Recebi esta semana dois amigos em conversa de WhatsApp. Era como se estivéssemos sentados numa sala, conversando, como fazíamos nos velhos tempos. Andreia Veronese me dizia como ela ama enfeitar a casa para o Natal, para receber os amigos, parentes e agitar a criançada da família. Prepara-se durante um mês para que a decoração de casa fique impecável – os natais sempre são na casa dela. Todos sempre de camisa vermelha ou pelo menos um detalhe dessa cor na parte de cima. Ela serve a todos, trocam presentes e celebram a chegada do Menino Jesus.
Andreia Veronese é uma psicóloga apaixonada pela vida, celebra tudo que pode e incentiva os três filhos a fazerem o mesmo. Simplesmente ama, embora o marido não tenha a mesma empolgação dela.
Mas há a versão de Natal de meu amigo de longas datas Carlos Eduardo. Ele me passou um textão, o qual reproduzo aqui com autorização dele por escrito:
Leia mais:“Ainda acredito em Deus, mas ele fora do sacrário e sem a pompa de rei intocável ou pedinte de reverência a cada vez que se passa em frente a uma igreja. Por anos, repeti o gesto automático. Agora, meu corpo dá um choque. Faço ou não faço o sinal da cruz?
Lembro, quando pivete, cansar de ouvir que o aniversariante no Natal era o menino Jesus. Jeito besta de tentar compensar a falta de lembrancinha que fosse por causa da récua de filhos.
Mais do que as chatas lições de moral dos padres, dos pastores, dos espíritas, de qualquer emissário divino, apreciava o ritual do Natal e os encontros. Ainda gosto. Tão teatrais que ia à missa na Igreja Católica mais pelo espetáculo e pelas cantorias de nascer.
Uma história, um belo conto de atravessar, narrada à meia noite e meninos e meninas ainda acordados. Quando fui pixote, se dormia com as galinhas. A não ser nas férias, no Natal e no Ano Novo.
Pois via naquilo um encantamento. A fuga de uma família num jumento (achava o cenário parecido com o semiárido daqui), um vilão mal amado que queria esfolar porque sentia ameaçado o trono. Soldados, estrela mágica, reis em camelos, ouro, incenso, anjos, bichos parteiros…
Gostava do enredo de ouvir dizer. Do marido que não havia engravidado a amada e teve de decidir se queria adotar um filho surgido do vento. Pois adotou e nunca desfez dele. Nem repetia que rebento adotado era um perigo por não ser sangue do sangue.
Já atravessei 49 anos natais. Os primeiros, óbvio, não tenho recordações. Nem me lembro de quando comecei a gostar da festa. Mas sempre tive a sensação que, por aqueles dias, viver mais legal.
Além de achar lugar comum repetirem que o verdadeiro sentido do Natal é o nascimento de Cristo, me enfada ouvir que Papai Noel é criação do cão para o comércio vender.
Papai Noel, uma apropriação da Coca-Cola e blá, blá, blá…. eu preferia, Ulisses Pompeu, te escrever o conto do velho barbudo que voa num trenó e distribui presentes de graça para os bons e os ruins. Tão genial a narrativa quanto o fantasioso enredo da manjedoura.
Na minha cidade, Teresina, conheci a história de um Papai Noel aposentado. Já meio caduco, mais ainda metido a sem vergonha, que convidou a esposa de um amigo meu para tomar banho com o bom velhinho.
A história, você já sabe, amigo. Terminou quase em tragédia. Então, não tenho motivos para celebrar um natal fantasioso. Quero um final de ano com reflexão, com ajuda às pessoas carentes, com mudança de hábitos, com tudo que for possível para me tornar uma pessoa melhor”.
Eu ainda prefiro o Natal de Andreia Veronese ao de Carlos Eduardo. Alguma coisa pulsa em mim que não dá para apagar o nascimento do Messias!
Uma vez mais, as inflexíveis mãos do tempo viraram doze páginas no calendário da história, trazendo-nos de volta o natal. Contentes nos flagramos remexendo o profundo de nossas mentes e recordando tradições favoritas. E é tão agradável e maravilhoso, não é? Mas, se de repente, algo de inesperado se intromete em nosso mundo e um a um apaga nossos sonhos, ainda assim será Natal. Porque a realidade do Natal não está em nossas coleções individuais de preferências ou memórias inesquecíveis.
A realidade do Natal está na pessoa de Cristo, o filho de Deus, que voluntariamente se tornou um de nós, pois só assim poderia nos mostrar o caminho para o céu.
Observação: As opiniões contidas nesta coluna não refletem, necessariamente, a opinião do CORREIO DE CARAJÁS.