Correio de Carajás

REMIT II

Ainda sobre Resposta Endócrina, Metabólica e Imunológica ao Trauma. Após a injúria, o organismo do paciente traumatizado necessita de uma grande demanda de glicose para que a restauração da homeostase ocorra.

A glicose armazenada no fígado, dependendo da extensão da lesão, pode ser consumida nas primeiras 12 horas pós-trauma. Por essa razão, processo de gliconeogênese é iniciado.

A glicose será formada por meio de substratos não glicídios: as proteínas musculares e os lipídios que, após a proteólise e lipólise, serão transformados em aminoácidos, ácidos graxos e glicerol.

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A resposta hormonal ao trauma tem como um de seus principais objetivos o estímulo a gliconeogênese por meio do estímulo da produção de cortisol, catecolaminas, hormônio antidiurético, hormônio do crescimento, entre outros. Esses hormônios, além de auxiliarem a formação de glicose, promovem alterações fisiológicas no organismo do paciente.

Esse processo, estimulado pelo cortisol, pode ser exacerbado em pacientes vítimas de traumas extensos. A proteólise descontrolada leva a um comprometimento da musculatura diafragmática, fenômeno que traz prejuízo a dinâmica respiratória, e a perda de proteínas viscerais.

A insulina, hormônio essencialmente anabólico, tem sua secreção reduzida e tem sua resistência periférica aumentada para aumentar o aporte sérico de glicose. A importância do sistema insulina-glucagon no controle do nível de glicose sanguínea está no fato de que o cérebro utiliza apenas glicose como fonte energia, portanto, é essencial que a glicose seja sempre mantida acima dos níveis críticos.

A produção das catecolaminas pela medula adrenal, além de auxiliarem o processo de gliconeogênese, estimulam a taquicardia para aumentar o débito cardíaco durante a primeira fase da REMIT, promovem taquipneia para aumentar o aporte de 0, para os tecidos, aumento da atividade plaquetária e fibrinólise.

A aldosterona é estimulada pelo Sistema Nervoso Autônomo e pelo aumento do potássio liberado com a lesão celular causada pelo trauma. Esse hormônio contribui para a retenção hídrica e diminui a excreção de sódio, além de aumentar a excreção de potássio, a fim de normalizar seus níveis séricos e de H+. Sendo assim, existe no pós-operatório uma tendência natural a alcalose metabólica.

O hormônio antidiurético, nos casos de grandes traumas, sua secreção chega a elevar, segundo estudos, 50 vezes. Suas ações são osmorreguladoras, vasoativas e metabólicas. Provoca reabsorção de água livre dos túbulos distais e coletores dos rins. Sendo assim, podemos encontrar oliguria e edema no pós-operatório.

Além dos citados acimas, o hormônio do crescimento (GH) também está presente na REMIT. Apesar de ser um hormônio anabólico, o GH, no trauma, estimula a lipólise e, consequentemente, auxilia na produção de glicose para o organismo.

Em relação a resposta imunológica, durante a fase aguda do trauma os macrófagos, linfócitos e leucócitos, além de migrarem para o local lesado, promovem a síntese de citocinas. Essas substâncias atuam como hormônios e podem ter ações a distância. Essas ações tanto podem ser benéficas ao organismo quanto maléficas.

Pacientes candidatos a cirurgias eletivas podem ter uma Resposta ao Trauma controlada. A avaliação pré-cirúrgica, a decisão na técnica a ser utilizada e o manejo correto do jejum pré-operatório devem ser estimulados.

É sabido que o jejum prolongado pode levar um estado catabólico. Por esse motivo, a hidratação com Soro Glicosado 5% deve ser realizada a fim de minimizar as chances de hipermetabolismo. Além disso, sempre que possível, as técnicas cirúrgicas laparoscópicas devem ser priorizadas.

A ansiedade pré-operatória também é conhecida por aumentar a liberação de catecolaminas pelo paciente. Como explicado anteriormente, isso resultará em aumento da pressão arterial, aumento da frequência cardíaca e uma maior chance de arritmia.

Por essa razão, estudos mostram que o uso de benzodiazepínicos no pré-operatório para controlar a ansiedade dos pacientes é benéfico e deve ser estimulado.

 

* O autor é médico especialista em cirurgia geral e saúde digestiva