Correio de Carajás

Leucemia Mielocítica Crônica (LMC)

Foto/Reprodução

A LMC é uma doença maligna clonal, em geral caracterizada por esplenomegalia e produção de números aumentados de granulócitos.

A evolução é inicialmente indolente, mas leva a uma fase leucêmica (crise blástica), cujo prognóstico é mais sombrio que o da LMA de novo. A taxa de progressão para a crise blástica varia. A sobrevida global é, em média, de 4 anos a partir do diagnóstico.

Nos EUA, ocorreram cerca de 14.620 casos em 2015. Mais de 90% dos casos exibem uma translocação recíproca entre os cromossomos 9 e 22, dando origem ao cromossomo Filadélfia (Ph) e a um produto gênico de fusão, denominado BCR-ABL. (BCR é do 9, ABL do 22).

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A anormalidade cromossômica aparece em todas as células da medula óssea com exceção das células T. A proteína feita pelo gene quimérico é de 210 kDa na fase crônica e de 190 kDa na transformação blástica aguda. Em alguns pacientes, a fase crônica é clinicamente silenciosa e os pacientes apresentam leucemia aguda com cromossomo Ph.

Os sintomas desenvolvem-se de modo gradual, como fatigabilidade fácil, mal-estar, anorexia, desconforto abdominal e saciedade precoce devido ao baço aumentado, sudorese excessiva. Alguns pacientes são identificados de modo incidental, com base na contagem de leucócitos elevada.

A contagem de leucócitos é habitualmente maior que 25.000/uL, sendo o aumento constituído por granulócitos e seus precursores até o estágio de mielócito, ondepredominam as formas em bastão e maduras. Os basófilos podem responder por 10 a 15% das células sanguíneas.

A contagem de plaquetas apresenta-se normal ou aumentada. Com frequência, verifica-se a presença de anemia. O nível de fosfatase alcalina dos neutrófilos é baixo. A medula óssea é hipercelular, com hiperplasia granulocítica. A contagem de blastos medulares apresenta-se normal ou ligeiramente elevada.

Os níveis séricos de vitamina B12, proteínas de ligação da vitamina B12 e LDH estão aumentados proporcionalmente aos leucócitos. Na presença de contagens sanguíneas elevadas, podem-se observar hiperpotassemia e hipoglicemia espúrias.

A fase crônica tem duração de 2 a 4 anos. A fase acelerada caracteriza-se por anemia desproporcional à atividade da doença ou tratamento. Observa-se uma queda nas contagens de plaquetas. Aparecem anormalidades citogenéticas adicionais. A contagem de células blásticas aumenta.

Em geral, em 6 a 8 meses, sobrevém uma crise blástica franca, em que cessa a maturação e predominam os blastos. O quadro clínico é de leucemia aguda. Metade dos casos torna-se LMA, cerca de 33% exibem características morfológicas de leucemia linfocítica aguda, 10% consistem em eritroleucemia e o restante é indiferenciado.

O transplante de medula óssea alogênica tem o potencial de curar a doença na fase crônica. Entretanto, o primeiro tratamento consiste em imatinibe, uma molécula que inibe a atividade da tirosinoquinase do produto do gene quimérico. Uma dose oral diária de 400 mg induz remissão hematológica completa em mais de 90% dos casos e remissão citogenética em 76%.

Se houver um doador compatível disponível, é melhor submeter o paciente ao transplante em remissão completa. Surgiram vários mecanismos de resistência ao imatinibe e é pouco provável que ele induza remissões permanentes quando usado isoladamente; entretanto, o acompanhamento realizado não é suficiente para permitir conclusões definitivas.

O único tratamento curativo para a doença consiste em transplante de medula óssea alogênica HLA-compatível. O momento ideal para a realização do transplante é incerto, porém o transplante na fase crônica é mais efetivo que aquele realizado na fase acelerada ou na crise blástica.

O transplante parece ser mais efetivo nos pacientes tratados até 1 ano após o diagnóstico. Pode-se obter uma sobrevida livre de doença a longo prazo em 50 a 60% dos pacientes submetidos a transplante.

Nos pacientes que não têm doador compatível, o transplante autólogo pode ser útil empregando células-tronco do sangue periférico. O tratamento dos pacientes em crise blástica com imatinibe pode produzir uma resposta, porém ela não é duradoura.

 

* O autor é médico especialista em cirurgia geral e saúde digestiva.     

 

Observação: As opiniões contidas nesta coluna não refletem, necessariamente, a opinião do CORREIO DE CARAJÁS.