O conceito mais simples de hérnia, é a passagem de uma víscera através de um orifício congênito ou adquirido. Se houver indicação cirúrgica e a hérnia não for corrigida precocemente, o defeito pode aumentar e o reparo cirúrgico pode ficar mais complicado. O tratamento definitivo da hérnia é o reparo cirúrgico.
Uma hérnia dita externa é uma protrusão anormal de tecido intra-abdominal por meio de um defeito na parede abdominal. Embora a maioria das hérnias (75%) ocorra na região inguinocrural, as hérnias incisionais representam uma proporção crescente (15-20%), com as umbilicais e outras hérnias ventrais sendo responsáveis pelas restantes.
Em geral, uma tumoração herniária é composta de tecidos de cobertura (pele, tecidos subcutâneos), saco peritoneal e qualquer víscera contida. Em particular, quando o colo do saco é estreito onde emerge do abdome, a protrusão intestinal para dentro da hérnia pode ser obstruída ou estrangulada.
Leia mais:Qualquer condição que aumente cronicamente a pressão intra-abdominal pode contribuir para o surgimento e progressão de uma hérnia. Obesidade, esforço abdominal por exercícios ou levantamento de peso, tosse, constipação com esforço evacuatório e prostatismo com esforço miccional costumam estar implicados.
Cirrose com ascite, gestação, diálise peritoneal ambulatorial crônica e tumores pélvicos ou órgãos pélvicos cronicamente aumentados também podem contribuir. A perda do turgor tecidual na área de Hesselbach, em associação com enfraquecimento da fáscia transversalis, ocorre com o envelhecimento e em doenças crônicas debilitantes.
Uma hérnia redutível é aquela em que o conteúdo do saco retorna para o abdome espontaneamente ou com pressão manual quando o paciente está deitado. Uma hérnia irredutível (encarcerada) é aquela cujo conteúdo não pode retornar para o abdome, em geral, porque está preso por um colo estreito.
O termo “encarceramento” não implica em obstrução, inflamação ou isquemia dos órgãos herniados, embora o encarceramento seja necessário para que ocorra obstrução ou estrangulamento. Embora a luz (porção interna do intestino) de um segmento intestinal dentro do saco herniário possa ficar obstruída, inicialmente pode não haver interferência no suprimento de sangue.
O comprometimento do suprimento sanguíneo do conteúdo do saco resulta em uma hérnia estrangulada, na qual ocorreu a gangrena do conteúdo do saco. A incidência de estrangulamento é maior nas hérnias femorais do que nas inguinais, mas o estrangulamento pode ocorrer em qualquer hérnia.
Um tipo de hérnia incomum e perigosa, a hérnia de Richter, ocorre quando apenas parte da circunferência do intestino fica encarcerada ou estrangulada no defeito da fáscia. Uma hérnia de Richter estrangulada pode sofrer redução espontânea e a porção intestinal com gangrena pode não ser identificada na cirurgia. O intestino pode, subsequentemente, perfurar e resultar em peritonite.
Quase todas as hérnias inguinais em lactentes, crianças e adultos jovens são hérnias inguinais indiretas. Embora essas hérnias “congênitas” mais comumente se apresentem durante o primeiro ano de vida, a primeira evidência clínica da hérnia pode não aparecer até a meia-idade ou velhice, quando o aumento da pressão intra-abdominal e a dilatação do anel inguinal interno permitem que o conteúdo abdominal entre no divertículo peritoneal previamente vazio.
Uma hérnia indireta não tratada irá, inevitavelmente, dilatar o anel interno e deslocar ou atenuar o assoalho inguinal. O peritônio pode fazer protrusão em qualquer lado dos vasos epi-gástricos inferiores para gerar uma hérnia combinada direta e indireta, chamada de hérnia em pantalona.
Em contraste, as hérnias inguinais diretas são adquiridas como resultado de uma fraqueza desenvolvida da fáscia transversalis na área de Hesselbach. Há alguma evidência de que as hérnias inguinais diretas podem estar relacionadas com defeitos hereditários ou adquiridos na síntese ou renovação do colágeno.
As hérnias femorais envolvem uma protrusão adquirida de um saco peritoneal por meio do anel femoral. Em mulheres, o anel pode dilatar por causa de mudanças físicas e bioquímicas durante a gestação.
* O autor é especialista em cirurgia geral e saúde digestiva
Observação: As opiniões contidas nesta coluna não refletem, necessariamente, a opinião do CORREIO DE CARAJÁS.