Correio de Carajás

Racismo contra Vinicius Junior: comissão multa e bane torcedores

Órgão do governo espanhol pune acusados de insultos racistas contra atacante do Real Madrid em duelo contra o Valencia e antes de clássico contra o Atlético

Vinicius Junior reclama de racismo por parte da torcida do Valencia — Foto: Getty Images

A comissão do governo espanhol responsável por punir denúncias de racismo no esporte divulgou nesta segunda-feira as punições aos acusados de insultarem o atacante Vinicius Junior em dois episódios diferentes, em meio a duelos contra Atlético de Madrid e Valencia, pelo Campeonato Espanhol 2022/23.

Três torcedores que cometeram insultos racistas contra o brasileiro no duelo contra o Valencia, há duas semanas, foram multados em 5 mil euros e proibidos de frequentarem estádios por um ano. Quatro acusados de pendurarem um boneco com a camisa do atacante antes do clássico contra o Atlético, em janeiro, receberam multa de 60 mil euros e foram banidos dos estádios por dois anos.

A Comissão Permanente contra Violência, Racismo, Xenofobia e Intolerância, órgão ligado ao Ministério do Esporte, é responsável por aplicar punições aos acusados de crimes de intolerância e ficou no centro dos holofotes nas últimas semanas, quando o governo espanhol foi cobrado para tomar providências contra seguidos episódios de racismo contra Vinicius Junior.

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As punições foram decididas após reunião nesta segunda-feira – mais de cinco meses depois do jogo contra o Atlético de Madrid, no dia 26 de janeiro. Na época, torcedores do rival do Real Madrid penduraram uma faixa na capital espanhola com a frase “Madri odeia o Real”, junto a um boneco com a camisa 20 e o nome de Vinicius Junior.

Os quatro acusados de racismo só foram detidos pela polícia espanhola há duas semanas, dois dias depois que um novo episódio de racismo contra Vinicius Junior, no duelo contra o Valencia, no Mestalla, movimentou o noticiário esportivo na Espanha e no Brasil. Os três torcedores acusados de chamarem Vinicius de “macaco” na partida do dia 21 de maio também foram alvos das punições divulgadas nesta segunda.

Racismo em Valencia 1 x 0 Real Madrid

 

Vinicius Junior foi vítima de mais uma manifestação racista na disputa de uma partida do Campeonato Espanhol, diante do Valencia, no Estádio Mestalla, no dia 21 de maio – em caso que repercutiu em todo o mundo e transformou os episódios de racismo contra o brasileiro em tema de governo. Vinicius acusou parte dos torcedores anfitriões de chamá-lo de “macaco” aos 24 minutos do segundo tempo, quando o time da casa vencia o Real Madrid por 1 a 0.

Após permanecer parado por alguns minutos, depois da denúncia de Vinicius, o jogo foi retomado pelo árbitro Ricardo de Burgos. Na reta final do confronto, o atacante brasileiro acabou expulso depois de uma discussão com o goleiro Mamardashvili – que virou uma confusão generalizada, na qual Vini chegou a levar um mata-leão de Hugo Duro, e reagiu com o braço direito, que atingiu o atleta do Valencia.

Vinicius deixou o campo aplaudindo a decisão da arbitragem ironicamente, e, ao fim da partida, usou as redes sociais para se manifestar, indicando que a expulsão foi “um prêmio por sofrer racismo”. E, mais uma vez, criticou a direção de LaLiga, afirmando que a entidade “acha normal os casos”, usando o slogan da competição “Não é futebol, é LaLiga”. Vini afirmou que “vai até o fim contra os racistas”, deixando em aberto a chance de deixar o futebol espanhol.

Antes disso, o técnico Carlo Ancelotti, na entrevista logo depois do jogo, fez questão de se manifestar e condenar os insultos racistas contra Vinicius, destacando que “não queria falar de futebol” após os episódios no Mestalla. E chegou a dizer que “algo está muito errado nesta liga”.

Horas depois do incidente, o presidente de LaLiga, Javier Tebas, que já havia discutido com o brasileiro através das redes sociais recentemente, voltou a se posicionar com críticas contra o jogador. O dirigente afirmou que Vini “precisa se informar”, acusando o atleta de não se apresentar quando solicitado.

Vinicius retrucou e afirmou que Tebas, em vez de criticar os racistas, foi às redes sociais para atacá-lo. E que não era amigo do dirigente para conversar sobre racismo, mas sim desejaria ver “ações e punições”. No dia seguinte, o presidente de LaLiga voltou às redes sociais para rebater Vini Jr, dizendo que “nem a Espanha nem LaLiga são racistas”, e que não permitiria que “a imagem da competição fosse manchada”. Dias depois, ele pediu desculpas a Vinicius, em entrevista ao ge.

Também na manhã do dia seguinte, o Real Madrid se posicionou publicamente condenando o episódio de racismo contra Vinicius Junior no Mestalla. O clube afirmou que acionou a Procuradoria-Geral do Estado, denunciando crime de ódio e discriminação. O presidente Florentino Pérez também se encontrou com o jogador para tratar do tema, e, horas depois, uma nova nota oficial do Real criticou a Federação Espanhola e os árbitros.

O presidente da Federação Espanhola de Futebol (RFEF) demonstrou apoio público a Vinicius Junior e criticou duramente Javier Tebas, dizendo que o brasileiro deveria “ignorar o comportamento” do presidente de LaLiga.

O Valencia também veio a público para dizer que banirá os autores dos insultos racistas contra Vinicius. O Ministério do Esporte da Espanha, através da Comissão Permanente contra Violência, Racismo, Xenofobia e Intolerância – responsável por punir os atos racistas no esporte – iniciou a análise dos vídeos do incidente no Mestalla.

No Brasil, a Ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, veio a público para condenar os gritos racistas contra Vini Jr, dizendo estar em contato com autoridades da Espanha para tomar providências. O presidente Lula, em discurso no Japão, também manifestou solidariedade publicamente ao jogador do Real Madrid.

Vinicius Junior voltou a se manifestar no dia seguinte ao episódio em Valencia, divulgando um vídeo nas redes sociais no qual relembrou os casos em que foi vítima de racismo por parte de torcidas de clubes da Espanha. E voltou a pedir punições para os culpados, afirmando que “comunicados não funcionam mais”.

Na terça seguinte, em Valencia, três torcedores foram detidos, acusados de insultos racistas a Vini Jr no duelo do último domingo – eles foram soltos em seguida, e aguardarão convocação para irem ao tribunal. Em Madri, a polícia espanhola prendeu quatro suspeitos de pendurarem um boneco vestido com a camisa de Vinicius Junior em uma ponte da capital, antes de clássico contra o Atlético, em janeiro.
(Fonte:G1)