Aos 33 anos, Suelem Barros é um exemplo inspirador de mulher forte e determinada que, mesmo contra todas as adversidades, transformou sua própria vida e a de centenas de pessoas em Marabá através de seu projeto social. O Instituto Barros (InBa) nasceu – com CNPJ – há quatro anos, mas Suelem já atua há mais de 12 anos no terceiro setor.
Atualmente, mais de 300 famílias são atendidas pelo Instituto, que fica localizado no Residencial Tocantins, no núcleo São Félix, em Marabá.
A casa que ela residia com a mãe deu lugar à sede do Instituto Barros. O local, que começou apenas com aulas de karatê (esporte que Suelem é professora), agora conta com aulas de flauta, balé, futsal, reforço escolar, informática e cursos profissionalizantes.
Leia mais:Nascida e criada no Bairro São Félix Pioneiro, em Marabá, ela começou sua jornada no esporte ainda cedo, aos 9 anos de idade, em um projeto social de karatê, esporte que moldaria seu caráter e abriria portas para um futuro de dedicação ao próximo.
Apesar de uma base familiar sólida, como ela mesma define, Suelem cresceu em um ambiente com poucas condições financeiras. No entanto, isso não foi um problema para que pudesse ter a oportunidade de mudar de vida. Participando do projeto de karatê, a figura inspiradora de seu professor despertou naquela menina o desejo de também transformar vidas.
“Tive a oportunidade de fazer outros cursos, mas não aproveitei. O mundo tem muitas coisas ruins para oferecer e eu fiz parte desse mundo ruim. Hoje tenho orgulho do meu trabalho, porque precisei sofrer tudo o que passei pra me tornar quem sou hoje. Agora, ajudo a transformar vidas e a construir histórias”, fala, cheia de orgulho.

Mesmo trilhando caminhos tortuosos na adolescência, Suelem nunca perdeu a esperança de construir um futuro melhor. Aos 16 anos saiu de casa e, aos 17, começou a trabalhar no programa Mais Educação por indicação do professor de karatê, que percebeu o potencial da aluna.
A oportunidade de trabalhar dando aula reacendeu o desejo de estudar e buscar novas oportunidades. Com o apoio da mãe, Suelem ingressou na faculdade de pedagogia e, posteriormente, em educação física.
Após trabalhar por sete anos como professora na Prefeitura de Marabá, ela foi desligada do serviço público em 2020, durante a pandemia da covid-19. Foi aí que decidiu dedicar-se integralmente ao seu projeto social e à sua paixão pelo karatê.
Suelem atuava em vários bairros da cidade com projetos de karatê. Mas, por falta de apoio financeiro, somado a um acidente que a afastou do esporte por um tempo, o trabalho social parou.
Impulsionada pela comunidade do Residencial Tocantins, onde reside, Suelem retomou o projeto com mais força, afinal de contas, seu desejo sempre foi ajudar o próximo.
Ela abriu as portas da sua pequena casa e retirou do papel o projeto que tinha em mente, o agora intitulado Instituto Barros. Com a ajuda da mãe, as aulas de karatê iniciaram no quintal, que logo se transformou em um galpão. As crianças e jovens da comunidade foram chegando e o projeto foi tomando uma proporção muito maior do que Suelem imaginava.
“Agora em janeiro fizemos quatro anos que estamos com o projeto social ativo no Residencial Tocantins. Não foi fácil, a gente não tinha estrutura e nem apoio. Peguei a minha rescisão da prefeitura e com a ajuda da minha mãe construímos um galpão nos fundos de casa. Mas, chegou um momento que a gente não estava mais conseguindo atender o projeto e a minha vida pessoal. Fomos pro aluguel e coloquei um propósito com Deus: ‘se eu estiver no caminho certo, o Senhor vai me dar uma nova casa’. E com três meses no aluguel, Deus nos presenteou com uma casa, que pude pagar do jeito que eu quis e da forma que eu posso e bem ao lado do Instituto. Hoje posso dizer que estou no caminho certo”, resume.
Suelem admite que enfrenta muitas dificuldades até hoje, mas que desistir não está em seus planos. Ela pretende continuar seu trabalho, oportunizando, de forma gratuita para a comunidade, a esperança de um futuro melhor.
“Me sinto muito feliz e grata a Deus por todos os momentos difíceis que Ele esteve ao nosso lado, porque não é fácil fazer o que a gente faz. Tem de gostar e tem que querer muito. Tenho muita gratidão de saber que estamos ajudando a construir um futuro melhor. Cada mensagem que a gente recebe de aluno, de pai parabenizando nosso trabalho, a gente vê que estamos no caminho certo. Todos os dias produzimos faz algo novo, não é um trabalho repetitivo, há uma dinâmica diferente, uma estratégia nova. É algo surpreendente e que faz com que eu esteja sempre motivada”, revela.
Dentre as diversas dificuldades, Suelem admite que enfrenta muitas perseguições políticas, porque supõem que ela quer se candidatar a algum cargo eletivo. “Não nos ajudam porque acham que vão fortalecer nosso trabalho para que eu possa me lançar mais na frente. Esse não é nosso objetivo. Queremos estar mais junto da comunidade e desenvolver um trabalho onde a prefeitura não consegue chegar. A gente entende que a gestão tem muito serviço, então nós, do terceiro setor, só estamos contribuindo e somando com o município”.
Nos últimos dois anos, a mineradora Vale assumiu o compromisso de destinar recursos para o Instituto. Com isso, Suelem conseguiu fortalecer e ampliar as atividades, oferecendo um espaço de transformação e desenvolvimento para crianças, jovens e adultos.
“Eles passaram fazendo um mapeamento aqui no bairro e alguém, que eu não sei quem foi, indicou o nosso trabalho. Eles vieram conhecer, e a partir desse momento começaram a procurar parcerias de outras empresas, como a Lucena, que revitalizou e nos entregou a sala de informática. Com o apoio da Vale, a gente se sente fortalecido com o recurso que é destinado. Conseguimos manter a demanda da instituição. Mas antes disso, a gente mantinha através de feijoada, galinhada e rifa. Já passamos muitas dificuldades. Já fomos para semáforo e comércio pedir ajuda”, relembra Suelem, orgulhosa da sua trajetória e de ver seu projeto alcançar esferas onde o poder público não consegue alcançar.
Além da Vale, Suelem ressalta que dois parlamentares do município contribuem com o Instituto, os vereadores Ilker Moraes e Vanda Américo.
“Esses dias estive com meus alunos de karatê e falei que não é fácil ser mulher. Não é fácil as pessoas aceitarem uma mulher negra e empoderada, dizendo eu quero, eu consigo e eu posso. Há pessoas que têm um instituto há mais tempo que a gente, com recursos e não conseguem fazer um trabalho como esse, com tão pouco. Eu digo para os meus alunos, quando eles pensarem em desistir, pra eles lembrarem de mim, que a ‘sensei’ de vocês não desistiu. Em alguns momentos da minha vida, achava que não fazia a diferença na vida de ninguém, hoje tenho certeza que faço. A diferença está sendo feita na vida de cada aluno do Instituto Barros”, finaliza.
(Ana Mangas)