Correio de Carajás

Doença Inflamatória Intestinal II

Em continuação. A RCU (Retocolite Ulcerativa) é uma doença de ocorrência mundial. É mais comum em países com alto poder socioeconômico como os do norte europeu, os Estados Unidos e o Canadá.

Ambos os sexos são afetados, havendo no Hemisfério Norte leve predomínio de pacientes do sexo feminino, sem atingir níveis de significância. Na Inglaterra e no País de Gales, a frequência é de 1,5 mulher por homem enfermo. No Brasil, a distribuição entre os sexos parece ter a mesma proporção.

Atinge todas as idades, com máxima entre 20 e 40 anos, com média de 37 anos para o início dos sintomas. Diminui a partir dos 45 anos, para nova ascensão dos 55 aos 75 anos. No Brasil, a distribuição etária parece assemelhar-se à do Hemisfério Norte.

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A distribuição racial é dificultada, no Brasil, pelo alto grau de miscigenação branco/negro que nos caracteriza. A literatura mundial registra uma incidência baixa de RCU em indivíduos não-brancos.

O entendimento das causas e mecanismos das inflamações nas DII tem implicações diretas na capacidade de prevenir o aparecimento da doença, eliminar seus sintomas, evitar sua recorrência e, quando possível, estabelecer sua cura.

Anormalidades funcionais foram documentadas nas células T da mucosa intestinal em pacientes com doença infamatória intestinal (DII), e essas células tendem a ser hiporreativas na Retocolite Ulcerativa (RCU) e hiper-reativas na doença de Crohn.

Além das clássicas células do sistema imune, outras células da mucosa intestinal (epitelial, endotelial, mesenquimal e células nervosas) participam ativamente da inflamação, fazendo da DII uma complexa inter-relação entre células do sistema imune e não-imune.

Entre os vários componentes do processo inflamatório, maior atenção vem sendo dada às citocinas, substâncias secretadas localmente por diversas células e que modulam a resposta imune no intestino. Torna-se assim possível, por meio da manipulação dessas substâncias, bloquear a inflamação intestinal e, até mesmo, induzir sua remissão.

Outro fato importante é que as DII são mais comuns em parentes de primeiro grau do que o casualmente esperado. Seria, talvez, por causa da exposição aos mesmos fatores ambientais ou pela presença de fatores genéticos comuns que predisporiam a estas enfermidades.

Vários desses genes têm sido estudados. Estima-se que múltiplos genes, possivelmente, favoreçam o desenvolvimento das DII em diferentes populações, expostas a variados fatores ambientais em diversas regiões do mundo.

O aumento da higiene pessoal e a consequente redução da exposição do sistema imune do intestino a micróbios durante a infância poderia ser identificado como um denominador comum para esses fatores, que posteriormente poderiam resultar em resposta imune alterada, ou seja, numa doença inflamatória intestinal.

A RCU tem maior incidência nas populações de regiões mais industrializadas, que ingerem pouca fibra, fumam muito e usam anticoncepcionais por via oral. No Brasil, onde as doenças parasitárias microbianas e virais do sistema digestório são muito frequentes, os padrões socioculturais baixos e os dados de estatística sanitária precários, a epidemiologia da RCU é praticamente impossível. Entretanto, a literatura nacional tem registrado um aumento significativo da sua incidência em nosso meio.

No entanto, a real avaliação da incidência e/ou prevalência da RCU fica dificultada por causa de: alta incidência das diarreias de etiologia parasitária ou bacteriana que podem mascarar sua incidência; o desnível médico-social entre as diferentes regiões dificulta a execução de levantamentos estatísticos confiáveis em muitas áreas; a possibilidade de os serviços de atendimento computarem os mesmos casos mais de uma vez; a impossibilidade, em alguns casos, de diferenciá-la da doença de Crohn; e a ocorrência de 4% a 10% de pacientes portadores de colite indeterminada.

Nos últimos 50 anos ocorreu um aumento da incidência tanto da RCU quanto da doença de Crohn que não pode ser atribuído somente à melhoria da propedêutica diagnóstica.

* O autor é especialista em cirurgia geral e saúde digestiva.