Correio de Carajás

Consciência Negra: eventos marcam a data em Marabá

Na próxima segunda-feira (20), será feriado em Marabá por dois motivos: primeiro porque é o Dia de São Félix de Valois, padroeiro da cidade. Segundo porque é o Dia da Consciência Negra, que há dois anos também ganhou status de feriado municipal. A data vem ganhando uma programação mais robusta a cada ano, tendo como ponto central atividades culturais realizadas na praça do bairro Francisco Coelho, o “Cabelo Seco”, berço da cidade de Marabá, mas que ainda é carente de ferramentas sociais. Lutar por investimentos e também por mais cidadania para as comunidades negras, como pode ainda ser caracterizado o “Cabelo Seco”, tem sido a tônica das atividades que marcam o dia 20 de novembro.

Vale lembrar, porém que não é apenas no Cabelo Seco que haverá programação alusiva ao Dia da Consciência Negra. Está acontecendo já uma programação, desde esta sexta-feira (17), no CEPASP (Centro de Educação, Pesquisa, Assessoria Sindical e Popular), que contou com roda de conversa sobre a juventude negra. Neste sábado (18) acontece uma feijoada, seguida de batalhas de MCs, capoeira, carimbó, batuque e ciranda.

E no dia 20, a Praça Monsenhor Baltazar Jorge, que fica na rotatória que interliga as Folhas 16, 17, 20 e 21 (Nova Marabá), será palco do evento denominado I Negritude de Marabá, cuja programação contará com palestras, oficinas com trancistas e turbantes, artesanato, música, poesia e exposição de fotografias.

Leia mais:

Simultaneamente, no Bairro Francisco Coelho, o popular “Cabelo Seco”, estará acontecendo também uma programação cultura na pracinha do bairro, que vai culminar com um arrastão pelas ruas em direção à Orla Sebastião Miranda.

Pontal

Diz a história que Marabá começou no bairro Cabelo Seco, mas por incrível que pareça, o bairro é historicamente pouco favorecido com políticas públicas, principalmente de infraestrutura. A iluminação pública ainda é precária; a urbanização da orla do Rio Tocantins não chegou até lá e o local onde os rios Itacaiúnas e Tocantins se encontram (que poderia ser um ponto turístico de Marabá) está carente de equipamentos e presença do poder público.

É também para refletir sobre essas questões que ativistas ligados aos movimentos negros em Marabá atuam no bairro, sempre no dia 20 de novembro, Dia da Consciência Negra. Todas as atividades têm o objetivo de trazer à tona o debate sobre a invisibilização das comunidades pobres e negras de Marabá.

Ações e inserção no currículo ainda são poucas

O historiador Janailson Macedo Luiz, coordenador do N’Umbuntu – Núcleo de Estudos, Pesquisa e Extensão em Relações Étnico-Raciais, Movimentos Sociais e Educação –, explica que os movimentos que atuam pela preservação da memória e da cultura das matrizes africanas em Marabá vêm ganhando espaço na comunidade local, mas os agentes ainda atuam de forma muito desconectada, faltando talvez uma maior integração entre as ações que vêm sendo desencadeadas.

Janailson, que também é diretor do Instituto de Ciências Humanas da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa), destaca ainda que, por força da Lei Nº 10.639, o tema está inserido no calendário escolar, mas ainda não foi devidamente encaixado nos planos curriculares. O que existe, sustenta, são atividades pontuais no último bimestre, de modo que a “Consciência Negra” acaba sendo esquecida no decorrer do ano e só volta a ser lembrada no final do ano letivo. “A gente não tem uma abordagem sistemática no decorrer do ano inteiro”, resume.

Diante isso, o historiador entende que o tema precisa estar inserido no currículo, não apenas por força de lei, mas porque se trata de uma temática que dialoga com a própria memória local, com a história de seu povoamento. “Nossa perspectiva é tentar fazer com que essas temáticas passem a ser inseridas de forma mais constante no currículo escolar”, resume.

Ainda de acordo com ele, as ações do N’Umbuntu têm avançado nas escolas, pois este ano o tema está sendo trabalhado em nada menos que  10 escolas da rede pública municipal, inclusive em Morada Nova. No ano passado, havia ações permanentes em apenas duas escolas. 

Data virou feriado por proposição do movimento negro

Em dezembro 2015 foi sancionada pelo então prefeito de Marabá, João Salame Neto, a Lei 17.693, que dispõe sobre a instituição do feriado municipal referente ao Dia da Consciência Negra. Quem elaborou o projeto de lei foi o Coletivo Consciência Negra em Movimento.

Segundo o texto da lei, a data deve ser lembrada nas unidades da rede municipal de Ensino Público com atividades destinadas a “destacar e valorizar a importância social, histórica e cultural do negro na formação do Brasil contemporâneo”.

Além disso, a Administração Pública Municipal, por meio da Secretaria Municipal de Cultura, irá prestar colaboração às entidades do Movimento Negro envolvidas na organização das atividades que constem do programa de comemoração do Dia da Consciência Negra no município.

No entendimento de Eric de Belém Oliveira, Marabá tem identidade negra. “A partir disso, nós, enquanto movimento negro, teremos agora um conjunto de medidas pautadas uma vez que o município reconhece a importância dessa temática e das políticas públicas relacionadas”, explicou na época da aprovação da lei.

O coletivo acredita que trabalhar essas pautas pode auxiliar na redução das altas taxas de violência contra negros. Relatório da Secretaria Nacional de Juventude da Presidência da República, divulgado no ano passado, aponta que Marabá está entre os municípios do Estado do Pará que mais registraram maior número de homicídios de jovens negros. (Luciana Marschall)

Um pouco da história de Zumbi dos Palmares

Celebrado em 20 de novembro, o Dia da Consciência Negra, também chamado de Dia Nacional de Zumbi, foi instituído pela Lei nº 12.519, de 2011. A data faz referência à morte de Zumbi, o então líder do Quilombo dos Palmares – situado entre os estados de Alagoas e Pernambuco, na região Nordeste do Brasil. Zumbi foi morto em 1695, na referida data, por bandeirantes liderados por Domingos Jorge Velho.

A data de sua morte, descoberta por historiadores no início da década de 1970, motivou membros do Movimento Negro Unificado contra a Discriminação Racial, em um congresso realizado em 1978, no contexto da Ditadura Militar Brasileira, a elegerem a figura de Zumbi como um símbolo da luta e resistência dos negros escravizados no Brasil, bem como da luta por direitos que seus descendentes reivindicam.

Com a redemocratização do Brasil e a promulgação da Constituição de 1988, vários segmentos da sociedade, inclusive os movimentos sociais, como o Movimento Negro, obtiveram maior espaço no âmbito das discussões e decisões políticas.

A figura de Zumbi dos Palmares é especialmente reivindicada pelo movimento negro como símbolo de todas essas conquistas, tanto que a lei que instituiu o dia da Consciência Negra foi também fruto dessa reivindicação. (Fonte: Brasil Escola)

Saiba Mais

O Artigo 26-A, parágrafo 1º, da Lei 10.639 diz que o conteúdo programático das escolas incluirá o estudo da História da África e dos Africanos, a luta dos negros no Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade nacional, resgatando a contribuição do povo negro nas áreas social, econômica e política pertinentes à História do Brasil.

(Chagas Filho)

Na próxima segunda-feira (20), será feriado em Marabá por dois motivos: primeiro porque é o Dia de São Félix de Valois, padroeiro da cidade. Segundo porque é o Dia da Consciência Negra, que há dois anos também ganhou status de feriado municipal. A data vem ganhando uma programação mais robusta a cada ano, tendo como ponto central atividades culturais realizadas na praça do bairro Francisco Coelho, o “Cabelo Seco”, berço da cidade de Marabá, mas que ainda é carente de ferramentas sociais. Lutar por investimentos e também por mais cidadania para as comunidades negras, como pode ainda ser caracterizado o “Cabelo Seco”, tem sido a tônica das atividades que marcam o dia 20 de novembro.

Vale lembrar, porém que não é apenas no Cabelo Seco que haverá programação alusiva ao Dia da Consciência Negra. Está acontecendo já uma programação, desde esta sexta-feira (17), no CEPASP (Centro de Educação, Pesquisa, Assessoria Sindical e Popular), que contou com roda de conversa sobre a juventude negra. Neste sábado (18) acontece uma feijoada, seguida de batalhas de MCs, capoeira, carimbó, batuque e ciranda.

E no dia 20, a Praça Monsenhor Baltazar Jorge, que fica na rotatória que interliga as Folhas 16, 17, 20 e 21 (Nova Marabá), será palco do evento denominado I Negritude de Marabá, cuja programação contará com palestras, oficinas com trancistas e turbantes, artesanato, música, poesia e exposição de fotografias.

Simultaneamente, no Bairro Francisco Coelho, o popular “Cabelo Seco”, estará acontecendo também uma programação cultura na pracinha do bairro, que vai culminar com um arrastão pelas ruas em direção à Orla Sebastião Miranda.

Pontal

Diz a história que Marabá começou no bairro Cabelo Seco, mas por incrível que pareça, o bairro é historicamente pouco favorecido com políticas públicas, principalmente de infraestrutura. A iluminação pública ainda é precária; a urbanização da orla do Rio Tocantins não chegou até lá e o local onde os rios Itacaiúnas e Tocantins se encontram (que poderia ser um ponto turístico de Marabá) está carente de equipamentos e presença do poder público.

É também para refletir sobre essas questões que ativistas ligados aos movimentos negros em Marabá atuam no bairro, sempre no dia 20 de novembro, Dia da Consciência Negra. Todas as atividades têm o objetivo de trazer à tona o debate sobre a invisibilização das comunidades pobres e negras de Marabá.

Ações e inserção no currículo ainda são poucas

O historiador Janailson Macedo Luiz, coordenador do N’Umbuntu – Núcleo de Estudos, Pesquisa e Extensão em Relações Étnico-Raciais, Movimentos Sociais e Educação –, explica que os movimentos que atuam pela preservação da memória e da cultura das matrizes africanas em Marabá vêm ganhando espaço na comunidade local, mas os agentes ainda atuam de forma muito desconectada, faltando talvez uma maior integração entre as ações que vêm sendo desencadeadas.

Janailson, que também é diretor do Instituto de Ciências Humanas da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa), destaca ainda que, por força da Lei Nº 10.639, o tema está inserido no calendário escolar, mas ainda não foi devidamente encaixado nos planos curriculares. O que existe, sustenta, são atividades pontuais no último bimestre, de modo que a “Consciência Negra” acaba sendo esquecida no decorrer do ano e só volta a ser lembrada no final do ano letivo. “A gente não tem uma abordagem sistemática no decorrer do ano inteiro”, resume.

Diante isso, o historiador entende que o tema precisa estar inserido no currículo, não apenas por força de lei, mas porque se trata de uma temática que dialoga com a própria memória local, com a história de seu povoamento. “Nossa perspectiva é tentar fazer com que essas temáticas passem a ser inseridas de forma mais constante no currículo escolar”, resume.

Ainda de acordo com ele, as ações do N’Umbuntu têm avançado nas escolas, pois este ano o tema está sendo trabalhado em nada menos que  10 escolas da rede pública municipal, inclusive em Morada Nova. No ano passado, havia ações permanentes em apenas duas escolas. 

Data virou feriado por proposição do movimento negro

Em dezembro 2015 foi sancionada pelo então prefeito de Marabá, João Salame Neto, a Lei 17.693, que dispõe sobre a instituição do feriado municipal referente ao Dia da Consciência Negra. Quem elaborou o projeto de lei foi o Coletivo Consciência Negra em Movimento.

Segundo o texto da lei, a data deve ser lembrada nas unidades da rede municipal de Ensino Público com atividades destinadas a “destacar e valorizar a importância social, histórica e cultural do negro na formação do Brasil contemporâneo”.

Além disso, a Administração Pública Municipal, por meio da Secretaria Municipal de Cultura, irá prestar colaboração às entidades do Movimento Negro envolvidas na organização das atividades que constem do programa de comemoração do Dia da Consciência Negra no município.

No entendimento de Eric de Belém Oliveira, Marabá tem identidade negra. “A partir disso, nós, enquanto movimento negro, teremos agora um conjunto de medidas pautadas uma vez que o município reconhece a importância dessa temática e das políticas públicas relacionadas”, explicou na época da aprovação da lei.

O coletivo acredita que trabalhar essas pautas pode auxiliar na redução das altas taxas de violência contra negros. Relatório da Secretaria Nacional de Juventude da Presidência da República, divulgado no ano passado, aponta que Marabá está entre os municípios do Estado do Pará que mais registraram maior número de homicídios de jovens negros. (Luciana Marschall)

Um pouco da história de Zumbi dos Palmares

Celebrado em 20 de novembro, o Dia da Consciência Negra, também chamado de Dia Nacional de Zumbi, foi instituído pela Lei nº 12.519, de 2011. A data faz referência à morte de Zumbi, o então líder do Quilombo dos Palmares – situado entre os estados de Alagoas e Pernambuco, na região Nordeste do Brasil. Zumbi foi morto em 1695, na referida data, por bandeirantes liderados por Domingos Jorge Velho.

A data de sua morte, descoberta por historiadores no início da década de 1970, motivou membros do Movimento Negro Unificado contra a Discriminação Racial, em um congresso realizado em 1978, no contexto da Ditadura Militar Brasileira, a elegerem a figura de Zumbi como um símbolo da luta e resistência dos negros escravizados no Brasil, bem como da luta por direitos que seus descendentes reivindicam.

Com a redemocratização do Brasil e a promulgação da Constituição de 1988, vários segmentos da sociedade, inclusive os movimentos sociais, como o Movimento Negro, obtiveram maior espaço no âmbito das discussões e decisões políticas.

A figura de Zumbi dos Palmares é especialmente reivindicada pelo movimento negro como símbolo de todas essas conquistas, tanto que a lei que instituiu o dia da Consciência Negra foi também fruto dessa reivindicação. (Fonte: Brasil Escola)

Saiba Mais

O Artigo 26-A, parágrafo 1º, da Lei 10.639 diz que o conteúdo programático das escolas incluirá o estudo da História da África e dos Africanos, a luta dos negros no Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade nacional, resgatando a contribuição do povo negro nas áreas social, econômica e política pertinentes à História do Brasil.

(Chagas Filho)