Sim, este é mais um texto sobre racismo, mas não “só” sobre isso.
Tenho acompanhado os jogos do Águia de Marabá, no Estádio Zinho Oliveira, e confesso que algumas coisas me incomodam.
As reclamações, os gritos e até mesmo os xingamentos são elementos que “pertencem ao futebol”, como diria Wanderley Luxemburgo. Mas até isso precisa de limites.
Leia mais:Ver um bandeirinha ou um juiz marcar um lance que prejudica o seu time é ruim e provoca revolta mesmo. Por vezes, o palavrão desata da boca mesmo e aí já era. Mas o que eu tenho visto em algumas partidas é diferente.
Em todos os jogos que acompanhei do Águia, o quarteto de arbitragem é xingado antes mesmo de começar o jogo, antes mesmo de “errar”. Basta a simples presença em campo para serem xingados. E quando eu digo que vi isso em todos os jogos, é exatamente isso que eu quero dizer: em cada um e todos.
E ali, dentro da arena, tudo é permitido em termo de ofensas. “Corno”, “viado”, “filho da p*ta”. São tantos xingamentos que surpreendem até a mim, que sou nascido e criado na periferia de Marabá, frequentando campos de pelada desde criança.
Então esse contexto favorece a quem já é racista, a quem nunca conseguiu se desvencilhar das piadas racistas que marcaram a infância e adolescência de todos nós, que já temos uma certa idade e vivemos um tempo em que o racismo era “aceitável”.
O que quero dizer é que esse ambiente bélico, onde o torcedor tem sempre razão e é livre a manifestação, dá margem para quem já é racista.
E foi nesse contexto que alguém se sentiu no direito de proferir um termo racista a um jogador negro do Caeté.
A pessoa acusada desse crime está devidamente processada e responderá por ele, como tem que ser, até como efeito pedagógico.
Longe de comparar o crime de racismo a um xingamento qualquer, esse episódio deveria servir de lição para que todos nós nos comportássemos melhor no estádio. O grito, a vaia, o palavrão solto no ar em tom de desabafo são componentes do jogo, mas o respeito também precisa ser.
Quem ofende, injuria, xinga um jogador do time adversário ou um juiz ou assistente, se comporta como um cachorro correndo atrás do carro, pois se o motorista parasse, o que o cachorro faria com o carro?
Observação: As opiniões contidas nesta coluna não refletem, necessariamente, a opinião do CORREIO DE CARAJÁS.