Correio de Carajás

Transporte coletivo: Novas regras causam polêmica

Uma prática tem se tornado comum no transporte coletivo e causado polêmica entre usuários de Marabá nos últimos dias. Agora, os passageiros estão sendo avisados de que não podem mais sair pela porta da frente do ônibus, sendo necessário passar pelas duas catracas instaladas no interior do veículo. A norma, que já era válida para a maioria dos passageiros, agora vale também para pessoas com deficiência e idosos, que muitas vezes não passavam nem pela primeira catraca, dada a dificuldade na locomoção. Muitas pessoas pegas de surpresa pela mudança procuraram o CORREIO para reclamar das empresas TCA (Transportes Coletivos de Anápolis) e Nasson Tur.

Algumas das reclamações partiram de mães que usam o transporte público com os filhos ainda pequenos que alegam ter muita dificuldade para passar pelas duas catracas, após a aplicação da regra. Outra reclamação tem apontado para o tom agressivo que estaria sendo adotado por alguns funcionários das empresas que, segundo os usuários, têm agido com falta de educação e truculência para fazer com que a nova ordem seja cumprida.

Para tirar essa história a limpo, a equipe de reportagem do CORREIO esteve nas ruas de Marabá nesta segunda-feira (18) para ouvir algumas pessoas sobre como elas têm reagido e o que acham da norma que passou a vigorar no transporte coletivo da cidade.

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“Eu estou achando pior para o idoso, pessoas com deficiência, quem anda com criança de colo, porque tem que passar por duas catracas. Eles [empresários] deveriam deixar como estava antes. Na verdade, melhorar, porque o transporte público de Marabá está horrível, você passa de duas a três horas em uma parada”, disse a marabaense Gilvani Xavier.

Junto com a nova medida, a diretoria das empresas de ônibus também esclareceu que as gratuidades (só) serão aceitas mediante a apresentação do VT Card de Gratuidade, o que para o aposentado Expedito Nonato de Souza também dificulta o acesso das pessoas ao coletivo.

“Antes de ontem eles largaram uma senhora de idade na parada, porque ela não tinha o VT Card. Ela até mostrou a identidade e eles falaram que isso não era aceito mais. Então ela ficou na parada das 9h até às 12 horas esperando um coletivo que levasse ela”, relatou. Para ele, a cada dia que passa, a situação do transporte público fica pior.

Mudança

A regularização das gratuidades por meio do VT Card foi discutida em reunião, que aconteceu no último dia 15 de junho, sexta-feira passada. Segundo a diretoria da Rede de Transporte Coletivo de Marabá (RTCM), as medidas foram necessárias para sanar um grande problema que as empresas vinham enfrentando.

“A Lei Orgânica do Município fala da gratuidade e nos respeitamos isso. Ela diz o seguinte: ter o direito da gratuidade para as pessoas portadoras de deficiência física, com reconhecida dificuldade na área locomotora, criança de até oito anos de idade, escoteiros uniformizados quando no exercício de suas atividades, policiais civis, militares e bombeiros militares, quando legalmente identificados. Até então, nunca deixamos de atender a essa demanda. O que acontece é que hoje está havendo uma avalanche de pessoas saindo pela porta da frente”, afirma o empresário João Martins.

Diretor do sistema alega que empresas estão saindo no prejuízo

De acordo com o diretor da RTCM e empresário do setor, a falta de controle sobre quem desce pela porta da frente dos ônibus tem influenciado diretamente nas finanças das empresas e causado prejuízos. “Até mesmo as pessoas que não têm nenhuma dificuldade estão saindo pela porta da frente. Às vezes, elas dão dinheiro aos cobradores e não gira a catraca. Então, isso está impactando na receita das empresas e dificultando também o embarque de outros usuários, e até na questão de segurança do motorista”, revelou.

Ele explicou também que estão sendo feitos testes nos cartões gratuidades e que os funcionários estão sendo treinados para lidar com a mudança, e com os usuários do transporte público. “Inclusive, já foram enviados aos policiais civis e militares, corpo de bombeiro militar, grupo de escoteiros e desbravadores e, Câmara Municipal de Marabá e ao Ministério Público Estadual sobre a mudança”, frisou.

O empresário disse ainda que quem tem direito à gratuidade poderá ser transportados na parte da frente do ônibus até o dia 15 de julho sem a apresentação do cartão correspoindente, mas que após essa data isso não será mais permitido. “Nós estamos fazendo um projeto piloto e reuniões com os nossos colaboradores. A gente quer implantar tudo até o dia 15 de julho”, ressaltou.

Sem arbitrariedade

O diretor das empresas explicou, no entanto, que pessoas que visivelmente não têm condições de passar pelas duas catracas, serão permitidas a descer pela porta da frente. Para isso, o trocador ou motorista terá que redigir uma observação e entrega-la à coordenação, após finalizar o turno. “E uma pessoa que está com obesidade? Nós vamos ver as câmeras instaladas dentro dos ônibus e entender, a partir da observação, que a pessoa não pôde passar na roleta”, garantiu.

Os idosos acima de 65 anos e pessoas portadoras de deficiência física, com reconhecida dificuldade na área locomotora, segundo a norma, devem sair pela porta traseira do veículo e, caso ainda não obtenham o VT Card de Gratuidade, a diretoria recomenda que providenciem o quanto antes.

 

(Nathália Viegas)