Correio de Carajás

Quando chega a hora de dizer um “adeus”

Andamos dizendo adeus aqui, ali, um adeus a cada dia, cada instante, cada coisa. Adeus dia, adeus noite! Adeus fim de semana, adeus domingo! Adeus lua cheia, adeus chuva, adeus florzinha murchando. Adeus, amor! Adeus é uma palavra perturbadora, complexa, sutil; quer dizer na nossa língua uma separação longa, ou para sempre, encomendando algo a Deus, entregando algo em Suas mãos. Tão diferente de tchau, Até mais, Até breve, Até amanhã! Fique com Deus, que Deus te acompanhe, significa a palavra adeus; mas também pode ser uma expressão de lamento numa perda, numa lembrança, Adeus juventude! Adeus férias! Adeus paraíso! Ou alívio: Adeus sapato apertado, Adeus solidão!

Dizer adeus pode ser um recomeço. Pode ser um gesto de coragem, ou de generosidade, ou mesmo um gesto de amor. Se digo adeus a algo bom, a algo que amo, a algo que desejo, é um adeus triste; mas se digo adeus a uma tristeza, o adeus é não apenas bom, como precioso. Há adeuses e adeuses.

A primeira música que aprendi a tocar na flauta, eu tinha uns 16 anos, foi “Adeus, amor, eu vou partir”… E uma das minhas preferidas canções na adolescência, “Adeus, vou pra não voltar e onde quer que eu vá sei que vou sozinho” (Torquato e Edu); eu a ouvia como uma música de amor perdido, Vem! Nem que seja só pra dizer adeus. Dizem que Torquato estava se despedindo da vida.

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Sei que é muito difícil dizer adeus ao que amamos. Minhas despedidas das irmãs que moram lá no fim do mundo sempre foram emocionais. Mana, I love you! Gritaram do outro lado do aeroporto e ainda escuto, até hoje, tantos dias depois.

Queremos ter todos conosco, mas o mundo e nossos corações andam a cada dia mais repartidos em pedaços. Adeus, Marabá, estou voltando para Macapá. Coisas assim, de repente, nos surpreendem.

Tão bom quando um amigo nos abraça e diz que nunca vai nos dizer adeus: “Se depender de mim, nunca vamos nos separar”. Muito bom imaginar algo perene, invertendo o sentido da natureza, da vida. Acreditar que nada muda, nada passa. Mas também é bom ir adiante, renovar, recomeçar, reencontrar… Tem gente que vai logo dizendo adeus, com medo de ouvir alguém lhe dizer adeus. Tem gente que diz adeus e repete, adeus, uma vez apenas não basta.

Na hora do adeus, você pode dizer: Este adeus é pelos últimos dez mil anos. Do mundo nada se leva. Para onde for, levarei teu olhar, levarás minha saudade. Este é um adeus ou uma curva do caminho? Não se preocupe comigo, adoro ficar só. Não saberei nunca dizer adeus. Nada resta de mim que seja meu. Viajo com o meu coração. Minhas velas ao mar. Adeus.

Na próxima semana, uma amiga querida deixa a Redação do CORREIO DE CARAJÁS. É Ana Mangas, repórter que acaba o segundo ciclo de sua passagem por aqui. O coração fica triste, apertado, mas as motivações justificam a saída, o adeus.

A galera até fez um bota-fora para ela esses dias, mas eu acabei fugindo um pouquinho antes, porque acho que não iria aguentar. Às vezes, dizer adeus dói mais do que a gente acha que aguenta.

Espero que 2024 seja ano de pouco adeus, ou pelo menos que outras pessoas importantes no meu convívio não partam. Ainda que para perto, ainda que para bem ali, na Fundação Casa da Cultura.

Diga adeus, se não quiser mais ver a pessoa. Ou diga, Até logo, na esperança de um reencontro. Deixar nossa casinha, deixar nossa vidinha, nossa rotina, enfrentar uma viagem, uma mudança de rua, bairro, de amor, desejo, emprego, de um vestido velho confortável, de praia, livro, todo adeus é difícil.

Por enquanto, não quero dizer adeus a meus leitores, meus colegas de jornal. Ainda tenho vontade de escrever sobre a vida, sobre detalhes dela, minúcias que nos incomodam ou nos fazem dar mil gargalhadas.

Observação: As opiniões contidas nesta coluna não refletem, necessariamente, a opinião do CORREIO DE CARAJÁS.