“Ele deu um mortal para trás”, afirma um colega, incrédulo, na redação. Se fosse em uma prova de ginástica olímpica, o assombro jamais existiria. Entretanto, quando acontece em uma luta de MMA, vira notícia, repercute pelo mundo, viraliza nas redes sociais e transforma um combate comum em episódio fora da curva. O artista marcial, responsável pelas acrobacias e piruetas realizadas na vitória por nocaute técnico contra Dae Sung Kim, no Road FC 52, no último sábado, é o paraense Michel “Demolidor” Pereira, que ainda tenta lidar com a dimensão alcançada pela performance.
Se, atualmente, Michel Pereira é elogiado pela ousadia demonstrada ao apostar em golpes acrobáticos no cage, no passado, a sua realidade eram as críticas. Em entrevista exclusiva ao Combate.com, o paraense conta que era repreendido ao apostar no estilo “showman” e se espanta com a repercussão provocada após a atuação do fim de semana.
– Fui muito criticado no começo por esse estilo de lutar, me colocavam para baixo. Falavam que era coisa de palhaço, me mandavam ir para o Cirque du Soleil, falavam que era coisa de circo, que eu deveria parar com as firulas. Eu sempre fui contra a maré. Todo mundo criticava, mas eu persistia. Tive fé no dom que Deus me deu e estourei no mundo todo agora. Venho trabalhando essa coisa de dar show desde o começo da minha carreira. Para mim não é só ganhar luta. Primeiro é dar show, e o resultado virá conforme a luta for acontecendo. Procuro dar um show para o público, que paga um ingresso caro. Os lutadores estão perdendo um pouco disso, só querem ganhar, não se importam com quem está assistindo. Essa luta foi diferente, meu Instagram e meu Facebook bombaram. Meu nome saiu em sites mexicanos, americanos e brasileiros. Saiu muita coisa sobre essa luta. Eu ainda estou processando o que aconteceu, porque foi tudo muito rápido – declarou o atleta, natural de Marabá, mas criado em Tucumã, também no Pará.
Voar no octógono era uma forma de despertar a atenção, fazer algo de diferente para se destacar, ficar em evidência. Muitos duvidavam que as piruetas pudessem ter utilidade na luta, o que não desanimava Michel, confiante no seu potencial. Ele conta que os críticos de outrora são os incentivadores da atualidade.
– As pessoas que mais me colocavam para baixo são as que mais me apoiam. A minha tia falava: “Michel, para com essa profissão, vai trabalhar”. Quando eu ia treinar, os amigos falavam: “Você é doido? Vai cair de costas para o cara. Isso não funciona”. E eu dizia: “Um dia vocês vão me ver fazendo isso em uma luta”. E hoje estou fazendo tudo que eu disse que faria. Tento ser diferente de todos. Estou fazendo golpes que ninguém nunca viu.
Aos 25 anos de idade, professor de dança e praticante de diversas artes marciais, o “Paraense Voador” é admirador de lutadores habilidosos, como Anthony Pettis e Anderson Silva. O faixa-preta de caratê e jiu-jítsu garante que os golpes que tira da cartola não são inspirados em jogos de vídeogame ou de outros atletas.
– Eu gosto muito do Anderson Silva, do Anthony Pettis, do McGregor, do José Aldo, do Jon Jones… É uma mistura. Eu faço dança, sou professor de zumba, jump, faço ioga, luto muay thai, boxe, jiu-jítsu, wrestling, taekwondo. É uma mistura de tudo. Tem luta que eu danço. É um pouquinho de cada coisa. Os golpes que faço eu mesmo invento. Essas coisas de salto são coisas que aparecem na minha mente. Tem muita coisa que tenho vontade de fazer, mas ainda não deu. Quando eu fizer vai ser algo que ninguém nunca viu no mundo do MMA. Só não posso falar o que é para não alertar a galera (risos).
Radicado em Nagoya, no Japão, Michel, que realiza o camp para suas lutas na Scorpion Fighting System, em Michigan (EUA), aposta em suas habilidades como uma forma de encurtar seu caminho rumo ao UFC. Dono de 22 vitórias e nove derrotas no cartel, sonha representar a cidade de Tucumã no octógono.
– O sonho de lutar no UFC vem desde pequeno. Todo lutador tem esse sonho. A gente cresceu vendo Anderson, Belfort, Jon Jones dando show… E claro que a gente quer chegar no melhor evento do mundo, onde estão os tops. A história do MMA está toda lá. Uma das coisa que sempre quis entrar lá é por ser de uma cidade pequenininha, como Tucumã e chegar no UFC, maior evento do mundo, ser reconhecido mundialmente, é gratificante.
(Fonte:G1)