Correio de Carajás

Marabá perde o escritor memorialista João Brasil Monteiro, aos 95 anos

A literatura paraense e a memória histórica do Município de Marabá acabam de perder um de seus grandes expoentes. Faleceu na madrugada deste sábado (13/3), em leito do Hospital Unimed, o escritor João Brasil Monteiro, aos 95 anos. Sua vasta obra e histórias imortalizadas em seus livros ficam como registro de uma Era, traduzindo a vida real, pessoas simples e o cotidiano de sua gente.

Sempre conhecido por sua vitalidade e raro histórico de hospitalizações, seu João passou mal na noite de sexta-feira (12), em casa, e foi levado ao hospital com quadro de infecção urinária. Mais tarde, não resistiu a três paradas cardíacas e faleceu por volta das 4 horas da manhã, como relata João Brasil Filho.

João Brasil Monteiro nasceu em Altamira, também no Pará, em 25 de setembro de 1926, mas teve sua trajetória toda ligada a nossa região sudeste do Estado. Aqui, juntamente com sua amada Dona Isabel – falecida em 2018, aos 89 anos –, formou a sua família. Era pai de: Vera Lúcia Macedo Monteiro, Regina Célia Morais, Nilza Macedo Monteiro, Cléa Maria Sidão, Elizabete Macedo Monteiro, João Brasil Monteiro Filho, Wilde Araújo e Wilma.

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Era o mais ilustre morador Trav. Santa Terezinha, na Marabá Pioneira, onde vivia até hoje.

Ele foi condutor marítimo das embarcações de castanha, ofício que aprendeu ainda na adolescência, também escritor, historiador e, na política, foi vereador em Jacundá e em Nova Ipixuna, e três vezes prefeito de Itupiranga.

Até a metade da década passada ainda vendia pessoalmente seus livros na Praça Duque de Caxias, para onde ia com um banquinho e um varal, expor seus escritos e contar suas histórias. Fez isso até que o Alzheimer começou a afetar a sua memória. Segundo a família, nos últimos anos ele tinha grande dificuldade de lembrar de acontecimentos mais recentes e de algumas pessoas. Mas até o fim da vida manteve o mesmo sorriso, as brincadeiras, a leveza no trato.

LITERATURA

Na literatura, escreveu 11 livros. Em 2009 foi reconhecido nacionalmente como Mestre da Cultura Popular Brasileira (Ministério da Cultura), no projeto Ação Griô, desenvolvido pelo GAM.

Era membro fundador da Academia de Letras do Sul e Sudeste Paraense (2008) e da Academia de Letras de Marabá (2014), ocupando em ambas a cadeira número 1.

Em 2019 teve o seu livro “Mair-Abá – Coração de mãe” editado e impresso pela Imprensa Oficial do Estado, a partir da escolha dos produtores literários da região sudeste e de Marabá, após reuniões com integrantes da Ioepa. O lançamento contou com escritores, escritoras, autoridades e professores.

João Brasil era um memorialista. Sua obra é conhecida por promover o resgate de boa parte da história de Marabá, falando da atuação de autoridades e também registrando a vida de pessoas simples, mas que contribuíram para o desenvolvimento da cidade.

Amiga pessoal e colega de Academia de Letras, a professora Eliane Soares (Unifesspa) também tem pesquisas escritas analisando a obra de João Brasil. “Para mim foi uma grande honra estudar o trabalho dele”, disse ao Correio de Carajás.

“Me tocou muito, sempre, a vontade dele de contar as histórias de Marabá. Eu sempre achei fantástica a atitude dele de vender livros na praça. Uma pessoa vender livros na rua, no Brasil, é de uma coragem, de uma ousadia impressionante”, relembra Eliane, destacando, ainda, que apresentou a sua pesquisa sobre João Brasil em vários congressos no Brasil e na Europa (Portugal, Espanha e Itália).

FUNERAL

Embora não tenha morrido por covid-19, o momento de alastramento da doença preocupa a família, que decidiu promover o velório de forma reservada, não aberta ao público. O sepultamento será neste domingo (14), no Cemitério São Miguel, na Marabá Pioneira, no mesmo túmulo de dona Isabel, às 17 horas. (Patrick Roberto)