Os abscessos piogênicos são o resultado da infecção bacteriana do parênquima hepático e da infiltração de leucócitos com a formação de uma coleção líquida purulenta. Devido aos avanços nos métodos de imagem, nos cuidados intensivos e na antibioticoterapia e aos refinamentos nos procedimentos percutâneos, as taxas de mortalidade diminuíram significativamente na última década.
Séries recentes demonstram que a mortalidade varia entre 2 e 12%. Alguns autores salientam que a mortalidade está ligada, principalmente, ao retardo do diagnóstico precoce. Os métodos de drenagem percutânea (aspiração e drenagem com permanência de cateter), em associação com antibióticos de amplo espectro, são a primeira escolha de tratamento, mesmo quando múltiplos abscessos estão presentes no parênquima.
A origem do foco infeccioso deve ser determinada a fim de corrigir a causa básica do abscesso hepático. As principais rotas de infecção são decorrentes de infecção de vias biliares ou hematogênica via circulação porta. No entanto, várias outras situações clinicas são causas de abscesso pirogênico.
Leia mais:A apresentação clínica geralmente é subaguda, com sintomas presentes por semanas antes da admissão hospitalar. Os mais comuns são febres (90%) com calafrios, dor abdominal e perda de peso. Também ocorrem outras queixas, como anorexia, mal-estar e vômitos. Dor pleurítica e derrame pleural podem estar presentes em 25% dos casos.
No exame físico, hepatomegalia e dor no quadrante superior direito são vistas em 25%, e a icterícia está presente em torno de 20% dos casos. Muitos pacientes apresentam anemia, leucocitose e alterações nas provas de função hepática. A fosfatase alcalina está elevada em 80%, e as transaminases são anormais em 60% dos pacientes.
A ultrassonografia (US) e a tomografia computadorizada (TC) possuem sensibilidades de 94 e 99% para o diagnóstico de abscesso hepático e são, atualmente, os principais métodos utilizados. Na radiografia convencional, podem ser observados derrame pleural, elevação da cúpula diafragmática direita e infiltração ou consolidação de base pulmonar direita em 25 a 35% dos casos.
O manejo dos pacientes com abscesso deve ser realizado preferencialmente em ambiente de unidade de terapia intensiva (UTI). Com a suspeita diagnóstica, antibióticos de amplo espectro devem ser administrados por via intravenosa e ajustados conforme os resultados das culturas do sangue e do abscesso.
Já os abscessos amebianos são causados pela disseminação pelo sangue da Entamoeba histolytica, após um quadro de disenteria. No Brasil, a doença é prevalente apenas na Região Norte do país. A lesão é geralmente solitária e predomina no lobo direito do figado. Situa-se em continuidade com a cápsula hepática e pode ocupar grande parte da superfície do órgão.
Os principais sintomas e sinais são febres com calafrios, dor abdominal e fígado aumentado de volumeaumentado, que ocorrem, caracteristicamente, algumas semanas após o quadro de disenteria. Outros sintomas frequentes são suor profuso, fraqueza e perda de peso.
O diagnóstico é realizado pela demonstração de trofozoítos aspirados no material coletado com o auxílio de US ou TC ou, então, por um teste imunológico como imunofluorescência indireta ou enzima imunoensaio.
Infecções bacterianas secundárias podem ocorrer, principalmente por Staphylococcus aureus. Ruptura, invasão de estruturas adjacentes e fistulas broncopleurais e pericárdicas podem ocorrer em até 20% dos casos.
O tratamento é realizado com medicamentos amebicidas como o metronidazol, administrado por 7 a 10 dias, que produz melhora drástica nos primeiros dias e taxas de cura superiores a 90%. Fármacos alternativos são o tinidazol, 2 g ao dia por 5 dias, o secnidazol e a cloroquina.
A punção do abscesso pode acelerar a cura quando há persistência dos sintomas, nos abscessos volumosos, em grávidas ou nos pacientes com complicações pleuro pulmonares. A cirurgia está indicada nos raros casos de peritonite após ruptura e abscessos subfrênicos.
* O autor é especialista em cirurgia geral e saúde digestiva.
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