Vai ter treta no Instagram, vai ter treta no Facebook. Usuários do transporte público urbano de Marabá estão revoltados com o reajuste do valor da tarifa. Até agora custando R$3,60, a partir da próxima terça-feira, 19, passa a ser R$ 4. A Reportagem do CORREIO esteve na manhã desta sexta-feira, 15, em algumas paradas de ônibus da cidade para conversar com os usuários. Entre eles as principais reclamações apontadas são o longo tempo de espera nas paradas de ônibus, a frota reduzida e a baixa qualidade física dos veículos.
Quem passa muito tempo utilizando o transporte avalia que boa parte da frota de ônibus está muito desgastada e o conforto é quase nulo. Alguns apontaram que o tempo de espera na parada de ônibus varia de uma, duas e até três horas.
Até mesmo aqueles que já não pagam mais passagem deram sua opinião ao CORREIO DE CARAJÁS. É o caso de Hercília de Jesus, 75 anos. Revoltada, ela compartilha que parte da frota dos ônibus estaria sendo alugada por empresas privadas. “Hoje de manhã eu vi ônibus da empresa Integração, com ar condicionado, que foi alugado para empresa siderúrgica. Eu fiquei muito triste”, lamenta.
Leia mais:Para ela, a ausência de comodidade nos veículos é um ponto negativo, além do longo tempo de espera no ponto de ônibus. “Que seja a cada meia hora (o tempo de espera) ou a cada uma hora, mas que tenha aviso e sejam regulares”, reforça.
O Diretório Central dos Estudantes da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa), na voz de Carlos Eduardo Alves, um de seus coordenadores, falou à Reportagem que subir o preço da tarifa de ônibus na cidade de Marabá, que já conta com uma falta de veículos, agride a comunidade estudantil e trabalhadora no geral. “Ninguém vê melhorias no transporte público, nem nas rotas, nem na estrutura da maioria dos ônibus e ainda assim subir o preço de algo que a prefeitura, de longe, investe mal, é surrupiar do marabaense e sua população algo tão polêmico quanto funcional. R$ 4,00 é o preço da vergonha, mas em débito, eu miro a conta desta vergonha nessa prefeitura”.
Enquanto estava em uma das paradas de ônibus, a Reportagem chegou a aguardar trinta minutos até que um coletivo passasse. Quando finalmente chegou, com destino ao Residencial Tocantins (São Félix), ele não levou nem a metade dos usuários que estava aguardando.
Utilizando o transporte coletivo todos os dias, a estudante Kailane, de 19 anos, acredita que o aumento irá prejudicar a todos que utilizam os ônibus diariamente. “Esse aumento prejudica muito quem não tem emprego, ou que depende só da ajuda dos pais”, lamenta. Ela diz que a renda de sua família será impactada pelo aumento, pois mora com a mãe e mais três irmãos, todos dependentes do transporte público.
“Eu não acho justo, não tem nem ônibus para isso. Eu resido em Morada Nova e para lá é muita demanda. Tem São Félix, Residencial Tiradentes e R$ 4,00 eu acho injusto demais”, assevera Darlane Mendes. Ela conta que utiliza o transporte público com frequência para realizar faxinas na Marabá Pioneira e nas vezes que precisa ir até o núcleo Cidade Nova, paga o dobro de passagem, pois o ponto inicial e final do ônibus com destino a Morada Nova é no bairro pioneiro.
“Há dias que a gente não tem um real, imagine quatro reais de passagem?”, questiona, com indignação. Darlane tem uma filha que estuda na escola Plínio Pinheiro (Marabá Pioneira) e conta que a menina passa a semana na casa de uma tia, no bairro Santa Rosa, por não ter condições de pagar a passagem da jovem todos os dias.
Para Francine Eduardo de Sousa, a principal reclamação é que o valor com reajuste deixou a tarifa muito cara. “Eu acho que o valor pode melhorar, porque cada dia que passa aumenta mais. Deveria ficar os R$ 3,60 mesmo”, reflete.
Geraldo Batista, 68 anos, discorda veementemente do aumento. “Eu não concordo porque está uma dificuldade grande para todo mundo. Quer dizer, todo mundo não, a população pobre. As vezes aqui (na parada de ônibus) há pessoas que não conseguem pagar nem uma passagem”, desabafa. Para Geraldo, o valor da tarifa deveria permanecer R$ 3,60.
Para muitos, os 40 centavos de reajuste podem parecer pouca coisa, entretanto, para famílias que têm renda pouco maior que um salário mínimo, o impacto será enorme. (Luciana Araújo)