Correio de Carajás

Advogados vão a Belém traçar defesa de policial

Na próxima segunda-feira (20), os advogados Leonardo Queiroz e Manoel de Oliveira viajam a Belém, onde pretendem manter audiência com o policial militar Felipe Gouveia, preso desde o dia 10 deste mês por ter assassinado a tiros o professor Ederson Costa Santos, no dia 4. Os advogados, que vieram do Piauí, também defendem a namorada de Felipe, Thaís Rodrigues dos Santos, que se entregou à polícia no dia 14. Para quem não acompanhou o caso, Thaís estava junto com Felipe no momento em que ele deu dois tiros na cabeça do professor após discussão motivada por uma batida de trânsito. O assassinato foi todo filmado.

Leonardo e Manoel já peticionaram ao delegado Ivan Pinto da Silva, que investiga o crime, para que Felipe Gouveia seja trazido a Marabá para prestar depoimento ao delegado, pois ele se recusou a falar, desde que foi preso no quartel do 3º Batalhão de Polícia Militar em Imperatriz (MA), onde era lotado.

Mas é possível que o acusado seja ouvido, por meio de carta precatória, lá mesmo no Centro de Recuperação Anastácio das Neves (Crecan), em Santa Izabel, zona metropolitana de Belém, onde está preso. Isso pode ocorrer porque, segundo a polícia, seria necessária uma logística um pouco complexa para trazer a Marabá um preso que teve duas oportunidades de falar para a polícia, mas simplesmente se recusou.

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Segundo o delegado Ivan Silva, Felipe teve a chance de prestar depoimento quando recebeu voz de prisão em Imperatriz, mas não quis, afirmando que falaria apenas em Marabá, já na presença de seu advogado. Porém, em Marabá, mesmo assistido inicialmente pelo advogado Arnaldo Ramos, o policial novamente fez valer seu direito constitucional de permanecer em silêncio, alegando que só falaria em juízo.

Por outro lado, os advogados de Felipe Gouveia entendem que, caso ele seja ouvido no Crecan por meio de precatória, a defesa ficará prejudicada porque o delegado que irá fazer a oitiva não é o mesmo que vem investigando o crime, de modo que há questionamentos que deverão surgir durante a oitiva, mas que só podem ser feitos pelo delegado Ivan, presidente do inquérito.

Além disso, segundo os advogados, não interessa quantas vezes o cliente deles se recusou a falar. Ele pode, a qualquer momento, pedir para ser ouvido porque tem o direito constitucional de um julgamento justo. Para eles, a oitiva por precatória cerceia a defesa, em certa medida, assim como os julgamentos preliminares que têm sido feitos pela opinião pública, a partir das declarações de autoridades policiais, também dificultam a defesa, e isso pode ser motivo para que eles peçam o desaforamento do julgamento popular ao qual o casal provavelmente será submetido. A decisão sobre onde o acusado Felipe Gouveia será ouvido ficará a cargo do Poder Judiciário

CÚMPLICE OU TESTEMUNHA?

Sobre a situação de Thaís, os advogados também na tecla de que ela não é cúmplice do assassinato, mas apenas uma testemunha. Eles querem inclusive pedir que as duas testemunhas do crime (estudantes que estavam dentro do carro do professor) sejam ouvidas novamente na presença dos dois advogados, para que eles possam também fazer alguns questionamentos.

Os profissionais deixam claro que tudo que querem é um julgamento justo para o casal, inclusive eles orientaram Thaís e Felipe a dizerem sempre a verdade. “A melhor tese é sempre a verdade”, resume o advogado Leonardo, acrescentando que orientou Thaís (e fará o mesmo com Felipe) para colaborar com a polícia nas investigações.

Thaís diz que não instigou o namorado a atirar, mas, segundo a polícia, as provas dizem o contrário/ Foto: Evangelista Rocha

Mas, ao que tudo indica, essa colaboração ainda não fluiu da maneira que a autoridade policial gostaria, pois, embora tenha se entregado à polícia, Thaís ainda não revelou onde foram parar os pertences do professor Ederson Costa Santos, que foram colhidos por Felipe, depois que a vítima já estava sem vida no chão. No que pese a tese da defesa, o delegado Ivan Pinto da Silva já disse que Thaís será indiciada por homicídio, assim como o namorado dela, Felipe Gouveia.

RELEMBRE O CASO

Na madrugada do dia 4, após uma colisão entre o carro do professor Ederson (IFPA-Industrial) e o automóvel em que estavam Thaís e Felipe, no núcleo Cidade Nova, houve uma discussão entre o casal e o professor. Em dado momento, quando se imaginou que a discussão tinha acabado, o policial militar Felipe Gouveia saca a pistola e dá dois tiros a queima roupa na cabeça da vítima, sem que este tivesse a menor chance de defesa.

Para desventura do casal, toda a ação criminosa foi filmada, o que facilitou as investigações policiais, pois o Departamento de Homicídios passou a receber diversas denúncias, a partir das imagens, que levaram aos dois acusados. No dia 10, Felipe foi preso em Imperatriz, onde trabalhava, e quatro dias depois Thaís se entregou em Marabá.

(Chagas Filho)