Correio de Carajás

Medicina de família e comunidade

É definida como a especialidade médica que presta assistência à saúde de forma continuada, integral e abrangente para as pessoas, suas famílias e a comunidade. É uma especialidade médica que atua, fundamentalmente, no nível primário da atenção à saúde.

Ela se distingue por conhecer as pessoas intimamente ao longo do tempo e de compartilhar sua confiança, respeito e amizade, bem como por fornecer cuidados a uma população indiferenciada por idade, gênero, doença ou sistema de órgãos. A variedade de problemas encontrados, seja de forma individual seja com vistas a uma população, mantém a prática da MFC estimulante e desafiadora.

A MFC tem o médico de família e comunidade como seu representante na prática das especialidades, cuja definição tem pelo menos três versões desde 1974. Em todas as citações, está inserida a descrição do espectro de trabalho do médico de família e comunidade, transparecendo os princípios que norteiam a atuação desse médico como especialista.

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O médico de família e comunidade tem, como seu campo principal no sistema de saúde, o nível denominado atenção primária à saúde (APS). Segundo Rakel e Rakel, a APS pode ser definida de acordo com os itens a seguir: É o cuidado de primeiro contato, servindo como porta de entrada da pessoa para o sistema de saúde.

Inclui a continuidade, já que cuida das pessoas na saúde e na doença ao longo de um determinado período. Tem a função de servir e coordenar todas as necessidades de saúde da pessoa. Assume a responsabilidade pela continuidade e pelo acompanhamento individual da pessoa e por problemas de saúde da comunidade. É um tipo altamente personalizado de prestação de cuidado.

Tais definições diferenciam a Medicina de Família e Comunidade das demais especialidades médicas, pois, com a amplitude da prática do médico de família e comunidade, sua necessidade de conhecimentos para desenvolver as ações que resultam dessa descrição não é composta da soma dos conhecimentos das outras especialidades médicas.

A MFC possui um conjunto fundamental de conhecimentos que é próprio dela, o que a torna uma disciplina, e compartilha conteúdos e conhecimento com outras especialidades, incorporando esse compartilhamento para usá-lo na prática em cuidados primários à saúde, compondo, assim, seu portfólio de atuação.

A quantidade de conhecimento extraída de cada uma das outras especialidades médicas forma o conteúdo básico, mas o restante varia de acordo com o contexto de trabalho de cada médico de família e comunidade. Como disciplina, essa base de conhecimentos da MFC pode ser utilizada por outras especialidades, profissões ou áreas do conhecimento.

As obrigações e os objetivos da prática de todo médico de família e comunidade envolvem dois elementos conflitantes, porém essenciais: identificar e resolver os problemas de saúde de cada pessoa individualmente e prestar um cuidado médico efetivo para a comunidade como um todo.

A MFC tem-se desenvolvido, no mundo todo, como a opção mais eficaz para promover a mudança na abordagem aos problemas de saúde das pessoas (nível individual), das famílias (nível familiar), em grupos, em instituições e nas comunidades (nível coletivo). É um campo do conhecimento médico comprometido e orientado por princípios de atuação que rompem com a prática médica tradicional, centrada na doença, enfrentando efetivamente as dificuldades na prestação do cuidado à saúde dispensado hoje.

O médico de família e comunidade é o profissional médico com vocação e formação específica para prestar cuidados, ou seja, é especialista em manejar os problemas de saúde mais frequentes que acometem a população sob sua responsabilidade.

O médico de família e comunidade age como defensor dos direitos, dos interesses e das necessidades das pessoas que atende e da população pela qual é responsável. Isso exige aspectos característicos em sua prática que o diferenciam dos demais especialistas no que se refere à relação clínica e à abordagem diagnóstica, que facilitam o desenvolvimento e fortalecem o vínculo com as pessoas.

* O autor é especialista em cirurgia geral e saúde digestiva.

 

Observação: As opiniões contidas nesta coluna não refletem, necessariamente, a opinião do CORREIO DE CARAJÁS.