Correio de Carajás

Mãe diz que filha nasceu no banheiro do hospital

Apesar da Prefeitura Municipal de Marabá negar veementemente que um parto tenha ocorrido em um banheiro do Hospital Materno Infantil, na madrugada de terça-feira (15), Gardênia de Castro Lima, que acabou perdendo a filha recém-nascida, afirma em entrevista concedida ao Jornal CORREIO que estava desassistida no momento em que a criança nasceu.

Ela e a irmã, que a acompanhava, conversaram com a Reportagem na manhã de ontem, quarta-feira (16), assim que ela teve alta e saiu caminhando da casa de saúde. Segundo o relato de Gardênia, ela completaria nove meses de gestação no próximo dia 23, mas começou a se sentir mal antes disso e procurou atendimento em Itupiranga, a 40 quilômetros de Marabá, de onde foi encaminhada para o HMI sob alegação de que a menina nasceria prematura e necessitaria de incubadora, que não há disponível no município.

Ela narra que chegou ao hospital de Marabá por volta das 23 horas de segunda-feira (14) e passou aproximadamente uma hora na enfermaria, sangrando. De lá, foi levada para a sala de parto. Por volta das 4h40, relata, sentiu ânsia de vômito e foi ao banheiro, onde ocorreu o parto. “A bolsa caiu e o bebê caiu, ela estava viva. Estava com o cordão, saiu enrolada no cordão, machucou o pescocinho dela. Ela estava perfeitinha”, relatou a mulher, que já é mãe de outra criança, de cinco anos. “Não fizeram nada a respeito. Achei péssimo, me atenderam mal quando cheguei”.

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Gardênia deixou a maternidade sem a filha nos braços/ Foto: Josseli Carvalho

A irmã que a acompanhava diz que após a paciente sair da enfermaria não teve mais notícias pela manhã, às 8h10. “Às 4h40 a menina saiu e nem vieram me avisar, vieram me avisar 8h10 que ela tinha falecido. Ela passou uma hora no corredor e lá dentro ela ganhou sozinha porque o médico nem foi lá olhar ela”, diz, reclamando do atendimento hospitalar. “A pessoa chegar precisando e não atenderem é uma covardia muito grande. Tratam a gente que nem animal aí dentro. Me sinto muito mal indo embora sem a criança”.

SEM NECRÓPSIA

Ainda na segunda-feira, após a morte, a sogra de Gardênia pegou o corpo da criança, liberado pelo hospital, e fez o sepultamento em Itupiranga. Mais uma vez, assim como aconteceu no último dia 4, quando Simone de Souza Nascimento, de 29 anos, morreu após parto realizado no Hospital Materno Infantil (HMI), o corpo não foi encaminhado ao Instituto Médico Legal (IML) para realização de exame necroscópico, necessário em casos de suspeita sobre a morte. O município, assim como no caso anterior, alega que o pedido de remoção deve ser feito por familiares à Polícia Civil.

Os familiares de Simone de Souza Nascimento acreditam que o parto normal que levou à morte da paciente no início do ano possa ter sido induzido, o que é contrai-indicado no caso dela, que já havia tido um parto cesáreo. O município nega.

POSICIONAMENTO

Procurada pelo Jornal CORREIO, a assessoria de comunicação da Prefeitura Municipal de Marabá emitiu nota sobre o caso, negando que o parto tenha ocorrido no banheiro da maternidade que administra. Segundo o posicionamento, o caso ainda está sendo investigado, mas a administração sustenta que a parturiente estava há três semanas com perda de líquido, o que os médicos comumente chamam de “Bolsa Rota” e ainda se encontrava na cidade de origem, Itupiranga.

“Segundo o prontuário, a parturiente era portadora de uma infecção que poderia causar no bebê sequelas graves, como a má formação, cegueira e outras sequelas no bebê. Ela foi trazida de ambulância sem a regulação e informações de pré-natal do município de Itupiranga.  Foi dada entrada à 1h13 do dia 15 de janeiro e teve o parto às 4h48 na sala de cirurgia”, diz a nota.

Ainda segundo o município, o bebê já nasceu com o quadro de sepsia (infecção generalizada), com circular de cordão apertando o pescoço, cianótico (pele roxa) e com o abdômen distendido em função da infecção.  “A pediatra fez o procedimento de aspiração mecânica e acompanhou o recém-nascido à UCI, onde foi entubado e infelizmente não resistiu, vindo a óbito”, declara a assessoria de comunicação.

Por fim, sustenta que apenas entre julho e dezembro de 2018 o HMI recebeu mais de 500 pacientes sem qualquer tipo de regulação (informações e prontuários) de cidade vizinhas. (Luciana Marschall com informações de Josseli Carvalho)