A síndrome diarreica se caracteriza por aumento no teor de água eliminada junto ao bolo fecal, independentemente do número de evacuações que em geral está aumentado. A presença de elementos anormais nas fezes, como muco, pus, sangue ou restos alimentares, também deve ser considerada dentro do conceito ampliado de diarreia.
Fisiologicamente, o canal alimentar manipula grande volume de água, proveniente da sua ingestão, presença nos alimentos e nas secreções salivar, gástrica, bíleo-pancreática e intestinal. Dos 6 a 8 litros que transitam pelo aparelho digestório superior, cerca de 150 a 200 mililitros compõem a fração aquosa das fezes em 24 horas. Ultrapassado esse limite, a queixa clínica de diarreia se apresenta.
A distinção entre quadros agudos e crônicos é puramente conceitual e, entre os especialistas, convencionou-se classificar a diarreia como aguda quando seu curso é de no máximo três semanas. Trata-se, portanto, de uma definição exclusivamente temporal, nada impedindo que doenças de evolução crônica venham a ser indevidamente diagnosticadas como agudas nas primeiras semanas de sua apresentação.
Leia mais:Independentemente da causa, o objetivo da abordagem inicial do paciente com diarreia aguda infecciosa deve considerar alguns parâmetros que permitam diferenciar quadros mais brandos dos mais graves: gravidade clínica pela presença de diarreia com pus, sangue e muco, grande depleção de volume, febre alta e dor abdominal intensa. Duração da doença: superior a 4 ou 5 dias.
Cenário epidemiológico em que foi contraída a infecção, devendo se localizar surtos epidêmicos por uso de alimentos contaminados como frutos do mar, enlatados, cremes, e grupos de pessoas com o mesmo quadro clínico. Competência imunológica do hospedeiro em virtude de desnutrição, doenças que rebaixam a imunidade, uso de substâncias imunossupressoras, que bloqueiam a acidez gástrica e faixa etária, principalmente crianças e idosos.
Analisados esses aspectos e concluindo-se por quadro potencialmente grave, deve-se prosseguir a pesquisa diagnóstica em busca do agente causador, utilizando para isso exames específicos, como culturas e retossigmoidoscopia, com intenção de tratamento direcionado, e não apenas de apoio, como hidratação e agentes antidiarreicos. Hospitalização poderá ser conduta indispensável.
Nas diarreias Virais, a maioria dos casos se apresenta como diarreia autolimitada com duração de até uma semana. Os agentes virais estimulam a secreção intestinal, levando a evacuações líquidas que, na sua expressão clínica, podem variar de estado geral mantido até diferentes graus de desidratação e/ou de toxemia.
Assim, nas fases iniciais, a terapia deve ser dirigida para a redução dos sintomas e a prevenção da desidratação. A hidratação oral é sempre a primeira tentativa, com o chamado “soro caseiro”, que se compõe da adição de quatro colheres de sopa de açúcar e uma colher das de chá com sal em um litro de água fervida, ou por soluções hidratantes, comercialmente existentes.
Assim, o mais sensato, do ponto de vista terapêutico, será atender às necessidades de hidratação, como única forma de tratamento, na maioria dos casos de diarreia aguda. Quando necessário, pode-se sugerir a introdução de alguns medicamentos, como os que atuam sobre a motilidade (loperamida, anticolinérgicos), que, embora de prescrição frequente, não interferem na correção da fisiopatologia do processo, ainda que promovam diminuição do número de evacuações.
A racecadotrila, de efeito antissecretor, pretende ser o melhor fármaco para a minimização das perdas de água e sais das diarreias agudas, pela preservação da ação das encefalinas. É um opioide endógeno, responsável pelo controle dos movimentos do intestino e de sua secreção. Os probióticos preparados à base de micro-organismos podem servir como adjuvantes, em especial para crianças, por reduzir, ainda que modestamente, o tempo de duração do processo agudo… O tema prossegue na próxima edição de terça-feira.
* O autor é especialista em cirurgia geral e saúde digestiva.