Uma comissão formada por proprietários de bares, restaurantes e academias se reuniu no final da tarde desta quinta-feira (26) com representantes da Prefeitura Municipal de Parauapebas e da Câmara de Vereadores após uma manifestação pacífica em frente ao prédio do Poder Executivo, no Jardim Canadá.
O objetivo do protesto era discutir as medidas que restringem ou impedem – no caso do lockdown em vigor até domingo (28) – o funcionamento dos setores. Nazareno Silva, proprietário de um bar e restaurante, por exemplo, afirma entender a necessidade do fechamento para que haja um alívio no atendimento das unidades hospitalares, mas quer que sejam revistos os modelos de decreto quando o município relaxar as medidas novamente.
“Queremos igualdade para todos. Se o lockdown tiver que ser por mais sete dias, que seja, que seja mais vinte dias para que a coisa ande e as autoridades consigam abrir mais leitos de UTI e nossos médicos consigam diminuir o número de óbitos nos hospitais, mas quando abrir que se tire essa narrativa de horário de abertura, isso não funciona, o que funciona é o distanciamento”, afirma.
Leia mais:Conforme ele, a redução do horário de atendimento nos estabelecimentos acaba criando mais aglomeração. “O horário tem que ser estendido para que as pessoas possam fazer o distanciamento que a ciência pede. Do contrário, as pessoas saem num horário só, aglomeram e o dono do bar, na ânsia de vender um pouco mais porque o tempo dele é muito curto, acaba permitindo aglomeração”, declara.
Nazareno afirma empregar 22 pessoas, parte delas como diaristas e que está sem pagamento por não poder trabalhar. Além disso, diz estar deixando de repassar pagamentos para músicos, técnicos de som e fornecedores. “É um efeito dominó”, comenta. Por fim, afirma que a classe gostaria de ser chamada para debater as decisões.
“Eles decidem sem conversar com ninguém, decretam e pronto. A ideia é darmos nossa opinião, a gente pode trazer a experiência do bar, do restaurante, de dentro pra fora, para eles entenderem como funciona. Muitas vezes as pessoas que estão por trás da elaboração de um decreto não têm conhecimento de como é a vida de um dono de um bar”.
Já o personal trainer Bruno Henrique Oliveira da Costa, que atua como autônomo, defende a atividade física como essencial, citando a existência de estudos que a indicam como importante no combate à infecção pelo coronavírus.
“A academia é um local onde as pessoas vão para obter saúde e sabemos que a prática de atividade física ajuda no combate à covid-19. Tratam a academia como se as pessoas fossem lá apenas buscar estética, mas existem muitas que buscam saúde, pessoas que tratam de problemas do coração, pessoas que sofrem de obesidade, com índice glicêmico alto, com diabetes… nós sabemos que essas comorbidades aumentam os riscos da covid-19”, declara.
O profissional acrescenta que, além disso, o lockdown também complica a vida financeira de quem atua no setor. “O aluno me contrata, eu vou na academia e dou aula pra ele. Se a academia está fechada, o aluno dificilmente vai querer treinar em casa porque ele não tem equipamento. Eu estou sem dinheiro!”, diz, criticando os auxílios emergenciais cujos valores considera baixos. “Quinhentos reais não paga meu aluguel. É vergonhoso”.
Bruno Henrique defende que para haver lockdown a medida deve ser levada a sério e não apenas uma parcela da comunidade pagar o preço enquanto ônibus continuam circulando lotados e empresas grandes seguem funcionando. O personal finaliza destacando que as academias vinham cumprindo horário estipulado, respeitando a lotação e fornecendo álcool em gel, além de fiscalizar a obrigatoriedade do uso da máscara.
O Correio de Carajás procurou a assessoria de comunicação da Prefeitura Municipal de Parauapebas, a qual encaminhou nota informando que na reunião foram discutidas as medidas de enfrentamento à covid-19 e o decreto que restringiu a circulação de pessoas e o funcionamento de estabelecimentos. “As sugestões apresentadas serão colhidas e avaliadas junto ao comitê de crise que monitora o avanço da covid em nosso município”, diz o posicionamento.
OUTRAS MANIFESTAÇÕES
Também nesta quinta a Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Parauapebas emitiu carta aberta apelando para que a administração pública não renove o período de lockdown na cidade após o domingo. A entidade afirma que a solicitação visa evitar uma onda de desemprego e fechamento de empresas, dois fenômenos que já ocorreram durante a crise provocada pela pandemia de coronavírus na cidade.
Na quarta, comerciantes e funcionários fecharam a entrada da Rua do Comércio, no Bairro Rio Verde, também em protesto contra o lockdown. Segurando faixas que defendiam o comércio como essencial para a sobrevivência das famílias, os manifestantes se posicionaram no semáforo e muitos motoristas que passavam pelo local buzinavam em apoio às pessoas que participavam da manifestação.
Na última terça-feira (23), a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) – Subsecção Parauapebas e a Associação Médica de Carajás (AMC) emitiram notas cobrando responsabilidade da Vale, que não teria sofrido alterações nas atividades, no contexto da proliferação do coronavírus. As entidades cobraram provas de que os devidos cuidados estão sendo tomados pela mineradora. (Luciana Marschall)