Representantes do Conselho Comunitário Terra para Paz, formado por famílias que vivem em área de ocupação na Fazenda Marajaí, zona rural de Canaã dos Carajás, procuraram a Delegacia Especializada em Conflitos Agrários (Deca), em Marabá, na manhã desta segunda-feira (11) para registrar ocorrência afirmando estarem sofrendo ataques por parte dos proprietários da fazenda.
Dentre as acusações, o mais grave episódio teria ocorrido no último mês. Conforme boletim registrado na época na Delegacia de Polícia Civil de Canaã, as plantações das famílias – de milho, feijão, mandioca, quiabo, pepino, abóbora, maxixe, cebola e outros produtos – foram atingidas por jatos de avião nos dias 23, 24 e 25 de fevereiro.
Após alguns minutos do lançamento do que eles afirmam ser veneno agrícola, dizem, as plantações já estavam sofrendo visivelmente o efeito e algumas pessoas tiveram a saúde abalada pelo odor do produto, tendo sido encaminhadas vítimas para o Hospital Municipal da cidade.
Leia mais:O presidente do conselho, Teobaldo Barbosa do Nascimento, relatou ao Jornal CORREIO que neste último domingo (10) uma ponte construída pelas famílias para acesso à área que alegam ser da União e onde vivem foi criminosamente incendiada.
“Ele já lutou para tirar nós, já houve quatro audiências no Fórum pra tentar retirar nós, mas ele não tem o recurso para isso porque nós estamos em uma área pública federal. Ele está usando a escolta para nos intimidar com armas, está usando os vaqueiros dele, temos até fotos de uma ponte que fizemos e eles tocaram fogo. Corremos lá e apagamos, mas tem os pneus em cima da ponte”, disse.
Sobre o veneno, ele afirma que até a água utilizada pelas famílias agora causa preocupação. “Mamão, quiabo, maxixe, tudo o que é de folha redonda o veneno matou e, inclusive, contaminou nosso poço e os córregos. Temos crianças, pessoas idosas e estamos passando essa calamidade”, acrescentou.
Eles dizem que, caso comprovada a propriedade da área, os ocupantes sairão pacificamente. “Não está esperando a Justiça resolver nossos problemas. Já fomos pacificamente conversar e dizer que se ele ganhar a polícia nem precisa tirar, vamos sair. Estamos há 9 anos na área que é pública, ele que construiu a sede em área pública, isso já foi constatado”.
A fazenda está localizada a 34 quilômetros do centro urbano de Canaã dos Carajás e aproximadamente 70 famílias vivem na área. De acordo com o advogado Adebral Favacho Junior, que atua junto ao Conselho Comunitário, o caso já foi julgado anteriormente junto a Justiça Federal.
“A área em si foi constituída de 12 mil alqueires e metade dela a pessoa que tomou posse usou documentos falsos, falsificando mais de 6 mil alqueires. O Incra entrou com ação e cancelou perante a Justiça Federal esses títulos. As famílias estão ocupando esta área já há muito tempo e o fazendeiro entrou com uma ação para reintegração de posse tanto da área privada quanto da área pública”, afirmou.
De acordo com ele, mesmo sendo competência da Justiça Federal, o caso está sendo analisado pela Justiça Estadual. “Os conflitos são eminentes, as famílias ficam sujeitas a provocações. Recentemente, antes do Carnaval, o fazendeiro mandou jogar veneno em cima das plantações deles e em cima dos barracos. Comunicamos a Deca, comunicamos o Ministério Público, a Vara Agrária e também a Justiça Federal. Não obstante, ontem bloquearam o acesso das famílias à área pública e atearam fogo na ponte, só não concluíram porque as famílias apagaram, mas colocaram pneus e atearam fogo”.
Ele diz que as famílias estão sendo alvo de abusos por parte do pecuarista. “A Deca esteve lá, mas ainda não chegou a nenhuma conclusão”, concluiu. O Portal Correio de Carajás não conseguiu até o momento contato com os responsáveis pela propriedade rural. (Luciana Marschall – com informações de Jhenefer Duarte/TV CORREIO)