Katia Silene Tonkyre, cacique da aldeia Akrãtikatêjê (PA), vai receber o prêmio internacional “A Alma da Ruralidade”, em reconhecimento por suas iniciativas de organização e empenho para empreender, coletar e produzir e, ao mesmo tempo, educar e conscientizar sobre a importância da conservação e da proteção do meio ambiente na Amazônia.
O prêmio deverá ser entregue em abril, em evento na Costa Rica, sede do Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA), responsável pela premiação.
A aldeia de Katia, junto com outras 27, integra a Terra Indígena (TI) Mãe Maria, localizada no município de Bom Jesus do Tocantins, a 10 km de Marabá, no sudeste do Pará.
Leia mais:Essa não é a primeira vez que o trabalho de Katia é, de alguma forma, reconhecido fora do sudeste do Pará. Em agosto de 2023 a reportagem “Cacique muda história de aldeia com empreendedorismo” do Jornal CORREIO, idealizada pelo jornalista Ulisses Pompeu, ganhou o 10º Prêmio Sebrae de Jornalismo, na etapa estadual.
Ao Correio de Carajás, na manhã desta terça-feira (30), a cacique falou sobre a emoção de ser internacionalmente reconhecida. “Esse prêmio representa a continuidade do meu trabalho. São os frutos do meu trabalho e eu sempre venho lutando, não só pelo meu povo, mas em nome dos povos indígenas de todos os territórios e principalmente da TI Mãe Maria, do Povo Gavião”.
A cacique honra seus ancestrais ao contar que aprendeu com eles, principalmente com o pai, sobre a missão de proteger a floresta, a cultura, os costumes e a defesa do espaço ocupado pelos povos indígenas. Para ela, todos esses elementos representam o trabalho que desenvolve e que a cada ano ganha mais visibilidade dentro e fora do Pará. “Eu creio que esse prêmio é uma resposta e é um reconhecimento que eu tenho não só aqui no Brasil, mas fora também. Então eu agradeço muito pelo apoio de todos”.
Como exemplo de parcerias, ela cita a Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (UNIFESSPA), a Universidade do Estado do Pará (UEPA) e o Instituto Federal do Pará (IFPA). Amigos e demais órgãos públicos e da sociedade civil também são lembrados. “Me sinto muito honrada, prestigiada, elogiada e mais forte”.
SAIBA MAIS
Líder de uma aldeia na qual vivem 85 indígenas de 23 famílias da etnia Gavião da Montanha, dedicadas principalmente à coleta, produção e venda de castanhas e de pescado, mel e frutas, Katia Silene receberá o prêmio “A Alma da Ruralidade”, além de ser convidada pelo IICA a participar de diversas instâncias consultivas do organismo especializado em desenvolvimento agropecuário e rural.
“Trata-se de um reconhecimento aos que cumprem um duplo papel insubstituível: ser avalistas da segurança alimentar e nutricional e, ao mesmo tempo, guardiões da biodiversidade do planeta pela produção em qualquer circunstância. O reconhecimento também tem a função de destacar a capacidade de promover exemplos positivos para as zonas rurais”, diz o diretor-geral do IICA, Manuel Otero.
SOBRE KATIA
Katia Silene Tonkyre é a primeira mulher cacique da aldeia Akrãtikatêjê. Ela é filha do respeitado cacique Hõpryre Ronre Jopikiti Payré, um lutador pelos direitos dos indígenas já falecido, que implantou na aldeia o conceito de empreendedorismo e de produzir sem agredir a natureza, beneficiando a comunidade com a organização, a coleta e a produção de castanhas, maracujá, açaí, cacau, cupuaçu e outras frutas amazônicas, além de mel, animais e criação de peixes, o que gera empregos e receitas.
Katia continuou e aperfeiçoou esse legado, ampliando-o para a realização de parcerias e de ações que contribuíram para o bem-estar da comunidade.
“Eu não concordo quando alguém diz que é necessário destruir a floresta para criar gado ou investir em soja. Nós queremos alcançar um projeto sustentável e queremos crescer, mas não destruindo a natureza. Nós valorizamos os nossos produtos. Não é necessário destruir. É possível conciliar as duas coisas, fazer o projeto e manter a floresta em pé, utilizá-la. A floresta nos dá uma farmácia verde e rica, temos os nossos animais e temos a nossa floresta”, diz Katia.
“A natureza, a floresta, somos nós. Nós somos a Amazônia, nós somos a floresta. Quando uma árvore morre, morre uma parte de nós, pois somos as raízes dessa floresta. E a castanha é o nosso ouro; também temos açaí, cacau e peixes, e agregamos valor à nossa produção sem agredir a natureza”, contou a cacique. (Luciana Araújo, com informações da Agência Brasil)