael Leônidas Trujillo, da República Dominicana. As três combatiam fortemente aquela ditadura e pagaram com a própria vida. Em 1999, a Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas instituiu 25 de novembro como o Dia Internacional da Não-Violência Contra a Mulher, em homenagem às “Mariposas”. (Chagas Filho)

Na próxima quarta-feira (22), no auditório da Secretaria de Assistência Social da Prefeitura (Seasp), acontece um café da manhã, promovido por entidades que atuam na defesa dos direitos da mulher, que vão apresentar para a Imprensa e para a comunidade o fluxograma das ações que serão realizadas a partir do Dia Internacional de Não-Violência contra a mulher, que é lembrado em 25 de novembro. No caso de Marabá, o que falta é uma articulação entre as várias entidades que já trabalham o tema.

A informação foi repassada por uma comissão formada por Júlia Rosa Veloso, presidente do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher (Condim); assistente social Katia Rosa, representante da Associação da Mulher de Marabá (Amma); Socorro Waladares, secretária executiva do Condim; Zípora Rodrigues Pereira, técnica da Seasp; e Claudia Cilene Araújo, conselheira do Condim.

Elas destacaram que é de suam importância discutir estratégias para a não-violência contra a mulher, pois em Marabá, os números de feminicídio têm crescido nos últimos meses, além do índice elevado de outros tipos de violência.

A comissão observou que vários são os atores que trabalham com o tema, tanto do município, quanto do Estado e existem ainda as ONGs, mas ocorre que, apesar do esforço de cada entidade, as ações não estão em diálogo permanente, de modo que esse trabalho não tem tanto fôlego, justamente por falta dessa integração.

Elas citam como exemplo o fato de que muitas vezes uma mulher dá entrada num hospital da cidade com algum trauma que pode ter sido causado por um companheiro agressor, mas geralmente não existe uma política nas casas de saúde que seja capas de identificar a origem dessa violência. Além disso, a própria vítima acaba não expondo o que fato ocorreu. Isso impede que essa violência seja registrada e se tenha um número mais aproximado do real.

Diante desse quadro, elas entendem que têm dois desafios pela frente: o primeiro e mais urgente é exatamente articular os atores – sejam estatais ou da sociedade civil – que atuam no enfrentamento da violência; e o segundo é fazer com que isso se torne uma política permanente.

Violência gritante

A preocupação delas faz todo o sentido, pois enquanto essa luta está fragmentada, os índices de violência só aumentam e falta uma articulação que seja capaz de dar empoderamento à mulher, de forma estrutural, para que a mulher consiga identificar a violência até mesmo dentro de casa. O último levantamento feito pelo Disque Denúncia revela que na região de Marabá, 85% das denúncias por violência contra a mulher apontam que o crime acontece dentro da residência da vítima e, ainda mais grave, em 100% destes casos é cometido pelo companheiro dela.

Ainda segundo o levantamento, os agressores são maridos, namorados ou parte de relacionamentos já encerrados. Metade das vítimas tem filhos que muitas vezes presenciam as agressões. A comissão de mulher que esteve na redação do Jornal Correio chamou atenção para este fato, pois os filhos que presenciam essa violência toda podem ter sequelas na sua formação.

A maior parte da violência é física (90% dos casos), mas também acontece de forma verbal (50%), por meio de ameaças de morte (15%), por cárcere privado (5%) e até sexual (5%). São casos que tendem a se agravar, até chegar a casos de feminicídio.

Dos Bairros mais denunciados, a Nova Marabá, lidera o ranking com 23% das denúncias. Em seguida aparece um bairro consideravelmente novo, o Cidade Jardim, com 22% do total de chamadas, seguido de São Félix I, Santa Rosa, Murumuru, Km 7 e Bela Vista, cada um com 11%.

Em geral – explicam – as vítimas de violência doméstica são mulheres de baixa renda, pouca instrução e também negras. Por isso, a comissão de mulheres entende que o empoderamento da mulher passa não apenas por se conscientizar sobre seus direitos, mas também por ter uma profissão.

Segundo elas, em muitos casos a mulher engravida muito cedo, perde a adolescência, acaba tendo vários filhos e desenvolvendo uma dependência afetiva e também emocional do parceiro violento. Tudo isso contribui um campo onde a mulher fica presa e dificilmente consegue sair.

Violência no Pará, no Brasil e no mundo

Em 2016, a Central de Atendimento à Mulher, da Secretaria Nacional de Políticas para as Mulheres (SPM), registrou em todo o país mais de um milhão de atendimentos, 1.133.345 ao todo. O número foi 51% superior ao ano anterior, 2015, quando foram registrados quase 750 mil.

A lei de combate à violência doméstica contra a mulher foi batizada com o nome de Maria da Penha por conta do caso de uma farmacêutica que sofreu duas tentativas de homicídio praticadas pelo companheiro e permaneceu paraplégica em decorrência do crime.

As mulheres estão morrendo mais no Estado do Pará. Os dados presentes no 11º Anuário Brasileiro de Segurança Pública, realizado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública e uma das principais fontes de dados do setor no país, divulgado ontem (segunda), apontam crescimento nos índices relativos a elas entre 2015 e 2016. O estado atinge a quarta colocação dentre os que registraram maiores aumentos no país.

No primeiro ano registrou-se, segundo o levantamento, 230 mortes desta natureza, enquanto no ano seguinte foram mais 277. Dentre estes casos, houve aumento também dos casos de feminicídios, uma qualificadora para homicídio motivado por questões de gênero, como violência doméstica, por exemplo. Dentre os assassinatos de mulheres, 24 foram consideradas feminicídios em 2015. No ano seguinte esse número saltou para 43. A proporção de feminicídios em relação aos crimes violentos letais intencionais de mulheres foi de 15,5% em 2016, contra 10,4% no ano anterior.

No Pará há 16 delegacias especializadas no atendimento à mulher e o estudo avaliou também a opinião dos profissionais que atuam nestas unidades. Quando questionados se acreditam que a delegacia na qual trabalham é suficiente ou insuficiente para atender à demanda da população local, a nota foi 4 para suficiente e 8 para insuficiente.

Também se registrou aumento nos casos de estupro consumados. Foram 2.751 em 2015 e 3.002 em 2016, uma variação de 7,8%. As tentativas apresentaram queda, de 177 para 176, apenas 1,7%.

Em termos de Estado, os números também são alarmantes: mais de 3.200 casos de lesão corporal e violência doméstica foram registrados em 2016 pela Polícia Civil, no Pará. Em relação aos feminicídios, foram 37 ocorrências registradas, sendo 9 delas tentativas.

Além disso, desde que a Lei Maria da Penha entrou em vigor, tem crescido, no país, o número de medidas protetivas de urgência às vítimas de violência doméstica. Mas muitas mulheres ainda não têm noção da importância dessa proteção.

A medida protetiva está prevista na Lei Maria da Penha para afastar a mulher do agressor e romper o ciclo de violência. O juiz pode determinar uma distância mínima e proibir o contato até com a família da vítima. Cada vez mais mulheres tem buscado esse tipo de proteção no Brasil: o número cresceu 10% entre 2014 e 2015.

De acordo com o Tribunal de Justiça do Pará, o estado é o terceiro com maior número de medidas protetivas à violência contra a mulher. Com mais de 1.400 medidas que incluem afastamento do lar conjugal, certa distância do companheiro, proibição na convivência com os filhos e até a prisão nos casos mais graves, entre outros. Ainda segundo o TJ, ao todo, 9.920 processos estão na Justiça.

No mundo

De acordo com informações da ONG Action Aid, a violência doméstica é responsável pela morte de cinco mulheres por hora no mundo. A informação é resultado de análise do estudo global de crimes das Nações Unidas e indica um número estimado de 119 mulheres assassinadas diariamente por um parceiro ou parente.

Segundo projeções feitas pela ActionAid, mais de 500 mil mulheres serão mortas por seus parceiros ou familiares até 2030. O documento faz um apelo a governos, doadores e à comunidade internacional para que se unam a fim de dar prioridade a ações que preservem os diretos das mulheres. O estudo considera dados levantados em 70 países e revela que, apesar de diversas campanhas pelo mundo, a violência ou a ameaça dela ainda é uma realidade diária para milhões de mulheres. (Luciana Marschall, com informações da Agência Brasil)

 

Saiba Mais

No dia 25 de novembro de 1960, as irmãs Pátria, Minerva e Maria Teresa, conhecidas como “Las Mariposas”, foram brutalmente assassinadas pelo ditador Rafael Leônidas Trujillo, da República Dominicana. As três combatiam fortemente aquela ditadura e pagaram com a própria vida. Em 1999, a Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas instituiu 25 de novembro como o Dia Internacional da Não-Violência Contra a Mulher, em homenagem às “Mariposas”. (Chagas Filho)