Aqui vou eu. Retorno a um assunto que anunciei há algumas crônicas atrás e prometi que escreveria sobre em breve. Até a revisora do jornal, Bia Marinho, me cobrou sobre o assunto dia desses. Prometi que escreveria o que vi durante várias semanas seguidas.
Eu amo cães. Já tive alguns e me apaixonei por outros tantos de colegas que visito. O primeiro foi Garibaldo, um vira lata formoso que latia no quintal de casa quando eu era pequeno. Na sala de estar, naquele tempo, havia um quadro de cão com o seguinte texto: “Mais vale um cachorro amigo, do que um amigo cachorro”. E eu tinha apenas sete anos de idade.
Essa frase ficou marcada em minha memória e a usei em algumas ocasiões na vida. Depois, tive Sadan, um Fila de 1 metro de altura que apavorava os vizinhos e visitante e levava boa parte de meu salário com ração. Depois, Leona se tornou o xodó da casa quando a presenteie minha filha Brenda com aquele poodle número 2.
Leia mais:Leona faleceu e alguns anos depois Brenda apareceu um dia em casa com uma gata pequena que ela encontrara numa rua de Araguaína, onde estudava medicina veterinária.
Há cerca de sete anos a gata tem reinado absoluta em casa e não tenho encontrado espaço em casa para adotar um beagle, doguinho de porte médio que me foi aconselhado por Brenda.
Desde que os pagamentos de boleto migraram para os aplicativos de celular e o PIX se tornou a principal moeda corrente no Brasil, as agências bancárias passaram a ficar esvaziadas.
É aí que entra Max – eu dei esse nome a ele – um cachorro velho que encontrava quase toda vez eu que precisava usar o caixa eletrônico da agência do Banco do Brasil na Nova Marabá. Ele esperava um cliente abrir a porta, entrava para a área dos caixas eletrônicos, procurava um cantinho para ficar e deitava-se, aproveitando a temperatura mais amena do que a do lado de fora.
Aquele dog pé-duro, calorento, acabou adotando o ar-condicionado do BB porque não tem dinheiro para comprar uma central Gree e instalá-la na calçada da Rodoviária da Folha 32, outro espaço onde Max costumava passar mais tempo durante o dia.
O velho cão não mexia com ninguém e também não havia que ousasse enxotá-lo de seu cantinho na agência bancária. Era um caramelo com faixas brancas que encantava clientes da agência bancária e também os passageiros da rodoviária.
Foram várias semanas de relacionamento entre nós. Parecia que ele clamava por adoção, muito mais do que por comida ou dormida. Queria ser visto, lembrado e levado pra casa. Às vezes, balançava o rabo, cheirava o pé da gente e se contorcia como quem dissesse: “gostei de você”.
Um dia, confesso, enquanto dormia, eu sonhei que o adotava e o levava para casa. Era uma tarde chuvosa quando coloquei Max no carro e fomos em direção ao Bairro Belo Horizonte. Na ida, paramos no petshop, compramos ração para animais adultos e remédio para vermes.
Quando chegamos em casa, a recepção não foi tão calorosa. Havia mais perguntas sobre o animal e como eu faria para limpar suas fezes e outros questionamentos irrespondíveis. Então, quando acordei, o velho cão não estava em casa.
No mesmo dia quis ir ao banco de propósito, só para ver se ele estava por lá. Antes, passei de verdade no petshop e comprei ração (confesso que foi da mais barata). E fui atrás daquele amigo que conquistei ou que me conquistou.
Primeiro, passei pela rodoviária, fiz um rolê nas imediações e Max não estava por lá. Depois, fui ao banco, conversei com vendedores de cartelas da sorte que ficam na porta e ninguém deu notícia do caramelo.
Mas não era possível.
Nas semanas seguintes, fiz o mesmo roteiro e Max desaparecera para sempre. Lamentei a perda. E fiquei torcendo para que alguém com coração mais apaixonado que o meu tenha dado um destino merecido para aquele velho cão.
Ele não precisava só de ar-condicionado. Era de uma casa, de um relacionamento permanente. Ainda hoje, quando encosto por lá, fico esperando que apareço balançando o rabo. Deve estar numa casa melhor que a minha, curtindo ração de primeira e dormindo num quarto com ar condicionado.
Vai saber…
Observação: As opiniões contidas nesta coluna não refletem, necessariamente, a opinião do CORREIO DE CARAJÁS.