O diagnóstico de diabetes conforme a Sociedade Brasileira de Diabetes e American Diabetes Association pode ser feito, em não gestantes, pelo encontro de alteração de exames laboratoriais.
Tais como: glicemia em jejum maior ou igual a 126 mg/di, glicemia 2 horas após 75 gramas de glicose anidra ≥ maior ou igual a 200 mg/di, hemoglobina glicada maior ou igual a 6,5% ou glicemia casual acima de 200 mg/dl com sintomas típicos (poliúria, polidipsia, polifagia, emagrecimento).
Glicotoxicidade e hemoglobina glicada. A chamada glicotoxicidade, que ocorre quando as concentrações de glicose sanguínea estão persistentemente elevadas, justifica-se por três mecanismos diferentes: glicação de proteínas, hiperosmolalidade e aumento dos níveis de sorbitol dentro da célula.
Leia mais:A forma mais estabelecida para avaliar esta toxicidade pode ser medida pela hemoglobina glicada, também denominada glicohemoglobina ou hemoglobina glicosilada, HbA1c como abreviação ou, mais recentemente, apenas como A1C, que trata-se de uma fração da hemoglobina A.
Esta é constituinte predominante da hemoglobina em adultos, constituída por duas cadeias alfa (a) e duas beta (B). Uma outra hemoglobina nos adultos (cerca de 2% da hemoglobina total) é a hemoglobina A2, na qual as cadeias B são substituídas por cadeias delta. Sendo assim, a composição da hemoglobina Alfa2B2 é a B, e da hemoglobina A2 é alfa2D2.
A HbA, como forma principal e nativa da hemoglobina (Hb), tem como principal fração a HbAO. Na prática, esta corresponde à chamada fração não glicada da HbA. Por outro lado, a HbA1 total corresponde a formas de HbA carregadas mais negativamente devido à adição de glicose e outros carboidratos. Por cromatografia, pode-se distinguir vários subtipos, como HbA1a1, HbA1a2, HbA1b e HbA1c.
Quando o processo de glicação ocorre em outros pontos da cadeia beta ou da cadeia alfa, pode não ser detectado pelos métodos baseados na diferença de carga elétrica, resultando na fração A. Há uma distinção entre glicação e glicosilação: o processo de “glicação de proteínas envolve uma ligação não enzimática e permanente com açúcares redutores como a glicose, ao contrário do processo de “glicosilação”, que envolve uma ligação enzimática e instável.
A hemoglobina glicada teve seu uso validado por dois grandes estudos que marcaram a história do diabetes, pois incluíram grande numero de pacientes diabéticos tipo 1 e tipo 2 para avaliação do impacto do controle glicêmico sobre as complicações crônicas do diabetes mellitus: o Diabetes Control and Complications Trial (DCCT), de 1993, e o United Kingdom Prospective Diabetes Study (UKPDS), de 1998.
Estes estudos comprovaram que a redução dos níveis de hemoglobina glicada reduz as complicações micro e macrovasculares, conforme já discutido anteriormente. Em indivíduos não diabéticos, a HbA1c representa 1% a 4% da HbA. Para a maioria dos laboratórios, os valores normais de referência vão de 4% a 6%.
De acordo com o Comitê Internacional de Experts da Associação Americana de Diabetes, as vantagens para utilização da hemoglobina glicada para avaliação do controle glicêmico justificam-se por vários motivos: 1) melhor índice de exposição glicêmica global e risco de complicações a longo prazo; 2) menor variabilidade biológica; 3) instabilidade pré-analítica substancialmente menor; 4) não há necessidade de jejum ou amostras cronometradas; 5) menor interferência de doenças aguda ou estresse; 6) boa referência para orientar a gestão terapêutica.
De forma semelhante, qualquer condição que altere a renovação dos glóbulos vermelhos, como anemia hemolítica, malária crônica, perda de sangue ou transfusão sanguínea, levará a resultados falsamente baixos de A1C. Excesso de vitaminas C e E podem levar a falsa redução de Hb glicada devido à redução da glicação.
* O autor é especialista em cirurgia geral e saúde digestiva.
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