A Delegacia de Conflitos Agrários (DECA) de Redenção está investigando o assassinato dos trabalhadores rurais Arleis Pereira de Sousa, de 31 anos, e Paulo de Tássio da Silva Mendes, de 36. Eles foram mortos a tiros e tiveram os corpos queimados na Fazenda Complexo Bacajá, na localidade de Plano Dourado, que fica entre Parauapebas e São Félix do Xingu.
O caso foi noticiado, em primeira mão, por este CORREIO, na edição da última terça-feira (28). Mas, naquele momento, as informações ainda eram escassas e não havia imagens. Depois disso o caso ganhou repercussão, inclusive com a divulgação de fotos das vítimas e também um vídeo do fazendeiro Evandro Oliveira Lima, o “Evandro Cegão” desabafando sobre o caso.
No vídeo, dono da propriedade onde a chacina aconteceu, o pecuarista culpa os sem-terra e cita especificamente o “MST” pelo crime bárbaro. Mas depois, mais calmo, “Cegão” admite que estava de cabeça quente e até pediu desculpas aos movimentos sociais. “Eu peço até desculpa para o pessoal dos sem-terra se for comprovado que não foram eles”, diz o pecuarista.
Leia mais:Segundo Evandro, o crime ocorreu na sexta-feira (24), por volta das 15h, mas ele só ficou sabendo do ocorrido na manhã de sábado (25) e seguiu imediatamente para lá a fim de buscar os corpos, que chegaram a Marabá no domingo (26). Quando estava chegando à sede do imóvel rural, Evandro conta que já encontrou com alguns funcionários amedrontados pelos pistoleiros e poucos tiveram coragem de seguir com ele para a fazenda. Apenas um voltou para ajudar a buscar os corpos.
Foi lá que ele gravou o vídeo, diante de um dos cadáveres. Em seguida, colocou os mortos na caminhonete e seguiu para o Instituto Médico Legal (IML) de Marabá, que fica mais perto do que o IML de Redenção, responsável pela área de São Félix do Xingu.
O pecuarista – que também é sócio-proprietário de hotéis – disse que removeu os corpos porque queria entrega-los para as famílias, por se sentir responsável pelos trabalhadores. “Se eu me precipitei, foi o que eu achei que deveria fazer”, comentou, ao explicar por que recolheu os corpos antes da chegada da Polícia Judiciária e do IML.
Perguntado sobre quem cometeu esse bárbaro crime, “Evandro Cegão” disse que não existe conflito agrário na fazenda dele, mas funcionários teriam visto pessoas saqueando uma área indígena que faz fronteira com a fazenda, porém ele não quis detalhar sobre o assunto, pois já prestou depoimento à polícia, que agora investigará o caso.
Questionado sobre a crueldade do crime, uma vez que as vítimas foram baleadas e tiveram os corpos queimados, Evandro disse ter recebido informação de que quando os pistoleiros mataram os funcionários, também queimaram o barraco em que eles estavam, que caiu em cima dos corpos, daí os cadáveres terem sido queimados. Um dos mortos ficou todo carbonizado, o outro apenas parcialmente. “Mas só a perícia deve dizer o que realmente aconteceu”, pondera o pecuarista.
Sobre o vídeo no qual ele faz críticas aos sem-terra e cita o MST, Evandro diz que devido ao calor do momento e por não ter inimigos dentro da área, achou que poderiam ter sido os sem-terra, mas reconhece que há famílias de camponeses que realmente querem apenas um pedaço de terra, e não pode afirmar quem realmente cometeu o bárbaro crime.
Sobre como pretende administrar sua fazenda diante do que aconteceu, Evandro conta que a primeira providência foi retirar as pessoas da área. “Não vou mais deixar ninguém lá por enquanto para não colocar a vida de pessoas inocentes em risco; vou procurar dar um tempo para saber realmente o que aconteceu, pra depois voltar à fazenda”, explica.
Por fim, o fazendeiro lamentou a brutalidade com que as pessoas têm agido, tirando a vida do semelhante, inclusive de trabalhadores que vieram de outros Estados apenas para trabalhar e ganhar seu sustento – como era o caso de uma das vítimas. “Já pensou um trabalhador que veio do Mato Grosso, os caras atirarem nele. Só estavam trabalhando”, lamenta. (Chagas Filho com informações de Josseli Carvalho)