Correio de Carajás

Distúrbios hidroeletrolítico e ácido-base

O Equilíbrio Ácido-Base (EAB) e hidroeletrolítico é a base molecular pela qual a vida se mantém. A sua monitoração inicia-se com a avaliação dos parâmetros ácido-base séricos, a maioria dos doentes portadores desses desequilíbrios necessitam de cuidados intensivos, qualquer que seja a patologia de base.

A avaliação é um instrumento fundamental, pois, além dos desvios do equilíbrio

acidobásico, acaba fornecendo outras informações de dados sobre a função respiratória e as condições de perfusão tecidual.

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Os sistemas orgânicos enfrentam dois desafios básicos para a manutenção do EAB. O primeiro desafio é a distribuição nos espaços orgânicos da cota fixa de ácidos, ingerida na dieta diária. O segundo é o destino dado ao CO2 (dióxido de carbono) gerado pela respiração celular como produto final do metabolismo aeróbio.

O organismo lança mão de uma série de mecanismos bioquímicos para manter o pH dentro dos limites compatíveis com os processos vitais, podemos destacar o papel desempenhado pelo chamado sistema tampão, sendo fundamental para o entendimento do equilíbrio acidobásico.

Nos procedimentos invasivos do organismo como as cirurgias, esse equilíbrio ácido-base pode ser muito afetado, como no processo da hiperventilação intraoperatória pode causar alcalose respiratória, e esta aumenta a afinidade da hemoglobina pelo oxigênio com bloqueio parcial da glicólise aeróbica com consequente acúmulo de ácido lático.

Cessada a hiperventilação, ao término da cirurgia, pode ocorrer hipoventilação por depressão do centro respiratório, ainda na presença dos mecanismos compensatórios da hiperventilação, o que exacerba o metabolismo anaeróbio iniciado durante a anestesia resultando em acidose metabólica, isso adiociona mais gravidade a eventuais complicações pós-operatórias aumentando o risco de disfunção orgânica.

Nos estudos do pós-operatório, temos diversos fatores que podem surgir para possíveis complicações como a depressão respiratória na reversão anestésica, favorecem o aparecimento de acidose, em contradição com outros que sugerem que toda cirurgia não complicada em paciente metabolicamente sadio tende a provocar alcalose metabólica.

Em momento da intervenção cirúrgica, os pacientes podem apresentar alterações do Equilíbrio Hidroeletrolítico (EHE), além das complicações no Equilíbrio Ácido-Base (EAB).

No período pré-operatório essas alterações podem decorrer da própria doença de base ou de problema clínicos associados.

Durante a cirurgia as alterações são proporcionais ao tempo e ao porte da cirurgia,

orientando, assim, quais procedimentos deve-se ter mais atenção e maior controle pelo anestesista, sobretudo em pacientes predispostos.

No pós-operatório os distúrbios hidroeletrolíticos estão condicionados à magnitude das alterações hormonais da resposta orgânica ao trauma e ao tempo de duração da hidratação endovenosa, necessária enquanto as vias oral e enteral não forem factíveis.

Em qualquer momento, antes, durante ou após a cirurgia, todo ato relacionado à prescrição de hidratação deve ser precedido do correto diagnóstico do estado de hidratação do paciente.

O manejo de hidratação do paciente no pré-operatório busca a restrição hídrica, visando respeitar a oliguria e a retenção de sódio em resposta à maior liberação de aldosterona e hormônio antidiuretico (ADH) desencadeada pelo trauma cirúrgico.

Outro tipo de hidratação, baseada no balanço hidroeletrolítico diário, visa a reposição de água e eletrólitos segundo as perdas diárias, o que subentende que a administração está condicionada à reação orgânica ao trauma. Já a hidratação com sobrecarga hidrossalina tem o objetivo de bloquear ou reduzir a liberação de ADH e aldosterona interferindo na resposta do organismo à cirurgia.

A alcalose é uma alteração muito frequente no pré-operatório imediato. A acidose respiratória, metabólica ou mista é a alteração mais comum na hora que sucede o

término do ato operatório. Do 1° ao 3° dia do pós-operatório a alcalose metabólica é a alteração predominante do equilíbrio ácido-base. O tema prossegue na terça feira.

* O autor é médico especialista em cirurgia geral e saúde digestiva

 

Observação: As opiniões contidas nesta coluna não refletem, necessariamente, a opinião do CORREIO DE CARAJÁS.