Correio de Carajás

Com samba contagiante, Grande Rio rouba a cena homenageando o Pará

A Grande Rio roubou a cena na última noite de desfiles do Carnaval de 2025, entre a noite de terça-feira (4) e a madrugada desta quarta-feira (5). A escola levantou a Sapucaí com homenagens ao Pará, abordando as Encantarias e o carimbó, dança típica do estado.

O samba da Invocada foi o grande destaque da apresentação. A Grande Rio mostrou um chão forte e a arquibancada acompanhou a bateria comandada pelo mestre Fafá, para fazer brilhar o enredo “Pororocas Parawaras — As águas dos meus encantos nas contas dos curimbós”.

A apresentação marcou a despedida da atriz Paolla Oliveira do posto de rainha de bateria. A escola teve ainda a participação de 14 musas, entre elas a apresentadora Patrícia Poeta e as ex-BBBs Isabelle Nogueira e Alane Dias. O governador Helder Barbalho e esposa Daniela, mais a vice Hana Ghassan, também foram para a avenida.

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A Grande Rio elevou o sarrafo da disputa pelo título do carnaval de 2025. Os carnavalescos Leonardo Bora e Gabriel Haddad realizaram trabalho magistral em alegorias e fantasias, hipnotizaram a Sapucaí e ratificaram seu lugar no topo do ranking dos artistas dos barracões. Para completar, o samba maravilhoso pavimentou o desfile impactante.

A história do encantamento das princesas turcas Jarina, Herondina e Mariana na floresta amazônica – enredo que valeu patrocínio de R$ 15 milhões do governo do Pará — foi contada com extrema beleza. Nada será mais bonito, em 2025, que o abre-alas da tricolor de Caxias.

A bateria impecável do mestre Fafá deu outra aula na pista, com a parceria virtuosa do cantor Evandro Malandro. Dá gosto acompanhar tanto talento.

Como pitada de emoção, a escola abriu buraco no último módulo de jurados e teve de cuidar de muitos componentes que passaram mal com o calor e o peso de algumas fantasias. Vai custar alguns décimos nas notas.

Só a mudança na dinâmica de julgamento — mapas fechados por dia, logo notas de escolas como Imperatriz e Beija-Flor, melhores das outras noites, estão decididas — pode pôr o título da Grande Rio em dúvida. Mas Caxias está liberada para sonhar com o segundo triunfo na elite.

Princesas turcas

Para representar as três princesas turcas do enredo, desenvolvido pelos carnavalescos Leonardo Bora e Gabriel Haddad, a escola convocou três artistas paraenses que virão no abre-alas. A cantora Naieme será Jarina, a atriz Dira Paes, virá como Herondina, e a também cantora Fafá de Belém, será Mariana. A agremiação de Duque de Caxias promete levar para a Avenida um espetáculo grandioso.

A escola tinha 3.200 componentes, distribuídos em 24 alas. Seis alegorias e três tripés vão ajudar a contar o enredo. O diretor de carnaval pede para o público ficar atento a surpresas do desfile, como os aromas paraenses (o samba-enredo fala, por exemplo, em “banho de cheiro” e “perfume de patcholi”). A escola também aposta num visual colorido para contar a história das três princesas e da cultura do Pará.

Entre as alegorias que também mereceram atenção, estava a segunda: “Quem é do barro, no Iguapó, é caruana”. O carro era uma imensa escultura, templo ancestral moldado em barro, numa exaltação à grandiosidade das artes ceramistas. Trata do esplendor marajoara, que extravasa os limites da maior ilha fluviomarítima do mundo e se conecta às formas antropozoomórficas da cerâmica tapajônica.

 

Despedida de Paolla Oliveira

O sétimo carnaval da atriz Paolla Oliveira à frente dos ritmistas da agremiação foi marcado pela sua despedida do posto. Com a fantasia nomeada de “Espelho da Lua”, criada pelos carnavalescos Gabriel Haddad e Leonardo Bora, e confeccionada pelo figurinista Bruno Oliveira, a rainha de bateria de 42 anos representa o mergulho das princesas nas águas da Amazônia, com a luz da lua seduzindo os botos.

“É tudo muito, mas o carnaval é assim, é intensidade, para a gente sentir que está viva, com o sangue fervendo nas veias. Teve bloco, bloco super emotivo, Clube do Samba, e agora termina numa poroca nessa Avenida, maravilhoso”, afirma Paolla, cercada por dezenas de seguranças, repórteres e fotógrafos.

 

Letra do samba-enredo da Grande Rio em 2025

“A Mina é Cocoriô

 

Feitiçaria Parawara

A mesma Lua da Turquia

Na travessia foi encantada

Maresia me guia sem medo

Pro banho de cheiro

Na encruzilhada, espuma do mar

Fez a flor do mururé desabrochar

Pororoca me leva pro fundo do igarapé

Se desvia da flecha, “não se escancha em puraqué”

Quem é de barro, no igapó, é Caruana

Boto assovia, Mãe d’Água dança

Se a Boiúna se agita, é banzeiro, banzeiro

Quatro contas, um cocar

Salve arara cantadeira, borboleta à espreita

E a onça do Grão-Pará

Na curimba de Babaçuê

Tem falange de ajuremados

A macaia codoense é macumba de outro lado

Venham ver as três princesas “baiando” no curimbó

É doutrina de santo rodando no meu carimbó

E foi assim… Suas espadas têm as ervas da Jurema

Novos destinos no mesmo poema

E nos terreiros, perfume de patchouli

Acende a brasa do defumador

Pro mestre batucar a sua fé

Noite de festa… Curió Marajoara

Protege Caxias, nas águas de Nazaré

É força de Caboclo, Vodun e Orixá

Meu povo faz a curva como faz na gira

Chama Jarina, Herondina e Mariana

Grande Rio firma o Samba no Tambor de Mina”

 

Autores: Mestre Damasceno, Ailson Picanço, Davison Jaime, Tay Coelho e Marcelo Moraes

Ficha técnica

Presidente: Milton Abreu do Nascimento (Perácio)

Carnavalescos: Leonardo Bora e Gabriel Haddad

Mestre de bateria: Fabrício Machado (Fafá)

Rainha de bateria: Paolla Oliveira

Mestre-sala e Porta-bandeira: Daniel Werneck e Taciana Couto

Intérprete: Evandro Malandro