É quarta-feira. Logo cedo, bem antes das 8 horas da manhã, o dono chega, abre as portas, levanta as prateleiras, pega os principais produtos e coloca no mostruário. Depois, vai num carrinho de lanche ali perto, compra um café, beiju e volta, senta numa cadeira de plástico e come sossegadamente à espera dos primeiros clientes.
A descrição acima parece de um lojista tradicional do comércio varejista de um dos três maiores núcleos de Marabá. Todavia, estamos falando de um dos diversos vendedores ambulantes que vão surgindo na cidade aos poucos. São os Mobile Store, ou simplesmente carros que se transformaram em lojas ambulantes. Já estão presentes nos núcleos Marabá Pioneira, Cidade Nova e Nova Marabá, embora haja informações que no São Félix eles também façam pit stop.
A Reportagem do CORREIO DE CARAJÁS foi às ruas para mapear os vendedores que usam a criatividade e investem o pouco que têm para transformar seus veículos em loja, estacionando bem cedo em pontos estratégicos às proximidades de agências bancárias e do comércio formal, por onde passam diariamente milhares de pessoas. Alguns deles pagam alvará à Prefeitura de Marabá, enquanto outros atuam na informalidade e até têm medo da aproximação de equipe de reportagem, temendo saírem da “invisibilidade” e serem incomodados pelos fiscais da Secretaria de Gestão Fazendária.
Leia mais:Um dos exemplos clássicos deste segmento em Marabá é o de Lázaro José da Silva, que vende acessórios para veículos, como capas para volante, assento e limpadores de para-brisa. Atuando como vendedor ambulante há mais de 20 anos, ele diz que trabalha de segunda a segunda, das 8 às 18 horas.
Lázaro e a esposa ficam no estacionamento da VP-8, próximo à prefeitura, local em que estaciona sua loja-camionete há 10 anos. Ele elogia o “ponto” em que a Prefeitura o colocou, considerando estratégico e de grande visibilidade para atender os clientes. “Antes, quando a gente ficava em frente ao antigo Bradesco, na Nova Marabá mesmo, era no meio da rua e de difícil acesso para os interessados nos produtos. Agora, num estacionamento amplo, é bem melhor”, elogia.
Lázaro também revende seus produtos para outros ambulantes que percorrem a cidade, mas enfatiza que não tem funcionários. Apesar de ter montado sua loja móvel entre duas vias públicas, ele é um Microempreendedor individual (MEI), com CNPJ e alvará da Prefeitura para atuar como vendedor ambulante na modalidade Mobile Store.
Mas nem todos que estacionam seus veículos em locais públicos para comercializar produtos estão regularizados, como Lázaro. Muitos ainda trabalham informalmente e tiveram medo de falar com a Imprensa, temendo ser alvo de fiscalização rigorosa da prefeitura e terem a mercadoria apreendida, perdendo a única fonte de renda que possuem.
O velho Uno de Adriana Pereira, ambulante há 16 anos, transformou-se em loja ambulante. Ela o estaciona nos arredores da Praça São Francisco, no Cidade Nova, logo bem cedinho. Procura um local estratégico que esteja vago. Num milagre comercial, ela estende um fio bem grosso e consegue levar energia elétrica para sua loja para atender melhor os clientes.
O velho Uno passou por uma adaptação criativa, com ferragem no teto, nas laterais, à frente e atrás. A montagem leva menos de meia hora e as prateleiras com capas e carregadores para celulares, calcinhas e até vestidos ficam expostos para apreciação da clientela que passa pela rua, calçadas e na praça, em frente ao Magazine Luíza. Guarda sol e papelões ajudam a diminuir o impacto do sol nos produtos, mas em caso de chuva…
Ela lamenta que não haja uma organização oficial para apoiar os ambulantes em Marabá, de forma geral. “Eu não posso trabalhar com outra coisa. Sou deficiente auditiva. Meu filho me ajuda aqui. Ele está com clavícula quebrada e marido tem problemas na coluna. Com essa banquinha em cima desse carro, que você está vendo aqui, a gente sustenta uma casa com quatro pessoas, três cachorros e cinco gatos”, diz lamentando que a ração também está muito cara.
Ao ser questionada sobre como adquire os produtos que vende, Adriana diz que faz encomendas de roupas intimas de Goiânia (GO) e as capinhas de celular e carregadores vêm de Imperatriz (MA).
Na Velha Marabá, também em torno da Praça Getúlio Vargas, há 12 anos Adeilton do Carmo vende acessórios para celular como capinhas, películas e carregadores, além de conserto de celular. Ele adaptou uma Kombi, que funciona como loja e oficina, ao mesmo tempo. O casal de filhos se revezam com Adeilton no decorrer da semana para ajudar no serviço.
Ele reconhece que há dias bastante ruins para o negócio, mas agradece por tudo que conquistou com o trabalho que desenvolve, com o qual sustenta sua família. “Mais recentemente, o negócio ficou melhor, porque passamos a obter os produtos com um fornecedor que tem sede em Marabá. (Henrique Garcia e Ulisses Pompeu)