Em relação a avaliação complementar, os exames complementares no contexto pré-operatório devem visar encontrar e estadiar condições que aumentarão os riscos dos procedimentos, principalmente no tocante ao sistema cardiopulmonar.
Portanto, a solicitação deve ser realizada de forma individualizada e com base nas informações colhidas durante anamnese e exame físico. Ilustraremos a seguir as indicações dos principais exames complementares a serem solicitados de forma mais rotineira com seus respectivos graus de evidência e recomendação.
Para quem solicitar eletrocardiograma? História ou anormalidade ao exame físico sugestivos de doenças cardiovascular. Paciente submetido a operações intracavitárias, transplante de órgãos sólidos, cirurgias ortopédicas de grande porte ou vasculares arteriais. Alto risco de evento estimado pelos algoritmos de risco. Presença de diabete mellitus. Obeso. Idade superior a 40 anos.
Leia mais:Para que solicitar radiografia de tórax? História ou exame físico sugestivo de doença cardiorespiratória. Idade superior a 40 anos. Intervenções de médio a grande portes, principalmente intratorácicas e abdominais.
Para quem solicitar hemograma completo? Suspeita clínica de anemia ou doença crônica associada a anemia. História de doenças hematológicas ou hepáticas, Intervenção de médio e grande porte, com previsão de sangramento e necessidade de transfusão. Idade superior a 40 anos.
Para quem solicitar teste de coagulação? Paciente em uso de anticoagulação com varfarina. Paciente com insuficiência hepática. Portadores de distúrbios de coagulação ou história de sangramento. Intervenções de médio e grande porte.
Para quem solicitar dosagem de creatinina sérica. Portadores de nefropatia, diabetes mellitus, hipertensão arterial sistêmica, insuficiência hepática ou insuficiência cardíaca, se não os já houver realizado nos últimos 12 meses. Intervenção de médio e grande porte. Todos os pacientes com idade superior a 40 anos.
Outros exames complementares podem ser solicitados no contexto de estratificação de doença preexistente, investigação aprofundada de anormalidades encontradas nos exames de rotina e estabelecimento de risco cirúrgico a depender do escore utilizado.
Eletrólitos como o potássio sérico podem ser solicitados em indivíduos com uso de diuréticos, doença renal e diabetes mellitus. Espirometria é um exame interessante nos casos que envolvam doença pulmonar crônica ou abordagens cirúrgicas com planejamento de ressecção pulmonar.
Em relação ao jejum, o tempo de jejum se tornou uma preocupação constante nos casos de cirurgia, principalmente no que se refere às cirurgias eletivas, uma vez que nos casos de urgência sempre é assumido que o paciente esteja de estômago cheio e, portanto, o anestesista deve tomar as medidas cabíveis para evitar episódios de broncoaspiração.
Historicamente, os tempos de jejum se iniciaram prolongados, muitas vezes chegando próximo às 12 horas para cirurgias eletivas, já que a consequência de um episódio de broncoaspiração nesses casos costumeiramente tem consequências dramáticas para o paciente, levando a complicações importantes no peri e pós-operatório, incluindo chance de óbito no próprio momento do evento.
Atualmente se assume que o período de jejum deve ser justamente o adequado, a depender do tipo de dieta ingerida de forma que não haja descompensação de doenças crônicas preexistentes, como diabetes mellitus, início antecipado da resposta endocrinometabólica ao trauma e aumento do desconforto do paciente no pré-operatório.
Uma boa estratégia para se evitar os malefícios citados é o uso de carboidratos de alto índice glicêmico (p. ex. maltodextrina ou dextrose) diluídos em líquidos claros que podem ser administrados até 2 horas antes do ato operatório.
Admitem-se os seguintes tempos de jejum para as citadas dietas: Líquidos claros sem resíduos 2 horas. Leite materno 4 horas. Leite não humano 06 horas. Fórmulas infantis 6 horas. Refeição leve (torradas e líquidos claros) 06 horas. Refeição solida (carne e frituras) 8 horas. O tema prossegue na próxima edição de terça-feira.
* O autor é médico especialista em cirurgia geral e saúde digestiva.
Observação: As opiniões contidas nesta coluna não refletem, necessariamente, a opinião do CORREIO DE CARAJÁS.