Correio de Carajás

Manejo pré-operatório

O manejo pré-operatório de qualquer paciente faz parte de uma lista de cuidados que se estendem da consulta inicial ao cirurgião até a recuperação final do paciente. Embora a conduta pré-operatória envolva idealmente uma colaboração multidisciplinar, os cirurgiões lideram os esforços para garantir que todos os cuidados corretos sejam fornecidos a todos os pacientes.

      Isso envolve o estabelecimento de uma cultura de cuidados de qualidade e segurança do paciente com padrões altos e uniformes. Além disso, o cirurgião é responsável por equilibrar os riscos da história natural da doença, se não for tratada, versus o risco de uma cirurgia. Uma cirurgia bem-sucedida depende da compreensão do cirurgião sobre a biologia da doença e uma seleção perspicaz do paciente.

      O cirurgião e sua equipe devem obter uma história adequada de cada paciente. A história da doença atual inclui detalhes sobre a doença, além de estabelecer a acuidade, a urgência ou a natureza crônica do problema. As questões irão se concentrar, certamente, sobre a doença específica e os sistemas de órgãos relacionados.

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      O cirurgião deve ser capaz de selecionar os pacientes que são candidatos à cirurgia (pacientes que se beneficiariam, cujo benefício é maior do que o risco associado) daqueles não candidatos. As indicações de cirurgia não são sempre absolutas.

      A história médica pregressa pode incluir cirurgias, especialmente quando relacionadas à situação atual, condições clínicas, ocorrência prévia de tromboembolismo venoso (TEV) como trombose venosa profunda (TVP) ou embolia pulmonar (EP), diáteses sanguíneas, sangramento prolongado em cirurgias anteriores ou em pequenas lesões (p. ex., epistaxe, sangramento gengival ou equimoses) e eventos indesejados durante cirurgia ou anestesia, incluindo problemas de via aérea.

      Deve-se ter conhecimento de uma lista de medicamentos em uso, com dosagens e horários. Além disso, é muito importante questionar sobre o uso de corticosteroides nos últimos seis meses, mesmo que não seja atual, para evitar uma insuficiência suprarrenal perioperatória. Alergias a medicamentos e reações adversas devem ser suscitadas, embora o conhecimento sobre alergias ambientais e alimentares também seja valioso e deva ser registrado para que essas exposições possam ser evitadas durante a internação.

      A história social classicamente envolve questões sobre tabagismo, uso de álcool e de drogas ilícitas, mas este momento também oferece a oportunidade de estabelecer uma relação pessoal com o paciente (e seus familiares). É bom e muitas vezes estimulante conhecer as ocupações, vocações, exercício, interesses e realizações, medos e expectativas do paciente, e sua vida familiar.

      As atividades regulares do paciente podem fornecer uma visão sobre suas reservas fisiológicas; um atleta deve tolerar quase qualquer tipo de grande cirurgia, enquanto um paciente frágil sedentário poderá ser um candidato frágil, inclusive para cirurgias relativamente menores.

      A história familiar deve incluir questões pertinentes à doença atual do paciente. Por exemplo, se um paciente com câncer colorretal apresenta familiares com doença semelhante ou outras neoplasias, esse fato pode indicar doenças genéticas, como a polipose adenomatosa familiar ou câncer colorretal não polipoide hereditário. Essa situação levará a implicações de rastreamento tanto para o paciente quanto para seus familiares.

      Uma forte história familiar de reações alérgicas pode implicar hipersensibilidade a medicamentos. Uma revisão de sistemas deve avaliar as condições cardiovasculares, pulmonares e neurológicas do paciente, incluindo questões sobre dor torácica ou dispneia aos exercícios, palpitações, síncope, tosse produtiva ou sintomas do sistema nervoso central.

      Além dos sinais vitais tradicionais de pulso, pressão arterial, frequência respiratória e temperatura, para muitas cirurgias também é importante o registro da saturação de oxigênio basal em ar ambiente, peso, altura e índice de massa corporal (IMC) do paciente.

* O autor é especialista em cirurgia geral e saúde digestiva.

Observação: As opiniões contidas nesta coluna não refletem, necessariamente, a opinião do CORREIO DE CARAJÁS.