Correio de Carajás

Noan e Geovana são campeões paraenses, mas Marabá não valoriza os talentos

Os dois adolescentes de 14 anos são feras na natação, mas sofrem sem apoio representar a cidade natal em grandes competições

Os atletas Noan Lemos e Geovana Silva representam Marabá e o Norte em várias competições, embora não recebam incentivo algum de seu município

À medida que entram na adolescência, a maioria dos jovens de 14 e 15 anos está imersa em um mundo de descobertas e socialização. Para eles, as prioridades muitas vezes giram em torno de questões típicas dessa fase, como a busca por autonomia, o fortalecimento das amizades e a adaptação aos desafios escolares. Em contraste, para Noan Lemos e Geovana Silva, nadadores marabaenses altamente disciplinados, com rotinas intensas de treinamento, a vida gira em torno de um conjunto muito diferente de prioridades. Seus dias são meticulosamente estruturados em torno de treinos, aulas de pilates, academia e sessões de fisioterapia.

QUEM É GEOVANA SILVA?

Aos 11 anos, Geovana Silva iniciou sua jornada na natação competitiva em 2021, apesar de nadar desde os 8 anos, por diversão. Sua semana é intensamente ocupada com treinos e compromissos. Ela pratica pilates, frequenta a academia e se concentra principalmente na natação.

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De segunda a sábado, Geovana se encontra na piscina, com duas sessões em certos dias. Fora isso, há treinos noturnos, sessões de academia e pilates para flexibilidade e força. A cada semana, a jovem percorre uma média de 24km nas piscinas.

Seu domínio nas águas é notável: “Minha especialidade é crawl, sendo meu melhor estilo, mas também tenho me destacado no nado borboleta, costas e peito, formando o famoso medley”, conta.

Apesar da agenda repleta e voltada para o nado profissional, ela brinca que deseja ter o luxo de tempo livre para dormir o quanto quiser, algo que vê nas rotinas de suas amigas. No entanto, sabe que os compromissos diários exigem disciplina. Mesmo aos domingos, acorda cedo, não para treinar, mas para servir como coroinha na igreja que frequenta, mantendo firme sua espiritualidade.

Geovana já se destaca nas competições regionais, liderando nos 200m medley e nos 50m borboleta em seu estado. Além disso, está se preparando para o campeonato brasileiro juvenil em João Pessoa, representando sua categoria com orgulho e determinação.

QUEM É NOAN?

Noan Lemos inicia sua rotina à tarde após suas atividades matinais de estudo. Ele também se dedica ao pilates, alternando-o com a fisioterapia para prevenir lesões. Durante a semana, frequenta a academia e treina a natação à noite, seguindo uma agenda rigorosa, como a de Geovana.

Desde os cinco anos, Noan aprendeu a nadar, mas foi somente aos 11 que começou a treinar profissionalmente: “Semanalmente, nado cerca de 24km nas piscinas, treinando na Vila Militar Castelo Branco”, conta. Tanto ele quanto Geovana são atletas federados pelo clube do Remo, de Belém, uma exigência para participar em competições.

O adolescente de 14 anos se destaca nas especialidades de crawl e peito, em distâncias que variam de 50 a 100 metros. Fora do mundo da natação, ele gosta de passar o tempo jogando vídeo game quando não está treinando, competindo ou estudando.

Ele é reconhecido como o melhor nadador em sua categoria, liderando os 50 metros na modalidade peito, além dos 50 e 100 metros livres, representando a região Norte. Nacionalmente, Noan está em 8º lugar em sua categoria. Agora, ele se prepara para competir no Campeonato Brasileiro na categoria infantil 2 (13 e 14 anos), que acontecerá no início de julho, em Salvador.

O PREÇO DE UM SONHO

Mas, afinal, quanto vale um sonho? No universo exigente da natação competitiva, como vivenciado por ambos, os custos e desafios financeiros para suas famílias são significativos e muitas vezes subestimados. A disciplina e dedicação desses atletas requerem não apenas tempo e esforço, mas também um investimento considerável por parte de seus pais e apoiadores.

O suporte financeiro necessário para sustentar essa rotina é substancial. Além dos gastos com viagens frequentes para competições e treinos, os custos com academia, pilates, fisioterapia e roupas específicas para competições esportivas são significativos. Cada traje de competição pode chegar a custar até R$ 3 mil e tem uma vida útil limitada de apenas alguns meses, devido ao desgaste provocado pelo uso constante.

As famílias dos dois atletas se uniram pela rotina comum de treinamentos e se ajudam mutuamente

FALTA DE APOIO MUNICIPAL

À reportagem do Correio de Carajás, os pais de Geovana e Noan destacam a falta de apoio público em comparação com esportes mais populares, como o futebol: “Precisamos recorrer a rifas e, em alguns casos, ao governo estadual em busca de ajuda financeira, embora tais apoios sejam geralmente limitados aos atletas de alto desempenho que alcançam os primeiros lugares nas competições”, conta Georgina Morais, mãe de Geovana.

Segundo relatos dos pais, o custo mensal estimado para sustentar um atleta como Noan pode chegar a R$ 4.800, sem considerar os gastos extras com trajes e acessórios. O pai de Noan, Francisco Carlos de Oliveira, aponta que os trajes de competição, feitos com materiais de alta tecnologia como fibra de carbono, custam em média R$ 4 mil para mulheres e R$ 3.600 para homens.

“Até mesmo equipamentos básicos, como óculos de natação, podem custar entre R$ 300 e R$ 400”, explica.

OBSTÁCULOS

Além dos custos diretos relacionados ao treinamento e competições, as famílias também enfrentam desafios logísticos, como custos de transporte para levar os atletas aos treinos e eventos. A falta de infraestrutura esportiva adequada em sua cidade natal requer que os pais paguem pelo uso de piscinas e por treinadores qualificados.

A ausência de apoio governamental direto e programas de incentivo ao esporte torna ainda mais desafiador para os pais sustentarem financeiramente os sonhos atléticos de seus filhos. Marcos Antônio dos Reis, pai de Geovana, conta que está ativamente envolvido em buscar apoio político para a criação de um programa de bolsa-atleta em Marabá, visando proporcionar uma oportunidade mais equitativa para jovens talentosos como sua filha e Noan.

Apesar das dificuldades financeiras e logísticas, o impacto positivo desses atletas na comunidade é inegável: “Eles não apenas inspiram futuros nadadores, mas também demonstram a importância de investir no desenvolvimento esportivo local”, levanta sabiamente Francisco.

No entanto, para que esses talentos continuem a florescer, é essencial um compromisso mais amplo e sustentado ao nível municipal e estadual para apoiar e valorizar adequadamente o esforço e dedicação desses jovens atletas. O que não acontece, deixando o questionamento “Onde está a bolsa-atleta para Geovana e Noan?”.

(Thays Araujo)