O Bullying deve-se à carência afetiva, à ausência de limites e ao modo de afirmação de poder e de autoridade dos pais sobre os filhos, por meio de “práticas educativas” que incluem maus-tratos físicos e explosões emocionais violentas.
É interessante aos professores a aos familiares observarem seus alunos/filhos no sentido de detectar características comuns de agressor ou de agredido. A vítima teme denunciar o agressor, por medo de sofrer represálias, isto pela vergonha de admitir estar apanhando ou passando humilhações na escola ou ainda, por acreditar que não lhe darão o devido crédito.
Os agressores se valem da “lei do silêncio e do terror” que impõem às suas vítimas, bem como do receio dos expectadores, que temem se transformar na próxima vítima. Tem como peculiaridade a propriedade de causar traumas ao psiquismo de suas vítimas e envolvidos.
Leia mais:O autor ou autores das agressões geralmente são pessoas que têm pouca empatia, tem alto poder de persuasão frente aos colegas, pertencem a famílias desestruturadas psicologicamente, onde o relacionamento afetivo entre seus membros tende a ser precário. O alvo dos agressores, geralmente são pessoas pouco sociáveis com baixa capacidade de reação ou de fazer cessar os atos prejudiciais contra si. Possuem forte sentimento de insegurança, o que os impede de pedir ajuda.
O cientista Dan Olweus define bullying em três situações: o comportamento é agressivo e negativo; é executado repetidamente; e ocorre num relacionamento onde há desequilíbrio de poder entre as partes envolvidas. O agressor tem como característica forçar a vítima ao isolamento social. Tem ocorrido em áreas com supervisão mínima ou inexistente.
Este isolamento é obtido através de vasta variedade de técnicas, que incluem: espalhar comentários; recusa em se socializar com a vítima; intimidar outras pessoas que desejam se socializar com a vítima; criticar o modo de vestir ou outros aspectos socialmente significativos incluindo a etnia da vítima, religião, incapacidades, etc.
Não podemos nos esquecer que existem consequências negativas tanto para os agressores, quanto para as vítimas e para os expectadores. O fenômeno bullying tem caráter comportamental.
Atinge a área mais preciosa, íntima e inviolável do ser humano, a sua mente. Interfere negativamente no processo de aprendizagem e de desenvolvimento da vítima pela excessiva mobilização das emoções de medo, de angústia e de raiva reprimida.
Para as “vítimas” as consequências são graves e abrangentes promovendo na escola déficit de concentração e aprendizagem, queda do rendimento e evasão escolar. No âmbito da saúde física e emocional ocorrem baixa na resistência imunológica e na auto estima, estresse e sintomas psicossomáticos.
Para os “agressores” ocorre distanciamento e falta de adaptação aos objetivos escolares, supervalorização da violência para obtenção de poder, desenvolvimento de habilidades para futuras condutas delituosas. Para os “expectadores” a consequência é a insegurança, ansiedade, estresse e comprometimento do processo sócio educacional.
Os colegas de turma têm o alivio de não serem o foco do agressor, por isso se adaptam à situação, se portando como apoiadores inconscientes, ou mesmo se omitindo com o seu silêncio, tentando mostrar que tudo se encontra dentro da normalidade ao seu entorno.
Na escola, a vítima não encontra ambiente favorável, tenta sem sucesso se reintroduzir num grupo que não a aceita. Se o comportamento do agressor não for notado a tempo, a gestão escolar passa a ser mais um fator dificultador caso não consiga perceber a prática do bullying com essa vítima.
Elliot e Kilpatrick (1994) identificaram efeitos danosos ao curto e longo prazo para as vítimas. Ao curto prazo causa retraimento, perda da confiança em si próprio, déficit de concentração, absenteísmo e medo de ir à escola. Ao longo prazo provoca sentimento de culpa e de vergonha, ansiedade, depressão, isolamento social e timidez exagerada. Até tentativas de suicídio ou homicídio.
* O autor é especialista em cirurgia geral e saúde digestiva.