Correio de Carajás

Estado abandona saúde em Marabá e na região

Não há discurso capaz de desbancar a realidade. Diga o que disser, o governo Simão Jatene e aqueles que o apoiam estão marcados pelo descaso que vêm demonstrando com Marabá e região nas áreas mais sensíveis, como é o caso da saúde. Embora a cidade conte com um Hospital Regional, os atendimentos estão aquém do necessário para uma região que concentra mais de 1,3 milhão de habitantes. A casa de saúde não dá conta de atender a demanda, mas o governo do Estado parece satisfeito.

Exemplo disso, é a ala destinada a hemodinâmica do Hospital Regional, que hoje é apenas uma sala vazia, um desalento para os doentes renais de toda a região, que perambulam de um lado para outro em busca de tratamentos de hemodiálise, que, se não realizados a tempo e na frequência correta, podem decretar sua morte. É assim que o governo do Estado olha para os doentes desta região, como peças descartáveis.

Pode-se alegar falta de recursos, ou mesmo entraves burocráticos para a aquisição das 20 máquinas que vão atender aos pacientes. Mas basta olhar para o outro lado da rodovia e contemplar o suntuoso prédio do Centro de Convenções de Marabá, que fica bem em frente ao hospital, para entender que o problema nunca foi falta de dinheiro. Foi falta de prioridade, falta de zelo com a vida de cidadãos que estão no limiar da fragilidade.

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É claro que o Centro de Convenções é uma obra importante – de significado estratégico para Marabá –, inaugurado em dezembro do ano passado com recursos de R$ 31 milhões. O problema é que desde 2013 o prédio da hemodinâmica foi concluído. Mas, de lá para cá, nestes últimos cinco anos, o bloco passou apenas por acabamentos. Isto mesmo, foram cinco anos de acabamento, mas o prédio continua sendo apenas um lugar vazio.

Cerca de 40 dias atrás, durante uma reunião com vereadores, o diretor do Hospital Regional, Valdemir Fernille Girato confirmou aos representantes do Poder Legislativo Municipal que o atual secretário de Estado de Saúde, Victor Mateus, dividiu a compra de equipamentos e funcionamento pleno do Regional em etapas.

Desse modo, a hemodinâmica, o centro cirúrgico e mais 31 leitos não serão concluídos em 2018 e não existe previsão definida para esses investimentos. “O custo é alto e há que ser levado em conta o valor a ser gasto para a manutenção do HR após a nova estrutura”, finalizou.

Na época da reunião, o diretor explicou aos vereadores que a alegação do governo do Estado é de que não há verba no orçamento deste ano para fazer esses investimentos. Daí entra em cena a comparação com o Centro de Convenções, que recebeu os recursos necessários e está em funcionamento.

ASCOM NÃO CONFIRMA DATA

Sobre o assunto, a Assessoria de Comunicação do Regional, procurada pelo jornal, explicou que a estrutura física da Hemodiálise está concluída. A unidade aguarda a chegada dos equipamentos que estão vindo de São Paulo. A previsão de entrega – segundo a assessoria – é para o dia 15 do mês que vem.

Serão 20 máquinas no total, além de equipamento para o processo de osmose reversa (filtragem da água), computadores, poltronas, aparelhos de ar condicionado, dentre outros. O valor investido para equipar o setor é de R$ 1,788 milhão. Mas em momento algum a data para início das atividades é confirmada.

Sobre o orçamento total da obra, segundo o hospital, o valor é de R$ 28 milhões. Seguindo o cronograma, estão sendo realizadas obras no bloco de apoio e logística, hemodinâmica e na área onde funcionarão mais 31 leitos de internação. Isso acontece desde 2013.

Para se ter ideia do quanto a obra é importante para os pacientes desta região, a meta é de que o novo bloco atenda cerca de 103 pacientes por mês, produzindo uma média de 1.500 sessões/mês. Além da Hemodiálise, o projeto contempla o serviço de Hemodinâmica, mais uma sala no Centro Cirúrgico, seis leitos de Unidade de Cuidados Intermediários, 31 leitos de internação, quatro novos leitos de Acolhimento, uma Central de Resíduos Sólidos e um Centro de Ensino e Pesquisa.

 

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Os municípios atendidos pelo Hospital Regional de Marabá são Abel Figueiredo, Bom Jesus do Tocantins, Brejo Grande do Araguaia, Breu Branco, Canaã dos Carajás, Curionópolis, Dom Eliseu, Eldorado do Carajás, Jacundá, Itupiranga, São João do Araguaia, Goianésia do Pará, Marabá, Nova Ipixuna, Novo Repartimento, Palestina do Pará, Parauapebas, Piçarra, Rondon do Pará, São Domingos do Araguaia, Tucuruí e São Geraldo do Araguaia.

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Médico denuncia prejuízo ao curso de Medicina

 

Não é de hoje que a atmosfera está meio pesada no Hospital Regional de Marabá. Recentemente o CORREIO divulgou que o médico David Toseto, diretor clínico da própria instituição, publicou um desabafo no WhatsApp, que rapidamente viralizou em vários grupos e outras redes sociais, criticando a forma como a direção estaria tratando três pediatras e denunciando a política desenvolvida pela atual administração do hospital.

No desabafo, o médico, que também é coordenador adjunto do curso de Medicina da Universidade do Estado do Pará (UEPA), em Marabá, aponta que essa política pode prejudicar o bom andamento do curso, que deve formar dentro de dois anos os primeiros médicos.

Na denúncia, o médico relata que há exatos 12 anos, ele e as pediatras Claudia Dizioli Bueno, Maria Angélica Carneiro e Mara Freitas chegavam a Marabá para estruturar e dar início ao funcionamento das UTIs Adulto, Pediátrica e Neonatal, assim como os serviços de Pediatria e Cardiologia do Hospital Regional de Marabá, mas agora as três profissionais foram demitidas.

Toseto lembrou também que os serviços foram estruturados e conduzidos com muito zelo e dedicação, contando sempre com o respeito, o apoio e o reconhecimento dos pacientes e da população local até os dias atuais.

“O que estamos presenciando dentro do Hospital Regional é extremamente desalentador. A direção do hospital, através de processos licitatórios nebulosos e sem nenhuma transparência, motivada talvez por interesses políticos, acaba de desligar o grupo de docentes da Pediatria da UEPA das UTIs do hospital e já avisou que num futuro próximo também desligará o grupo da UTI Adulto, no qual fazem parte também mais quatro docentes da UEPA, inclusive três que atuam no Internato”, denuncia o médico.

Não bastasse isso – continua ele –, o hospital ainda tem oferecido, mesmo após convênio firmado entre UEPA e HRSP, grande resistência para permitir o acesso dos alunos ao hospital para aulas e treinamento, além de desenvolvimento de pesquisas como coleta de dados para TCAs, TCCs, entre outros trabalhos.

“Muito tristes estes fatos, senhores. O intuito deste relato, na verdade, além de expressar meu profundo pesar por tudo isso, é também de tentarmos unir forças para que a faculdade de Medicina da UEPA em Marabá possa continuar crescendo e se transforme numa realidade incontestável, não deixando que atitudes como essa da direção do Hospital Regional de Marabá possa nos desanimar. Salvemos o curso de Medicina de Marabá!”, alinhavou David Toseto.

Sobre o assunto, a Assessoria de Comunicação do Regional informou apenas que o convênio entre o Hospital e a Universidade do Estado do Pará foi assinado em 6 de outubro de 2016. Atualmente, o programa de estágio atende 38 estudantes do curso de Medicina. Eles realizam atividades em diversas especialidades nas Unidades de Internação, Centro Cirúrgico e Ambulatório, todas acompanhadas por preceptores.

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Regional de Marabá encolheu se comparado a outros da mesma rede

 

Não se pode negar a importância do Hospital Regional de Marabá, mas também é preciso ter consciência de que ele ficou pequeno para a demanda da região, quando comparado a outros dois hospitais regionais instalados nas cidades de Santarém e de Redenção, que atendem um público menor. Isso se reflete na quantidade de leitos e de atendimentos.

Para se ter ideia, há 11.200 pessoas para cada leito do Hospital Regional de Marabá. Por outro lado, 7.200 pessoas para cada leito do hospital em Santarém. Quando se compara com Redenção, a situação é ainda mais gritante. Ali são 5.000 habitantes para cada leito disponível.

O Hospital Regional do Baixo Amazonas do Pará, Dr. Waldemar Penna, sediado no município de Santarém, por exemplo, tem 144 leitos, ao passo que o de Marabá tem apenas 115. São quase 30 leitos a mais em Santarém para atender uma população de 1,1 milhão de habitantes. Ou seja: 200 mil habitantes a menos que o de Marabá. É quase uma Marabá inteira em termos de população.

Os leitos lá estão divididos em 17 Clínicos, 45 Cirúrgicos, 19 Pediátricos, 21 Oncológicos, 2 Obstétricos, 20 UTIs Adulto, 10 UTIs Pediátrica, 10 UTIs Neonatal. O hospital possui, ainda, um Centro Cirúrgico com cinco salas.

Em Marabá, os 115 leitos estão assim divididos em 23 para Clínica Médica, 31 Clínica Cirúrgica, 11 Clínica Pediátrica, 4 Clínica Obstétrica, 20 UTIs Adulto, 9 UTIs Neonatal, 9 UTIs Pediátrica.

Na comparação com o Hospital Regional Público do Araguaia, em Redenção, no sul do Pará, o Hospital de Marabá também está proporcionalmente aquém, pois embora aquela casa de saúde tenha 100 leitos (15 a menos que Marabá), é responsável por atender apenas 15 municípios da região do Araguaia, beneficiando uma população de cerca de 500 mil habitantes. Ou seja, praticamente um terço do que é atendido por Marabá.

Mas o que dói na comparação entre Marabá e Redenção é justamente o fato de que lá existem 22 máquinas de hemodiálise com capacidade para atender a 132 pacientes em três turnos. Aqui, há apenas um salão vazio há cinco anos. (Da Redação)