Está no Instituto Médico Legal (IML) de Marabá o corpo do estudante do curso de Letras, Fábio Júnior Silva, de 34 anos, que foi assassinado e teve o corpo queimado no distrito de Nereu, distante 50 km do município de São Félix do Xingu, no sudeste paraense. O crime aconteceu no último sábado, dia 9.
Na manhã de hoje, segunda-feira (12), em Marabá, o irmão da vítima conversou com a Reportagem do Portal Correio de Carajás. Bastante abalado, Benedito José da Silva Neto diz que a família exige que o caso seja solucionado e seja feita justiça.
“É uma sensação de impotência. Aconteceu esse tipo de crime várias vezes lá e a justiça não é feita, as autoridades fazem de conta que nada acontece. As mesmas pessoas continuam praticando os mesmos crimes”, afirmou, acrescentando que devido à repercussão do caso, divulgado por grandes veículos de notícia, agora autoridades políticas começaram a se mobilizar para que o caso seja investigado com rigor.
Leia mais:“As pessoas estão tomando algumas providências, mas geralmente não é assim. As pessoas são assassinadas e pronto. Há muitos anos meu pai foi assassinado, vítima de violência. Não é de agora e as pessoas continuam tirando vidas”.
Ele diz que suspeitos chegaram a ser interrogados em decorrência do crime, mas até o momento ninguém foi preso. “Foram ouvidos, mas foram liberados. Alegaram pra gente que o local, a cela, não tinha estrutura e estavam com medo dos populares invadirem, o que não é justificativa porque poderiam ter pedido reforço e transferido para a sede do município”, diz.
Ele não quis se manifestar acerca do que imagina que possa ter sido a motivação para o crime. “A gente queria resposta, a única coisa que a gente quer é justiça porque estamos nos sentindo impotentes, não sabemos para quem recorrer, quem achamos que pode resolver não resolve e é isso”. A Reportagem entrou em contato com a assessoria de comunicação da Polícia Civil, que se comprometeu a encaminhar posicionamento sobre o curso das investigações acerca do caso.
O irmão da vítima reclamou, ainda, da burocracia para a liberação do corpo. Em casos de vítimas carbonizadas os procedimentos costumam incluir exame de DNA para haver certeza da identificação da vítima. “A gente reconheceu lá, mas eles dizem que a gente não tem certeza. Além da perda, ainda estamos enfrentando a burocracia.
Ao Portal, o gerente do IML em Marabá, Domingos Costa Silva, informou no final da manhã que se aguardava o médico legista para realização de exame necroscópico e que ele deverá decidir se é necessária coleta de material para DNA, mas que há parte das vestes da vítima intactas, assim como o rosto. “Vamos ver se há como os familiares reconhecerem”, disse.
De acordo com o divulgado ontem, segunda-feira (11), pelo Jornal O Liberal, amigos de Fábio Júnior Silva suspeitam que ele tenha sido vítima de crime de homofobia. Ele era membro da Pastoral da Juventude e das Missões Populares da Igreja Católica, comunidade na qual era bastante querido e admirado.
A Irmã Célia Maria Batista, da Congregação das Irmãs Catequistas Franciscanas, que atua no Conselho Indigenista Missionário em Marabá e em outras pastorais da Igreja Católica, acompanha o irmão da vítima no aguardo junto ao IML. De acordo com ela, a perda está causando indignação na comunidade religiosa.
“Cresce dentro de nós indignação enquanto Igreja Católica porque o próprio Cristo foi aquele que veio nos trazer a paz, mas a gente sabe que a paz é fruto da justiça. Somos seguidores de Cristo que veio trazer justiça para a humanidade e se estivesse aqui estaria ao lado de Fábio Júnior, esse jovem que foi barbaramente assassinado”, afirmou.
Ela acrescenta que a vítima era pessoa íntegra e creditou o extermínio da juventude brasileira a um crescente clima de intolerância. “Estamos desolados, indignados e pedindo por justiça. Que não seja mais um jovem exterminado porque estamos presenciando extermínio na nossa sociedade principalmente daqueles que são diferentes, indígenas, afrodescendentes, homossexuais. Sabemos que as pessoas não são respeitadas. Infelizmente estamos em um governo que disseminou ódio muito grande entre as pessoas e não temos mais aquela tolerância com o diferente”, conclui.
CRIME
No sábado, a vítima participou da celebração de uma missa na localidade. O corpo foi encontrado na manhã de domingo (10), ao lado de uma moto que também foi incendiada.
Em nota, o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) informou o assassinato, lamentando o ocorrido: “Nós que defendemos a Vida e lutamos na prevenção contra o extermínio da juventude choramos a perda de mais um jovem”
Fábio Júnior era acadêmico da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa), que também emitiu nota de pesar pela morte brutal do estudante: “A comunidade acadêmica encontra-se consternada e ávida por informações que possam esclarecer a morte precoce do estudante”.
A instituição informou que ontem, segunda-feira (11), o reitor da Unifesspa, Prof. Dr. Maurílio de Abreu Monteiro, encaminhou um ofício ao governador do Estado pedindo rigor e celeridade nas investigações.
Está prevista para esta tarde, às 16 horas, uma caminhada em homenagem ao estudante, organizada por membros da comunidade acadêmica do Campus de São Félix do Xingu. (Luciana Marschall – com informações de Elson Gomes)