Os aplicativos de carona se tornaram uma alternativa viável para uma série de trabalhadores, utilizando seu próprio carro ou, muitas vezes, alugando um automóvel para usar como instrumento laboral, para conseguir complementar a renda. Acontece que, com a crise econômica que o Brasil passa, refletida no preço do combustível e em outros itens, tem se tornado cada vez mais difícil lucrar como motorista de “app”.
As altas taxas cobradas pelas operadoras dos aplicativos também se tornam um peso na balança, principalmente entre os apps mais populares, o que faz motoristas como Junior Gonçalves, de Parauapebas, procurarem alternativas no “mercado” de aplicativos, se organizando junto a outros colegas de profissão para manifestar seu descontentamento.
Ele explica que o aplicativo 99, do qual é cadastrado como motorista, cobra uma taxa entre 27% e 30% em corridas de valor baixo, até R$ 12. Quando o valor chega aos R$ 30, o valor taxado pode ser de mais de 40% da corrida. “Agora, com a gasolina nesse preço, e muitos de nós [motoristas de aplicativo] tendo que gastar com aluguel de carro ou prestação [do pagamento do carro próprio], não tem lógica”, diz Junior, indignado.
Leia mais:Quando se fala em combustível, inclusive, a situação não é nada favorável: o reajuste no preço da gasolina, em relação ao último mês de outubro, chegou a 35 centavos em média na Capital do Minério. O valor reajustado foi ainda maior para o diesel: 57 centavos.
Segundo a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), o reajuste acumulado no ano de 2022 chegou a 49,6% para a gasolina e 48,5% para o diesel, causado principalmente pelo aumento na demanda do barril de petróleo no mercado mundial e a desvalorização da moeda brasileira em relação ao dólar estadunidense.
BOLO DE POTE PRA COMPLEMENTAR
Elza Nunes, também motorista de aplicativo, diz ter abastecido 20 litros de gasolina, e após dois dias de trabalho, ainda não conseguiu cobrir o valor investido no combustível. “Muitas vezes o passageiro reclama, fica chateado que a gente tem que cancelar algumas corridas. Por conta disso, não temos como fazer uma corrida tão longa com o preço da gasolina e a taxa do aplicativo elevados”, conta, afirmando que complementa sua renda vendendo bolo de pote e salada de fruta para conseguir pagar o financiamento de seu carro.
Com as condições adversas acumuladas pelos motoristas de aplicativo, o que resta a eles é continuar trabalhando e contar com o apoio da clientela ao que diz respeito às chamadas não atendidas; o que é barato para o consumidor acaba se tornando muito caro para o trabalhador.
(Juliano Corrêa e Ítalo Almeida)