Um dos graves problemas relacionados à segurança pública que vão requerer uma atenção especial do novo governo do Estado é a situação do Centro de Perícias Científicas (CPC) Renato Chaves, principalmente a unidade de Marabá.
Responsável pelo atendimento de mais de 30 municípios, o Instituto Médico Legal (IML) deste município, órgão que integra o CPC, tem apenas quatro médicos legistas, porque os outros já pediram exoneração. A situação é mais caótica nos dias de quinta e sexta-feira, que era o plantão dos últimos dois médicos que pediram desligamento.
Essa situação acaba gerando traumas nas famílias que têm parentes vítimas de morte violenta. É o caso dos familiares do idoso Gabriel Alves da Silva, de 84 anos, que morreu afogado no Rio Preto, à altura da Vila Três Poderes, a 100 km de Marabá, no último dia 31, cujo cadáver foi achado somente na quinta-feira (3).
Leia mais:Na manhã de ontem, sexta-feira (4), a neta dele, Wanderleia Santos Silva, estava indignada porque desde o dia anterior tentava liberar o corpo de seu avô para os rituais de funeral e sepultamento, mas o corpo nunca havia sido liberado porque simplesmente não havia médico para assinar um laudo de liberação do cadáver.
“A gente só queria acabar com toda essa aflição e você chegar no IML e não ter nenhum tipo de suporte… Eu estou aqui totalmente desrespeitada e desamparada. Não tem um médico e nem previsão. Quando eu vou enterrar meu avô? O que eu vou falar pra minha família? Quem vai me responder isso?”, questiona.
RESPOSTAS
Procurado pela reportagem, o gerente de Medicina Legal do Centro de Perícias Científicas (CPC) de Marabá, Domingos Costa Silva, explicou que o corpo deu entrada ontem à noite, depois das 22h. Acontece que os procedimentos de necropsia são realizados somente até esse horário das 22h.
Domingos confirmou que hoje não há médico na escala de plantão, pois o profissional que atenderia nesta sexta-feira pediu exoneração. Ele disse ter informado aos familiares que estava fazendo contato com outros médicos na tentativa de atender essa demanda o mais rápido possível.
A reportagem tentou contato também com o diretor do CPC de Marabá, Enaldo Luís de Melo Ferreira, mas as chamadas forame encaminhadas para a caixa de mensagens. Há informações de que ele estaria em reunião para definir questões relacionadas à transição de governo.
CAÓTICO
O IML de Marabá chegou a contar com mais de sete médicos, mas houve uma mudança na forma de pagamento, que passou a fixar um teto máximo e deixou de ser por produção (quantidade de necropsias realizadas). Isso afastou os profissionais contratados, de modo que hoje há apenas um médico contratado e apenas três concursados, pois alguns destes também pediram exoneração devido à demanda de serviço ter aumentado, diante de um pagamento considerado irrisório para o volume de atividades.
Soma-se a isso o fato de que na cidade de Parauapebas também não há médicos em quantidade mínima. O mesmo ocorre em Tucuruí. Com isso, as vítimas de morte de violenta (principalmente dos finais de semana) estão sendo encaminhadas para o IML de Marabá, aumentando ainda mais a demanda do órgão. (Chagas Filho)