A partir desta edição, o Jornal CORREIO publica uma série de três reportagens sobre a situação do transporte público em Marabá. A ideia é traçar um diagnóstico do setor a partir dos anseios do usuário, apontando os entraves e as possíveis saídas para o setor. Nesta edição, o jornal começa ouvindo justamente o usuário do serviço, que é a razão de ser do transporte público, mas que tem penado em razão do atendimento que não atende suas necessidades como deveria.
Sem carro próprio para se deslocar de um ponto a outro em Marabá, Cláudia Souza necessita todos os dias do transporte público. Mas ela não espera só. No colo carrega a filha, ainda pequena, que recebe acompanhamento na Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE), localizada no Bairro Belo Horizonte.
O deslocamento feito do Bairro Nossa Senhora Aparecida, na Nova Marabá, até a Cidade Nova não é muito fácil, como ela mesmo conta. “Já fiquei mais de uma hora esperando o ônibus do Novo Horizonte”, lembra. Além disso, revela que já passou por momentos constrangedores dentro dos coletivos que estão sempre “muito cheios” e “caindo aos pedaços”.
Leia mais:Em um discurso carregado de indignação, Cláudia confessou à reportagem do CORREIO que já foi desrespeitada até por uma trocadora do ônibus, que discriminou a filha com deficiência. “Ela não nasceu assim, porque quis, mas porque Deus a fez assim”, desabafa, dizendo que todas as vezes é preciso pedir um lugar para se sentar com a pequena, pois os ônibus costumam estar lotados e sem bancos livres.
Muitas vezes, ela teve de desembolsar um dinheiro a mais para andar no taxi-lotação e conseguir chegar ao destino com segurança e dentro do horário. Para a mulher, a única solução para frear o sucateamento do transporte público no município é com a inserção de outra empresa de transporte coletivo. “Assim, com a concorrência, eles ficariam espertos para oferecer um serviço melhor”.
Situação só piora
A problemática do transporte público em Marabá perdura por anos e há quem diga que só piora. Intervalos de 1h30 entre os veículos tem se tornado alvo de reclamações de passageiros. A situação se agrava em horários de pico, ao 12h e às 18 horas. Ao longo dos últimos anos, dezenas de pessoas já denunciaram ao CORREIO a precariedade dos ônibus e questionaram o aumento da passagem, pesando a qualidade dos carros e quantidade da frota com o acréscimo da tarifa – ocorrido em dezembro de 2016.
Ivisson Igor de Almeida Oliveira, usuário dos coletivos, classifica o serviço como regular. Morador do São Félix, o vigilante lamenta a quantidade de horários e de carros destinado ao bairro. “É mais de uma hora de viagem e se perde o ônibus das 8 horas, despois só às 10 horas”. Ele conta que enfrenta problemas com o transporte público tanto para sair de onde mora, quanto para voltar apara casa. E revela que, em muitas viagens, preferiu usar o táxi-lotação do que o coletivo.
Para Igor, houve aumento de passagem, mas o serviço prestado pela empresa de ônibus continuou precário. Segundo ele, é imprescindível investir no aumento da frota e também regularizar os horários dos carros, que muitas vezes não seguem o cronograma previsto.
Moradora da Folha 7, Januária Ferreira Lima tem passe livre e, por isso, anda apenas de ônibus pela cidade. A idosa disse ao CORREIO que já teve que esperar muito tempo pela vinda do ônibus e acrescenta que muitas pessoas não respeitam a terceira idade, tendo que ir em pé de um ponto a outro por falta de banco para se sentar. Os cobradores e motoristas que deveriam garantir o direito dela a um assento, acabam se calando, conforme ela mesma conta.
Engana-se quem pensa que há queixas apenas em relação ao transporte coletivo. Quem precisa andar na garupa de mototaxi ou pega um taxi lotação todos os dias também costuma passar por experiências desagradáveis com cobranças indevidas e condutores em alta velocidade, colocando em risco a vida do usuário. “Essa situação em Marabá precisa ser melhor fiscalizada; pagamos impostos para isso”, reclama o estudante Gabriel dos Santos, residente no Bairro Belo Horizonte.
DMTU orienta usuários sobre como reclamar
Ouvido pela reportagem do Jornal CORREIO, o agente Luiz Carlos Matos Borges, coordenador de Transportes do Departamento Municipal de Trânsito e Transporte Urbano (DMTU), orientou sobre como o usuário do transporte público deve fazer para reclamar do serviço prestado em Marabá.
Segundo ele, em relação às empresas de ônibus que atuam em Marabá, Borges explica que elas têm um setor específico para tratar desse assunto, com número de telefone e e-mail que é para estar disponível em cada um dos 70 ônibus oficiais que circulam na cidade, por onde o usuário deve entrar em contato para fazer suas queixas.
Paralelo a isso, o usuário pode fazer sua reclamação diretamente no DMTU, mas nesse caso a pessoa precisa ir à sede do órgão, na Folha 32, para formalizar a denúncia, por isso Borges entende que pode ser mais viável denunciar à empresa, justamente pela comodidade.
No tocante ao serviço de mototaxi, que também tem sido alvo de reclamações dos usuários, a queixa predominante é em relação à cobrança indevida das corridas, pois muitos profissionais cobram acima da tabela. “O que a gente pede é que o usuário constante desse modal tenha sua tabela, que pode adquirir junto ao próprio órgão de trânsito ou com o próprio mototaxista para exigir que cobre de acordo com a tabela”, orienta Borges.
Por outro lado, ele observa que em Marabá existem 700 mototaxistas cadastrados, o que dificulta a fiscalização, até porque o serviço funciona 24 horas por dia e os abusos são cometidos geralmente durante a madrugada, que é quando a fiscalização do órgão de trânsito diminui. “É complexo a gente conseguir acompanhar”, admite.
Em relação ao serviço de taxi-lotação, que tem 78 veículos cadastrados em Marabá, as cobranças não têm sido grandes. Segundo Borges, as queixas geralmente são ligadas às condições do veículo, pois muitos estão sucateados, e também a alta velocidade que os taxistas que fazem o serviço de lotação viajam. Isso ocorre porque geralmente eles tentam fazer o maior número de viagens possível, de modo que alguns podem colocar em risco a vida do paciente. (Nathália Viegas e Chagas Filho)