A morte de uma mulher de apenas 23 anos, três dias após ter dado à luz a sua segunda filha ainda não está totalmente esclarecida. É o que entendem os familiares de Myllena Lima e Silva, os quais chegam a usar o termo negligência, quando falam do local do parto, o Hospital Materno Infantil (HMI) de Marabá. A mulher chegou a receber alta e faleceu já em outra unidade hospitalar, o HMM, no dia 28 de junho, após recaída. Os familiares agora querem acionar a Justiça pelo direito de realizar exumação e exame do corpo.
Myllena deixa uma filha de um ano e cinco meses e outra de 18 dias de nascida. Estudante de serviço social, a jovem, moradora do bairro Belo Horizonte, era casada há dois anos e fazia parte do grupo católico de oração conhecido na região. Cheia de sonhos para si, agora é sinônimo de saudade e falta para os que ficam. A morte dela tem encontrado enorme repercussão na comunidade, tendo sido lembrada inclusive em missas na igreja católica.
A reportagem do CORREIO foi até a casa da mãe de Myllena e conversou com a sogra da jovem, Vera Regina e o irmão, Marcos Lima. Em um clima de luto e revolta, os familiares clamaram por justiça enquanto mostravam os documentos que carregavam as informações médicas do dia do parto, da internação e do dia do óbito da jovem, que deixou duas filhas e um marido,
Leia mais:Vera, segurava Clara Lima, de apenas 18 dias de vida, quando contava como acompanhou de perto a última semana de Myllena: “No dia 25 de junho, após 9 meses de acompanhamento, ela recebeu a autorização do Centro Integrado de Especialidades (CEI), para poder dar à luz no Materno Infantil. Apesar de ter dado entrada às 11h, ela só foi operada às 17h”, relata.
Segundo a sogra, a cirurgia teria durado em torno de 45 minutos e, assim que o efeito da anestesia passou, a jovem começou a se queixar de uma dor do lado esquerdo da barriga. Vera diz que, apesar da nora ter sido medicada várias vezes por essa circunstância, em pouco tempo o incômodo voltava, e só piorou, ao ponto de que, no dia seguinte, pela manhã, mal conseguiu tomar banho.
Para além disso, as queixas também se estendem ao atendimento, levando em consideração que, na segunda-feira (27), a sogra de Myllena foi atrás de um médico pediatra para buscar atendimento para a neta por três vezes, mas não obteve sucesso: “Apenas por volta de 9h, um médico e um enfermeiro apareceram na porta do quarto somente para entregar a autorização da alta”, conta Vera.
Na quinta-feira (30), pela manhã, Myllena e a pequena Clara foram consultadas, e devido a condição de icterícia da recém nascida, ambas ficaram internadas por dois dias na instituição médica. No sábado, já com alta e em casa, tudo correu normalmente, mas no domingo, o inesperado mudou, para sempre, a vida dos familiares da jovem.
Por volta de 13h de domingo (3), a mãe começou a sentir muito frio e sede. O termômetro marcou 41º, e em seguida, o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) foi acionado. Vera descreve que, de acordo com os exames feitos pelos socorristas, a nora estava com a saturação baixa e já foi levada para a Secretaria Municipal de Saúde desfalecendo.
Devido à gravida do estado de Myllena, a jovem precisou ser encaminhada e entubada às pressas no Hospital Municipal de Marabá (HMM), e às 20h, a notícia de sua morte foi dada aos familiares que, até hoje, não conseguem acreditar no trágico fato: “Têm sido muito difícil, nós queremos uma resposta. Carecemos entender o que de fato aconteceu, porque é questionável que ela estava bem em um momento, e em outro, precisou ser entubada e veio a óbito”, apela Vera.
O que mais revolta a família é que, em sua certidão de óbito, a causa foi determinada como choque séptico, mas sem se sentirem convencidos disso, pediram por uma autópsia que, nunca foi realizada, pois segundo o Instituto Médico Legal (IML), esse tipo procedimento médico só poderia ser realizado em casos de homicídios dolosos.
O estado de saúde de Myllena durante a gravidez e após o parto também é um ponto de partida dos questionamentos de seus familiares, tendo em vista que a jovem estava bem e surpreendentemente, morreu oito dias após o nascimento de sua filha. Um óbito inesperado e rápido: “Ela saiu de casa andando, com os exames indicando que estava tudo bem, normal”, contrapõe a sogra.
Marcos Lima, manifesta muita dor ao relatar que acompanhou os últimos momentos da irmã: “Assisti ela morrer nos meus braços, estive com ela em casa assim que começou a passar mal, dentro da ambulância do SAMU e na entrada do hospital também, mas lá fui informado que não poderia entrar no Unidade de Tratamento Intensivo (UTI), devido aos protocolos”.
Ele, que perdeu a cunhada Izabel Cristina em outubro de 2020, também por complicações pós parto, faz um pedido especial às autoridades, para que olhem com mais sensibilidade casos como os de Myllena, que ocorrem com certa frequência na unidade de saúde municipal de Marabá.
Marcos diz que, inconformado com a morte repentina da irmã, se dispôs a ler artigos científicos a respeito da condição médica escalada como causa do óbito e alega que, a enfermidade acontece apenas em casos evolutivos de infecções graves. Ele solicitou na última segunda-feira (11) o prontuário da jovem e afirma que buscará justiça.
A reportagem solicitou à Ascom da Prefeitura de Marabá algum posicionamento do HMI ou Secretaria de Saúde sobre o ocorrido e segue no aguardo. (Thays Araujo)