O câncer de esôfago representa 2% de todos os tumores malignos. Mas, apesar de raro, está entre os tumores de crescimento mais rápido. Na maioria dos casos, quando diagnosticado, já começou a disseminar células cancerosas para outros órgãos saudáveis.
Nos EUA, 16.980 casos e 15.590 mortes ocorreram em 2015 por carcinoma de esôfago, sendo ele menos frequente nas mulheres. As incidências maiores são verificadas em regiões da China, Irã, Afeganistão, Sibéria e Mongólia.
Nos EUA, os negros são mais acometidos que os brancos. Em geral, os pacientes se apresentam na sexta década de vida ou com mais idade; a sobrevida em 5 anos é < 10%, uma vez que a maioria dos pacientes se apresenta com a doença em estágio avançado.
Leia mais:O carcinoma de células escamosas ocorre em 20% dos casos, na maioria das vezes nos dois terços superiores. Cerca de 75% são adenocarcinomas, geralmente no terço distal, surgindo em áreas com metaplasia de epitélio colunar (esôfago de Barrett), tecido glandular ou como extensão direta de adenocarcinoma gástrico proximal. O linfoma e o melanoma são raros. Cinco por cento de todos os casos de câncer de esôfago ocorrem no terço superior, 20% no terço médio e 75% no terço inferior.
Os principais fatores de risco para carcinoma de células escamosas são o consumo abusivo de álcool e o tabagismo (a combinação tem efeito sinérgico). Outros fatores de risco consistem em ingestão de solução desinfetante com a estenose do esôfago, exposição à radiação, cânceres de cabeça e pescoço, acalasia, inalação de opiáceos, síndrome de Plummer-Vinson, tilose, ingestão crônica de chá extremamente quente e deficiências de vitamina A, zinco ou molibdênio. Esôfago de Barrett, refluxo gastresofágico crônico, obesidade e tabagismo são fatores de risco para adenocarcinoma.
Um fator que agrava e acelera o desenvolvimento desse tipo de câncer é que há vários linfonodos vizinhos ao esôfago. Isso facilita que o tumor se espalhe por meio da rede linfática, podendo invadir outros órgãos, como a membrana que reveste o pulmão e a que reveste o coração, a traqueia, os brônquios e a aorta. Dessa forma, tardiamente, a cura se torna muito difícil.
Disfagia progressiva (dificuldade de deglutição), primeiro para sólidos, depois líquidos, perda acelerada de peso é comum, dor torácica (por disseminação ao mediastino), odinofagia (dor à deglutição), aspiração pulmonar (obstrução, fístula traqueoesofágica), rouquidão (paralisia do nervo laríngeo), hipercalcemia. O sangramento é infrequente, ocasionalmente intenso; o exame físico com frequência é inespecífico.
O exame com contraste duplo baritado deglutido pode ser útil como teste inicial nos casos de disfagia. A endoscopia digestiva alta é o exame mais sensível e específico. A confirmação patológica pode ser obtida combinando biópsia endoscópica com exame citológico por escovação da mucosa (nenhum dos dois é sensível o suficiente quando feito isoladamente). Tomografia e ultrassonografia endoscópica são usadas para avaliar a disseminação local e para os linfonodos regionais. A PET/TC também pode avaliar linfonodos mediastinais e locais distantes.
A ressecção cirúrgica é viável em apenas 40% dos pacientes, estando associada a uma alta taxa de complicações (fístula, abscesso, aspiração). Carcinoma de células escamosas: a ressecção cirúrgica após quimioterapia (5-fluoruracila (5FU], cisplatina) mais radioterapia prolongam a sobrevida, podendo aumentar a taxa de cura. Adenocarcinoma: a ressecção curativa raras vezes é possível; menos de 20% dos pacientes com tumores ressecáveis sobrevivem em 5 anos.
As medidas paliativas são ablação a laser, dilatação mecânica, radioterapia e prótese intraluminal para desviar do tumor. Frequentemente, há necessidade de gastrostomia ou jejunostomia para suporte nutricional. A quimioterapia pré-operatória com radioterapia concomitante é um pouco mais efetiva, porém mais tóxica.
* O autor é médico especialista em cirurgia geral e saúde digestiva.
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