Quem tem passado pela Folha 32, na Nova Marabá, nos últimos dias, percebeu que mais um grupo de venezuelanos chegou à cidade. Acampados no canteiro de uma das ruas, bem próximo do Terminal Rodoviário, cerca de 20 pessoas, sendo 11 crianças, estão ali ao relento há cerca de quatro dias.
A equipe do Correio de Carajás esteve no local na manhã de sexta-feira (1º) e conversou com um deles. Robby, de 28 anos, é um dos poucos que consegue se comunicar, mesmo com dificuldade, com os brasileiros. Acompanhado de familiares, eles estão na rua, dormindo em cima de caixa de papelão e vivendo com a ajuda que recebem das pessoas que se comovem com a situação.
Ele disse que veio para a Marabá para trabalhar, pois a situação está muito difícil na Venezuela. “Ficar aqui está melhor do que lá”.
Leia mais:Questionado pela reportagem o porque de terem vindo para a cidade, ele afirmou que os outros venezuelanos que estão aqui são parentes deles. “Eles falaram pra gente da casa”, conta.
De acordo com Robby, uma equipe da prefeitura esteve no local e falou que eles iriam ser levados.
Prefeitura
Procurada pelo CORREIO, Nadja Lúcia Lima, secretária de Assistência Social de Marabá, afirma que desde a última quinta-feira (30) uma equipe da secretaria está atuando para resolver a situação dos venezuelanos.
De acordo com Nadja, todos os acolhimentos da cidade estão lotados. “Então nós ligamos para Parauapebas que recebe recursos e tem acolhimento disponível lá. Conseguimos que eles fossem recebidos lá, providenciamos o ônibus e na hora de ir busca-los eles não quiseram ir”, afirma.
A secretária explica que não tem conseguido arranjar casas para alugar para abrigar os venezuelanos. “Ninguém quer alugar casa pra eles”.
Foi perguntado aos venezuelanos para onde eles queriam ir, pois em Marabá não tinha como eles ficarem. E segundo Nadja, eles decidiram ir para a cidade de Moju. “Vou mandar deixar eles ainda hoje lá”, finaliza.
Entenda
Desde o início da crise política e econômica na Venezuela, cerca de 5,4 milhões de cidadãos deixaram o país. Segundo o dado mais recente da R4V, plataforma que reúne organizações da sociedade civil e da ONU para imigração, há 261.441 refugiados e migrantes venezuelanos no Brasil.
O número de venezuelanos desabrigados em Pacaraima, cidade no estado de Roraima, na divisa com a Venezuela, explodiu —já são 4.015, alta de 243% em relação a maio, mês anterior à reabertura da fronteira.
Segundo levantamento da Organização Internacional para as Migrações (OIM) referente a agosto, entre os desabrigados há 2.065 migrantes e refugiados do país vizinho dormindo nas ruas do município de 18 mil habitantes —seria como se a cidade de São Paulo tivesse 1,32 milhão de refugiados vivendo nas calçadas.
Há, ainda, 1.695 em ocupações em espaços públicos e 255 em locais privados cedidos. Os dois abrigos da Operação Acolhida, liderada pelo Exército, estão lotados, de acordo com a Casa Civil —o BV-8, com capacidade para 2.000 pessoas, abriga 1.985, e o Janokoida, no qual cabem 400, tem 497 indígenas. (Ana Mangas)