Quando conheci Adilson Poltroniere, em 2009, na porta de uma delegacia de polícia na Cidade Nova, cobrindo um evento midiático, não imaginava que teríamos tanta afinidade dali para frente. Ele tinha chegado recentemente de Belém e tentava trabalhar em um veículo de comunicação local.
Em janeiro do ano seguinte aceitei o desafio de coordenar a Redação de um jornal da Família Miranda em Marabá e lembrei-me dele. Todos os equipamentos necessários para rodar o periódico estavam no imenso espaço construído na Folha 18, e Adilson compôs a equipe e escrevemos matérias para um jornal de Belém enquanto o daqui ainda estava à espera do parto. Todos os testes foram feitos, mas nunca uma página dele circulou.
Saímos da empresa e voltei ao Correio no ano seguinte. Adilson veio para cá, anos depois, numa aposta de Patrick Roberto para compor a equipe de editores. E daqui ele só saiu quando não já conseguia mais andar.
Leia mais:Vivemos por mais de cinco anos juntos no Jornal. Todos aprendemos a respeitar o tempo dele. Pacato, ele era humilde o suficiente para pedir perdão quando tocava o dedo na matéria de alguém e ficava diferente do que o repórter tentava dizer.
Ele me colocou um apelido que só fazia sentido entre nós: “Profissional”. E assim me chamava nos bons e maus momentos, com toda a parcimônia do mundo. Nunca lançou uma palavra de ofensa aos colegas.
Também era um apaixonado por literatura e entre uma matéria e outra ele falava sobre livros, indagava sobre personagens de histórias fantásticas de Gabriel García Marquez e nunca, em nenhum momento, tentava ser o que não era. Sua vida era simples como suas palavras.
Retornei para o jornal há 30 dias e – por conta própria – assumi a bancada que era dele. Liguei o computador, mas não joguei fora suas cadernetas de anotações e as gavetas permanecem cheias de um monte de coisa que era dele. Nós o esperávamos de volta.
Aprendi, com a partida do Adilson, que preciso ficar mais vigilante com a saúde. Mesmo trabalhando com informação, às vezes relegamos coisas essenciais como consultas e exames de rotina.
Mas a principal lição que fica, para mim, vinha das noites de fechamento do Jornal. Quando já restavam apenas editores, diagramadores e a revisora, ele telefonava para os filhos, que moravam em Belém. A ligação durava cerca de meia hora. Nela, perguntava como tinha sido o dia, as tarefas da escola, e também havia conselhos aos pequenos.
E sempre – sem nenhuma exceção – Adilson terminava a ligação com uma oração pelos filhos ao telefone. Eu parava de digitar porque o barulho do teclado me parecia atrapalhar a concentração dele. Era um momento solene. Acho que todo pai, como eu, deveria ter momentos assim com os filhos. Em casa ou longe dela, como fazia Poltroniere, que usava praticamente todo o dinheiro que recebia para ajudar na educação de Joshua e Shantal.
Sim. O editor morreu, em Belém, depois de vários dias internado na UTI de um hospital. Seu corpo será enterrado nesta terça-feira, 15, lá mesmo na Capital. Mas seu exemplo como profissional e pai ficará marcado na Redação do JORNAL CORREIO, em Marabá.
E como disse Gabriel García Marquez, “a vida não é a que a gente viveu, mas sim a que a gente recorda, e como recorda para contá-la”.
Ulisses Pompeu – editor do Portal Correio de Carajás