Correio de Carajás

Preço da linguiça calabresa dobra, e bares e restaurantes estudam substituir produto no cardápio

Além da cerveja que já sofreu sucessivos aumentos, agora é a vez dos petiscos registrarem altas nos estabelecimentos

A alta geral de preços pela qual o Brasil vem passando, especialmente entre os alimentos, está chegando aos produtos que já eram a alternativa dos consumidores em momentos de forte inflação.

Um desses itens é a linguiça calabresa. A proteína, um dos componentes de diversos petiscos com valor mais acessível, dobrou de preço nos últimos 15 dias, segundo o presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) no Ceará, Taiene Righetto.

Ele detalha que as carnes em geral continuam subindo bastante, mas o destaque dos últimos dias é a calabresa. Surpresos com a forte elevação, o representante do setor revela que alguns estabelecimentos já estão retirando os pratos que requerem o item do cardápio.

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“É um insumo que a gente nem dava tanta atenção, justamente por ser mais barato. Mas depois do reajuste dos combustíveis, todo mundo tem reclamado”, afirma.

Segundo a inflação oficial monitorada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a linguiça ficou 10,86% mais cara em Fortaleza nos últimos 12 meses. O resultado considera todos os tipos de linguiça.

Além da retirada do cardápio, Righetto pontua que as casas também estão buscando alternativas para substituição de produtos, quando possível.

Uma parcela minoritária do segmento já reajustou os preços cobrados dos clientes, enquanto os demais seguem buscando saídas para não impactar a clientela e correr o risco de prejudicar as vendas.

EQUILÍBRIO FINANCEIRO

A orientação de inovar nos pratos e buscar substitutos no cardápio é manifestada pelo Sindicato de Bares, Restaurantes, Buffets e Similares do Estado do Ceará (Sindirest-CE).

O presidente da entidade, Dorivam Rocha, ressalta que o atual cenário é mais um desafio a ser enfrentado pelo setor, que ainda busca reequilíbrio depois dos severos impactos da pandemia.

“Os insumos estão disparando de preço, alguns fornecedores já estão com dificuldade de abastecimento, como alguns cortes de proteína e laticínios de marcas específicas”, afirma.

Ele explica que esse desabastecimento tem ligação com a falta de fertilizantes no País, produto importado majoritariamente da Rússia e já vinha passando por instabilidade de fornecimento antes mesmo do início do conflito.

Utilizado no agronegócio e pecuária, a dificuldade acaba refletindo nos produtos da cadeia de forma indireta.

“A gente orienta o empresário a intensificar o controle de estoque para minimizar as perdas e fazer pesquisa de mercado com fornecedores. É um momento difícil, delicado, e que a gente não tem boa expectativa de redução desses custos”.

Outro ponto de atenção, segundo Rocha, é a realização de regrada análise financeira dos custos e gastos do estabelecimento, para avaliar a saúde financeira do local e definir o melhor momento para implementar reajustes no cardápio, se for o caso.

FARINHA DE TRIGO

O presidente da Abrasel também indica que outro produto que tem gerado preocupação é a farinha de trigo, insumo amplamente utilizado pelas pizzarias.

Nesse caso, a alta também tem chegado diretamente para os consumidores finais. O presidente da Associação Cearense de Supermercados (Acesu), Nidovando Pinheiro, o produto sofreu reajustes logo após o início do confronto entre Rússia e Ucrânia.

Ele estima que os valores subiram em cerca de 20%. O incremento também tem desencadeado elevações na linha de produtos derivados do trigo em geral.

“Alguns moinhos até suspenderam as vendas para a gente. Depois eles abriram novamente, mas já com esse reajuste de quase 20%”, pontua Pinheiro.

CERVEJA

Outro produto que compõe o happy hour e pode ficar ainda mais caro é a cerveja. Rússia e Ucrânia, países envolvidos na guerra em curso, são grandes produtores e exportadores de malte e cevada, matérias-primas da bebida.

Em outubro de 2021, a Ambev já havia reajustado o preço de 32 marcas de cerveja produzidas por ela em até 8%. Em fevereiro deste ano, foi a vez da Heineken incrementar em cerca de 10% do valor dos 12 rótulos que assina.

As correções recentes ainda estão segurando os valores nos patamares atuais, segundo Righetto. Mas a preocupação é que, com a extensão do conflito, novos repasses fiquem inevitáveis.

O superintendente do Sindicato Nacional da Indústria da Cerveja (Sindicerv), Luiz Nicolaewsky, aponta que Rússia e Ucrânia respondem por 28% das exportações globais da cevada e que a Rússia é o terceiro maior fornecedor de malte ao Brasil.

Embora o País seja abastecido principalmente pelo Uruguai e Argentina, ele ressalta que alta global de preços causada pela redução da oferta mundial de cereais em meio à guerra tende a afetar todos os compradores.

“Além do aumento nos preços das commodities, a indústria tem sido impactada também pelas altas taxas de juros e da inflação, e custos de produção somados aos reajustes de combustíveis, petróleo e da energia elétrica o que afeta todo setor industrial brasileiro”, esclarece.

Em termos de abastecimento, ele garante que a guerra não deve provocar falta de insumos, mas devido à escassez no mercado internacional já é percebido um aumento de 10% no valor desses insumos.

Sobre prováveis novos reajustes na indústria cervejeira, Nicolaewsky aponta que essa possibilidade ainda vai depender dos desdobramentos do conflito na Europa.

“A alta de preços refletiu o aumento de custos da cadeia de produção, principalmente energia elétrica, combustíveis e commodities. Teremos impactos com a guerra, mas tudo vai depender dos desdobramentos do conflito entre Rússia e Ucrânia”.

(Fonte: Diário do Nordeste)