Entre lágrimas e sorrisos, o pai fala da jovem com muito orgulho e carinho: “É uma menina muito boa, posso contar com ela para tudo, desde momentos rotineiros como abrir o portão diariamente para que eu vá trabalhar, pedindo benção, até as horas de lazer, quando viajamos para a chácara”, exemplifica.
Não há quem nunca tenha ouvido a frase: “Pai é quem cuida”. Este ditado consegue ser bem exemplificado através da história dos marabaenses Antônio Matos da Silva e Anny Karoline Lima Pinheiro, avô e neta com um laço afetivo que transcende a ordem e a relação biológica, capaz de emocionar a todos e até mesmo aos próprios, com a legitimidade do sentimento.
Funcionário da Companhia de Saneamento do Pará (Cosanpa) há quase 40 anos, Antônio faz parte do grupo de pessoas que, ao se casar, acaba adotando, de coração, os filhos que não são biologicamente seus. No entanto, essa situação acabou ocorrendo também com a neta legitima e filha de criação de sua esposa Clélia, Anny Karoline.
Leia mais:A mãe da adolescente engravidou aos 20 anos e, desconhecendo o genitor, ficou sem amparo paterno, financeiro e emocional. E foi aí que entrou Antônio, abraçando a situação sem pensar meia vez, embarcando na jornada de ser a figura afetiva tão essencial na vida de Anny. A decisão aconteceu com naturalidade e nada precisou ser dito. O relacionamento de pai e filha simplesmente passou a existir assim que um começou a cuidar e, consequentemente, a amar o outro.
Sentada ao lado dele, Anny, que se mostra uma adolescente muito tímida, fica sem graça com a magnitude da emoção do pai quando é questionado pela reportagem do CORREIO sobre a importância da garota em sua vida. O senhor engasga e, por muitas vezes, precisa parar para respirar e conseguir retornar a rasgar elogios à filha.
Em pouco tempo com a jovem é possível ver que Antônio se dedicou e ainda se dedica bastante a formar um ser humano educado, empático e com valores: “Minha grande meta é ver ela formada, com um bom emprego, colhendo os frutos que plantou perante meus ensinamentos”, diz, olhando Anny com zelo.
Ele cita durante a entrevista que, naquele dia (sexta-feira, 12), trabalhou até as 4 horas da manhã e fica explícito o esforço do pai em cuidar de todos que dependem dele, incluindo a jovem. Desde que nasceu, a adolescente é sustentada financeira e emocionalmente pelo homem, levando em consideração alguns contratempos com a genitora, que atualmente mora em Belém. Junto à Clécia, ele se esforça pra prover o máximo que conseguir à filha.
Quando questionada sobre Antônio, Anny também não poupa a exaltação: “Ele é um pai maravilhoso, eu o amo muito. Só tenho a agradecer por todas as coisas materiais e sentimentais que ele me proporciona, que são muitas”, conta a menina, abrindo o coração e se referindo a ele espontaneamente pelo nome que abrange o papel que esse desempenha em sua vida.
Apesar da nomenclatura que as relações ganham, o sentimento e o vínculo são a semente de tudo e, levando isso em consideração, a jovem assume que nunca parou para refletir que apesar de não ser a obrigação de Antônio, ele a tem como filha e ela o considera pai, um relacionamento improvável que nasceu da necessidade mais pura e genuína do amor de ambas as partes, sem precisar nomear ou classificar nada. A vida se encarregou de posicionar os dois e as coisas como são e estão.
O DNA nunca falará mais alto que o coração. É o que prova a relação dos dois. Mesmo não possuindo o mesmo sangue, a ligação paterna foi genuinamente construída na prática. Antônio ganhou uma filha e Anny ganhou um pai. Nem palavras são capazes de mensurar tal conexão.
(Thays Araujo)