Correio de Carajás

Mulher espancada por marido

Na manhã desta sexta-feira (22), por volta das 8h30, quando as ruas da cidade já estavam quase esvaziadas, assim como órgãos públicos, por conta do jogo da Seleção Brasileira, a dona de casa estava sentada na calçada em frente à 21ª Seccional Urbana de Polícia Civil em Marabá, aguardando o momento de ser atendida. Com os olhos em lágrimas e o rosto coberto de hematomas, ela estava ali para denunciar o seu companheiro, Andrade Soares de Souza, com quem já vive há cerca de 10 anos.

Duas covardias são atribuídas a ele: a primeira é óbvia, está exposta no rosto da dona Rita. O olho roxo e inchado; e o sangue pisado misturado às lágrimas são a prova material de que uma violência física foi cometida ali.

Mas a segunda covardia não apresenta dimensão externa, pois está inscrita na motivação para tamanha violência. Segundo a vítima, o acusado estava bebendo desde a noite de quinta-feira, enquanto a filha deles, de 10 anos, que é especial, está internada no hospital. Rita pediu para ele ficar um pouco com a criança para que ela pudesse descansar, pois ela estava vários dias no hospital com a filha.

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Bastou esse pedido para que Andrade partisse para cima de sua companheira e lhe agredisse a socos, quase lhe deformando o rosto, o mesmo rosto que um dia ele beijou. “Ele fez foi me bater no meio da rua. Se não fosse minhas amigas lá, ele tinha me matado”, denunciou para a Imprensa.

A mulher conta que logo depois da agressão ela chamou a polícia, enquanto o acusado fugiu, mas depois que os policiais foram embora, ele voltou. Isso obrigou dona Rita a ir embora da própria casa, na Folha 8 (Nova Marabá), temendo por sua segurança. “Não dormi dentro da minha casa; dormi na casa de outra filha minha”, relata.

Pergunta se esta foi a primeira agressão física cometida pelo companheiro, ela respondeu que sim, mas observou que ele sempre foi muito agressivo. “Ele já tinha prometido me bater. Quando ele bebia, eu ia para casa da minha filha com medo de ele fazer alguma coisa comigo”, contou Ana Rita.

A vítima deixou claro que vai fazer os procedimentos legais contra o companheiro e não vai mais viver debaixo do mesmo teto com o agressor. “Não quero viver com ele mais não… Esse tempo todo eu passei foi sofrendo; eu e meus filhos, que têm medo dele”, revelou.

DA VIOLÊNCIA

O segundo crime contra a pessoa mais denunciado ao Disque Denúncia Sudeste do Pará, com sede em Marabá, é a violência contra a mulher. Em uma cidade onde é comum os cidadãos terem medo de sair de suas residências tarde da noite e onde homicídios, tráfico de drogas e roubos estampam as páginas policiais todos os dias, é dentro de casa que mora um dos maiores perigos. Esse, no entanto, persegue uma vítima específica: ela.

Diferente das demais formas de violência, essa também tem outra característica única. O agressor é sempre uma pessoa conhecida, alguém de confiança, que divide o mesmo teto e – novamente de forma particular – na maioria absoluta das vezes um homem.

Além de praticar a violência, a maior parte dos agressores – 52,13% – faz uso de álcool ou drogas, como foi o caso de Andrade Souza denunciado por Ana Rita na manhã de ontem.

Saiba mais

O Sistema de Indicadores de Percepção Social – SIPS, do IPEA, em edição sobre tolerância social à violência contra as mulheres traz dados surpreendentes, como, por exemplo, o fato de que mais de 6 em cada 10 pessoas concordam parcial ou totalmente com a afirmação “Mulher que é agredida e continua com o parceiro gosta de apanhar”. Um exemplo de que o machismo ainda impera em nossa sociedade.

(Chagas Filho)