Após ficar na fila do transplante por mais de quatro anos, Graziele Farias realizou o sonho de ter um rim novo, mas não esperava que fosse do próprio filho, Kauan Farias, morto aos 20 anos. Ela não pôde comparecer ao velório do filho, pois teve que passar pelo transplante de órgão no mesmo horário em que ocorria o enterro do jovem.
O rapaz colidiu a motocicleta que pilotava em Birigui, no interior de São Paulo, no primeiro dia de 2023. Ele teve traumatismo craniano grave, entrou em coma e, após a internação em uma unidade de saúde de Birigui, foi transferido para um hospital em Araçatuba.
Graziele, que faz hemodiálise e perdeu 100% da visão, foi informada do caso do filho apenas após a transferência dele para a nova unidade de saúde. A morte cerebral do jovem foi constatada na terça-feira (3) enquanto a mãe fazia hemodiálise no hospital ao lado de onde o filho morreu.
Leia mais:Apenas após o fim do tratamento naquele dia, a mulher foi informada da morte do filho e optou pela doação dos órgãos do rapaz. Kauan doou os pulmões, fígado, os dois rins (um deles para a própria mãe), coração para retirada de válvulas e córneas, e tecido ósseo, segundo a Santa Casa de Araçatuba.
“Ela não pensou dois segundos. Falou que poderia doar tudo, todos os órgãos que fossem possíveis doar. ‘Eu quero que esteja um pedacinho do meu filho em cada lugar’, disse. Por ter insuficiência cardíaca, o médico alertou minha irmã que talvez ela não pudesse receber o rim do próprio filho, mesmo assim, ela disse que não teria problema e que era para doar os órgãos do meu sobrinho”. Nayara Furquim, irmã de Graziele, ao UOL
Segundo Nayara, a irmã soube da doação do rim do filho no dia posterior à morte, momento em que o hospital ligou e falou que chegou um rim novo para ela: “Vem receber o rim do seu filho”, disse a equipe médica.
“Ela ficou muito emotiva, não sabia se iria porque perderia o velório do filho, mas a gente conversou com ela e depois a Graziele disse que o Kauan deixou um presente para ela. Ele sempre falava quando a encontrava triste, chorosa: ‘Mãe, aguenta mais um pouquinho. Logo mais nós vamos poder fazer tudo que você tem vontade de fazer’. O sonho da vida dele era esse.”
A mãe de Kauan passa bem e se recupera da cirurgia no hospital. Hoje, a família auxilia nos cuidados de outra filha pequena de Graziele.
“O Kauan deu um fôlego de vida para a mãe dele de novo. Ela falou que não teve oportunidade de se despedir do filho, mas quando ela voltar [para casa], ela faz questão de ir até onde ele foi enterrado, sentar ali, conversar um pouquinho com ele e tirar tudo de dentro do peito, pois não teve essa oportunidade.”
Agora, a família começou a compartilhar uma vaquinha aberta no ano passado, que não teve a meta batida, para tentar quitar a dívida da casa que Graziele mora. Ela está com mais de oito parcelas atrasadas por não conseguir pagar mensalmente os boletos em razão da perda de visão.
(Fonte: UOL)